Um dos relógios mais antigos da capital, localizado na Praça Antônio Prado, completará 85 anos no ano que vem (2020). Trata-se do histórico Relógio de Nichile, o último sobrevivente de seis peças que foram instaladas na mesma época em outros pontos, como a Praça da Sé e o Largo do Arouche.
A ideia de Octavio de Nichile, idealizador dos relógios, era a de utilizar os instrumentos como espaço para propaganda, uma inovação para a época. O jornal A Gazeta, de 4 de outubro de 1930, destacava a inovação e novidade que estava para chegar à cidade.
Com o título: “Com a nova iluminação, teremos novos relógios”, a matéria destacava vários pontos curiosos para os dias de hoje: a dificuldade das pessoas em conseguir se localizar com relógios imprecisos que estavam espalhados por SP e o descritivo do projeto de De Nichile.
Vale a passagem: “Evidentemente não se podia imaginar invento mais necessario. O relogio do Dr. Octavio De Nichile consiste em duas faces collocadas sobre uma artistica columna, que pousa sobre uma base de cimento amado em forma de trapesio, toda revestida de azulejos. Entre os relogios e a columna, ambos finamente trabalhados, há dois quadrilateros lateraes de uma dupla face, armados em ferro e vidro fosco, tendo na parte interna lampadas electricas para a iluminação nocturna. Nesses, serão feitos os reclames. Esses relogios, alem da sua grande utilidade, ainda veem embellezar as nosas praças, tal a graça do seu aspecto. A conservação dos mostradores está a cargo de pessoal competente”.
Vale dizer que, já em abril de 1930, falava-se em inaugurar os primeiros relógios. Segundo o que pude apurar, os relógios foram inaugurados na seguinte ordem:
Estação Brás, também conhecida como estação Norte;
Largo do Arouche;
Largo São Bento;
Praça Antônio Prado;
Praça Ramos de Azevedo;
Praça da Sé (1º de maio de 1934).
Já no litoral, haviam mais dois, um em Santos (bairro do Gonzaga) e um no Guarujá (Praia de Pitangueiras).
O relógio na Praça da Sé
Em abril de 1934 o jornal Correio Paulistano, por sua vez, trazia uma curiosa fotografia exaltando a construção do relógio De Nichile na Praça da Sé. E o artigo ia além, elogiando a iniciativa, o engenheiro responsável pela obra e a ideia dos relógios públicos.
O mais legal do artigo fica por conta de uma referência a um antigo relógio existente na Praça Ramos de Azevedo e pelos elogios destinados à iniciativa:
“Urgo encarecer aqui a importancia desse empreendimento que veio satisfazer, amplamente, uma das mais sensíveis necessidades da população desta capital, que não dispunha até aqui de uma informação horaria exata, pois os u ltimos relogios, ha pouco desapparecidos de alguns logradouros publicos, pela sua insufficiencia mecanica vinham sendo até prejudiciais a quantos tissem a boa fe de dar credito aos seus mostradores”.
Os trabalhos do relógio da Sé ficaram a cargo de um engenheiro, classificado como competente à época, chamado Amleto Nipote, que fora contratado por De Nichile especialmente para essa obra. O mecanismo do relógio fora fabricado por Vitaliano Michellini.
A inauguração do relógio De Nichile, da Praça da Sé, aconteceu no dia 1º de maio de 1934 com diversas autoridades, entre elas o escritor Rocha Ferreira, que fez a entrega oficial do monumento à cidade.
Com a sua morte, em 1986, a manutenção desse histórico maquinário ficou sob a responsabilidade de seus filhos.
Entretanto, sem o sucesso financeiro imaginado pelo patriarca, o custo ficou para a família. Segundo uma matéria da Veja SP, em 2017 o custo de manutenção do relógio era de R$4.000,00.
O relógio é tombado pela prefeitura desde 1992.
Referências: https://vejasp.abril.com.br/cidades/relogio-de-nichile-centro/
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/3914
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