Se o trânsito da cidade, hoje, é insuportável e a compra de um automóvel se tornou uma coisa comum, não era esse o cenário da São Paulo do final do século XIX e começo do século XX.No mês de novembro de 1891 chegava ao solo brasileiro o primeiro carro motorizado da nossa história. A bordo do navio Portugal, que ancorou no porto de Santos, desembarcava ali um Peugeot adquirido pela incrível cifra de 1.200 francos.
O proprietário era ninguém menos que um jovem chamado Alberto Santos Dumont que, futuramente, seria o Pai da Aviação e, o veículo, era um reluzente modelo com motor Daimler a gasolina, de 3,5 cavalos-vapor e dois cilindros em V, conhecido pelos franceses como voiturette por ser muito parecida com uma charrete.
O famoso inventor, Alberto, acabara cedendo o veículo para o seu irmão mais velho, Henrique, que ficou famoso tanto ao dirigir o veículo quanto por ter feito uma petição requerendo baixa do lançamento do imposto sobre seu automóvel:
“…o suplicante sendo o primeiro introdutor desse sistema de veículo na cidade, o fez com sacrifício de seus interesses e mais para dotar a nossa cidade com esse exemplar de veículo “automobile”; porquanto após qualquer excursão, por mais curtas que sejam, são necessários dispendiosos reparos no veículo devido à má adaptação de nosso calçamento pelo qual são prejudicados sempre os pneus das rodas. Além disso o suplicante apenas tem feito raras excursões, a título de experiência, e ainda não conseguiu utilizar de seu carro “automobile” para uso normal, assim como um outro proprietário de um “automobile” que existe aqui também não o conseguiu”.
Vale como curiosidade que, esse documento deixa bastante claro que, existia outro automóvel no país. O site Carro Antigo pesquisou e chegou à conclusão que o outro “automobile” era do riquíssimo Conde Álvares Penteado.
Nesse começo de século grandes figuras da sociedade paulista faziam fila para adquirir seus veículos, como: Antonio Prado Júnior, Ermelindo Matarazzo, Ramos de Azevedo, José Martinelli e muitos outros.
Como a moda de ter um veículo próprio estava se difundindo rapidamente pela cidade, não demorou para que a prefeitura estabelecesse uma série de regras para as “carruagens sem cavalos”. No dia 26 de outubro de 1900, o então prefeito Álvaro Ramos promulgou a Lei 493, que regulamentava o pagamento de uma taxa obrigatória pelos proprietários de automóveis.
Em 1903, seu sucessor, Antônio Prado, baixou o ato 146, tornando obrigatórios o licenciamento e a inspeção dos veículos e estabelecendo também o limite máximo de velocidade no município, 30 km/ h em áreas descampadas.
Curiosamente, Henrique Dumont, dono do primeiro veículo da cidade, recusou-se a licenciar seu carro e, desse modo, a chapa número 1 ficou com o conde Francisco Matarazzo, que a manteve até sua morte. O primeiro condutor a ser examinado, contudo, foi Menotti Falchi, que viera da Itália no final do século 19 para dirigir, com seu irmão José, a Fábrica de Chocolates Falchi. Menotti recebeu a primeira “carta de condutor” em 1904, quando havia cerca de 84 carros registrados na Capital.
De olho nesse possível mercado lucrativo, a Ford decidiu, em 1919, trazer sua empresa ao Brasil e coube ao grande Henry Ford dizer que: “O automóvel está destinado a fazer do Brasil uma grande nação”. A primeira linha de montagem e o escritório da empresa foram montados na rua Florêncio de Abreu, centro da cidade de São Paulo.
Seis anos depois, em 1925, a General Motors do Brasil também resolveu investir no Brasil e abriu sua primeira fábrica na região do Ipiranga. Poucos meses depois, o primeiro Chevrolet já circulava pela cidade e dois anos depois, a GM iniciava sua instalação na fábrica de São Caetano do Sul.
Entre esse pequeno período que passamos da história paulistana, o barulho dos veículos já faziam parte do dia a dia do paulista. A administração pública, inclusive, já focavam seus esforços em construção de estradas rodagem. O reflexo dessa iniciativa acabou resultando no aumento da frota de veículos. Entre 1920 e 1939, só no Estado de São Paulo, o número de carros de passeio salta de 5.596 para 43.657 e o de caminhões vai de 222 para 25.858.
A indústria automobilística sofreu um duro golpe entre o começo e o fim da segunda guerra mundial. Na ocasião, as importações ficaram extremamente prejudicadas e a frota de veículos do Brasil acabou ficando ultrapassada. As fábricas, por incrível que pareça, só conseguiam montar os veículos aqui, sem a possibilidade de importar peças.
Como Getúlio Vargas proibiu a importação de veículos e criou fortes obstáculos à importação de peças e coube a JK dar o impulso para a implantação definitiva da indústria automotiva do Brasil. E ele fez isso criando o Geia – Grupo Executivo da Indústria Automobilística. A partir de então, a região do ABC se desenvolveria calcada nessas grandes montadoras que, uma após a outra, se instalariam por ali.
A título de curiosidade, vale dizer que o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a fazer um protótipo de um carro. Utilizando um motor de origem inglesa, o inventor paulistano Claudio Bonadei foi o primeiro a, literalmente, montar um carro no Brasil.
O carro acabou pronto em 1905, quando Paulo percebeu um problema: o protótipo era maior que a porta da garagem, que teve de ser alargada. Sem problemas, o inventor derrubou as paredes da garagem e saiu para passear com seu veículo. Uma grande realização à época!
Bom dia, só para registrar o veículo exposto no sitio não se trata de um Peugeot Type 3, e sim um Peugeot Type 15.
Espero ter ajudado, abraço.
Franco
Bom dia Franco, sabe me dizer qual era a marca e o modelo do carro que Santos Dumont utilizava para transportar a Demoiselle, esse carro aparece em várias fotografias. Obrigado !
Boa noite, só uma correção, o primeiro carro construido no Brasil foi construido por Claudio Bonadei e não Paulo Bonadei.
Imagino que, pelo sobrenome, o senhor seja um parente distante, correto?
Bom dia, sim bisneto.
O senhor teria mais informações sobre esse veículo? Imagens, fatos, curiosidades??
Muito interessante encontrar aqui o nome do segundo proprietário de um Automóvel em São Paulo. Meu avô nasceu no ano de 1900 e contava que quando era criança andou no segundo carro de São Paulo. Meu bisavô – pai do meu avô, era fazendeiro de Café e amigo do dono deste veículo que aqui apresentam como Conde Alvares Penteado, seu nome pesquisando em um site de genealogia era Antônio Alvares Leite Penteado.
“Ler sobre carros sempre foi minha paixão, eu sempre ajudei amigos e familiares a decidir a compra de um carro, agora estou conseguindo fazer isso com muito mais pessoas, é um grande prazer”.