A Escola Que Ensinou o Comércio: A História da FECAP

O dia 2 de junho é uma data comemorativa para uma importante escola de comércio da cidade de São Paulo.  Trata-se da Fundação Escola de Comércio Alvares Penteado ou, como é mais conhecida, FECAP.

Apesar de ter sido fundada no ano de 1902, o projeto para a concepção de uma escola de comércio na cidade de São Paulo é um pouco mais antigo.  No ano de 1897, um vereador municipal chamado João Pedro da Veiga Filho foi procurado por uma comissão formada de representantes do comércio paulistano que era encabeçada por Horácio Berlinck. Eles apareceram com uma sugestão para instalar o ensino do comércio na cidade.

Achando a ideia válida, Veiga levou o projeto à Câmara Municipal de São Paulo onde, por forças do destino, acabou sendo rejeitado sob a argumentação que a cidade não tinha condições financeiras de criar e manter uma entidade dessa magnitude.

Mesmo com essa recusa no plenário, a ideia não morreu. No dia 15 de junho de 1900, o mesmo Berlinck resolveu retomar as discussões sobre o assunto através de um editorial assinado no jornal “Paulista”, que era editado pelo Grêmio de Guarda-Livros de São Paulo. No ano seguinte, mais especificamente em 12 de dezembro de 1901, Veiga Filho publicou “Escola de Comércio em São Paulo”, que teve uma grande repercussão na cidade.

O texto de Veiga chamava a atenção para a renovação que acontecia no mundo industrial e no comércio internacional da época. Além disso, destacava a falta de uma participação mais efetiva e atual do Brasil na organização das atividades comerciais que já aconteciam de maneira bastante intensa. Em linhas gerais, Veiga acreditava que estávamos ficando para trás e precisávamos nos atualizar para continuar crescendo.

Em seu texto, ele afirma:

“ … a classe dos lavradores paulistas desenvolveu tanto a sua iniciativa e atividade que chegou a produzir quasi a metade da exportação brasileira; a classe dos industriais espalhou, por toda parte, formidáveis usinas, vastas instalações executando melhoramentos materiais de grande monta como o cáes de Santos que, franqueando o nosso principal porto marítimo ao comércio do mundo, representa talvez o mais gigantesco empreendimento da América do Sul; a classe dos engenheiros estendeu três mil e quatro centos quilometros de linhas férreas, prosseguindo na construção de outras tantas neste abençoado solo; a classe dos capitalistas fundou bancos de primeira ordem que tem em suas caixas um lastro permanente de mais de cincoenta mil contos; a classe dos proprietarios levantou ricas e confortaveis vivendas, fazendo como por encanto, a antiga e academica capital paulista transformar-se em formosissima cidade; a classe dos comerciantes, que tem feito? … nada, absolutamente nada! … Consentiu que os estrangeiros se colocassem á frente das principais casas, tanto do grande como do pequeno comércio…” (grafia da época foi respeitada nessa transcrição)

(Fundação Escola de ComércioÁlvares Penteado, 1932, p. 45-46).

Esse mesmo  intelectual ainda acreditava que estávamos “perdendo” a autonomia nacional sobre o comércio, afinal, não era incomum ver que os esforçados imigrantes vinham tendo bom resultados trabalhando por aqui e “dominando” esse segmento. E esse fenômeno acontecia por dois motivos: a preocupação do governo com o segmento financeiro e não comercial e a ignorância da população e dos interessados no tema que, mesmo tendo vontade de trabalhar nesse ramo, não tinha como se educar e preparar para as atividades que os esperavam.

Enfim, Surge a Escola de Comércio

Com toda essa situação exposta, chegamos ao dia 20 de abril de 1902 quando, o projeto da Escola de Comércio, foi apresentado na Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio de São Paulo. A ideia foi abraçada pelo presidente da instituição, Raymundo Duprat, e dos sócios presentes: Horácio Berlinck, João Pedro da Veiga Filho, Antonio de Lacerda Franco, Frederico Vergueiro Steidel e Conde Antonio Álvares Leite Penteado.

De uma maneira geral, pode-se considerar que essa data, 20 de abril, foi a data magna para a constituição da chamada “Escola Prática de Comércio”, tendo como presidente honorário ninguém menos do que o Conde Antonio Alvares Leite Penteado.  No cargo de presidente efetivo o escolhido foi Rodolfo N. da Rocha Miranda, como diretor presidente Antonio de Lacerda Franco, como diretor vice-presidente João Pedro da Veiga Filho e como diretor-secretário Horácio Berlinck.

No dia 2 de junho de 1902, data do aniversário oficial da entidade, foi instalada a Escola Prática de Comércio no prédio nº 36 da Rua São José, atual Líbero Badaró, esquina com a Rua Direita, em um edifício cedido pelo Conde Prates.

Vale destacar que outras instituições colaboraram muito para o surgimento e fortalecimento da Escola de Comércio. É necessário mencionar algumas pessoas e empresas, como: Hermann Burchard, Cristiano Peregrino Viana, Conde Asdrúbal do Nascimento, Prado, Chaves e Cia, Procópio Malta, Hipólito da Silva, Gabriel Cotti, Duprat e Cia, Alexandre Siciliano, José Weissohn, Banco Alemão, Banco Comércio e Indústria, Banco União de São Paulo, Banco de Crédito Real e Banco de São Paulo.

Registro da Escola de Comércio em 1927.

No dia 15 de junho as aulas, enfim, começaram. Eram 216 alunos matriculados e o corpo docente fora escolhido entre professores das escolas superiores e centros financeiros. De maneira bastante rápida, o espaço físico disponível ficou pequeno demais para a necessidade da escola e, assim, foi feito um pedido ao Ministro do Interior, J.J. Seabra, para que cedesse as salas de aula do extinto curso anexo da Faculdade de Direito do Estado de São Paulo, requisição que foi rapidamente atendida.

Obviamente que, com o crescimento da instituição, ela foi modificada e passou a ser uma pessoa jurídica, sendo conduzida por uma diretoria e pela respectiva congregação. A Escola de Comércio funcionava como curso livre e poderia ser frequentada por qualquer aluno que estivessem em outras instituições ou que já tivessem concluído o curso secundário.

Escola de Comércio sem data.

Todavia, como exigia presença e frequência granjeou uma respeitabilidade significativa e foi obrigada a distribuir os alunos em diversas turmas, além de articular os seus cursos obedecendo à legislação educacional vigente.

No ano de 1905, já com a escola bastante prestigiada, foi necessário construir um grande prédio para abrigar as necessidades dos alunos, professores e do aprendizado em geral.  Foi quando, reconhecendo a utilidade e importância da instituição, o Conde Alvares Penteado doou uma grande área de um terreno e construiu o prédio que passou a obrigar a escola.

Em virtude deste seu gesto em 05/01/1907 a diretoria e a congregação da Escola de Comércio de São Paulo, reunidas em sessão extraordinária, sob a presidência de Antonio de Lacerda Franco, por unanimidade de votos, resolveram alterar formalmente a denominação da escola para Escola de Comércio “Álvares Penteado”. Uma história e tanto de cooperação e busca de um ensino de qualidade!

Quem quiser um pouco mais de infos sobre a instituição, recomendo vir aqui.