Antes de aprofundar a crítica que farei neste texto queria deixar algo claro: ela não é, diretamente ao menos, para o atual governo. Não seria justo culpar o gestor que assumiu em 2023 pelo abandono de importantes patrimônios históricos de São Paulo. Ele pode ser culpado se, ao fim de um semestre, dois semestres, não ter se movimentado para resolver o problema. Dito isso, vamos lá.

Temos dois edifícios históricos em São Paulo que estão largos à própria sorte: o Quartel Tabatinguera (ou o que restou dele) e a Casa das Retortas, que já resgatei parte da história aqui na São Paulo In Foco. As antigas gestões do governo estadual (também não culparei as prefeituras, já que os edifícios são de responsabilidade do estado) simplesmente deixaram os prédios apodrecerem e caírem.

Quem passa pela Avenida do Estado, saindo do Mercado Municipal, o Mercadão, sentido Ipiranga, e olha para o lado esquerdo, tende a achar que houve um desabamento ou que algum proprietário deixou um edifício semidemolido. Pois foi exatamente o que aconteceu.

Quartel Tabatinguera em seus dias de glória

Em 1992 o exército passou o edifício para o Governo do Estado. A partir de então, a derrocada começou: desativação do edifício, abandono de manutenção, abandono físico sem polícia por perto etc.

O que aconteceu? O local foi invadido, depredado e, em várias matérias que pude produzir para o SP2, telejornal noturno da TV Globo, mostramos que ele vem sendo, literalmente, desmontado. Moradores de rua levam os tijolos e madeira para outros lugares para construir algo que os proteja das intempéries do tempo. 

Como é possível o poder público deixar um edifício do século XIX se dissolver assim? Em outros lugares do mundo o local seria um museu, seria aproveitado de alguma forma ou, na pior das hipóteses, seria outro batalhão ou companhia da Polícia Militar.

O próprio Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, já disse que estava estudando a instalação de outra unidade da polícia no Centro. Por que não reformar, revitalizar, cuidar do Quartel e usá-lo para isso? Qual a dificuldade?

Registro do Quartel em 2019. A situação agora é tão ruim, está tão pior, que nem dá para chegar perto para fotografar

Novamente, como citado, sou produtor de reportagem na TV Globo e, sempre que questiono o governo do estado sobre o problema, a resposta é a mesma: estudando qual a destinação do espaço e bla bla bla. Inaceitável.

Já a belíssima Casa das Retortas, que também teve sua história resgatada aqui, a situação é menos pior. Menos pior no quesito de destruição, mas se olharmos pela questão de destinação, a situação é bem pior.

Registro de duas páginas do livro “Complexo do Gasômetro”, com destaque para a lindíssima arquitetura escolhida para as casas de máquinas

Segundo o painel de obras do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a Casa das Retortas teria como finalidade sediar o Museu da História do Estado de São Paulo. Inicialmente as obras estavam orçadas em R$ 61.519.312,84, mas já foram gastos R$ 93.682.753,96 com a construtora CVS. A obra está paralisada há anos e nem o TCE sabe desde quando.

Registro interno da Casa das Retortas, com destaque para essas “casas de máquinas”

O abandono desse prédio gera de tudo ao redor: espaço para ladrões, abandono de lojas, casas e o deterioramento do centro. Cada vez menos o centro da cidade é atrativo para a população. Cada vez mais os comércios tradicionais fecham e perdemos nossa identidade. É lindo viajar para fora do país e visitar comércios centenários enquanto os daqui agonizam e fecham.

Para quem nunca viu, separei algumas fotos internas da Casa das Retortas. Sério mesmo que não dá para fazer nada comercial, viável e interessante por ali? Ou é só má vontade do poder público? Ou algo mais que não sabemos??

Fica a reflexão. Concordam? Discordam? Vocês têm alguma lembrança dos espaços?

One Comment

  1. Nesta depredação se apaga a memória dos antigos e não relembrarmos a nossa história lamentável este desleixo.

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