Em breve comemoraremos o bicentenário da Independência. Com isso, esperamos inaugurar o nosso Museu do Ipiranga, também conhecido como Museu Paulista, com seu enorme acervo de obras de arte e peças de época. No texto de hoje, falaremos de algumas curiosidades sobre esse acervo.
A história começa com um antigo casarão que ficava no Largo Municipal, atual Praça João Mendes, no centro. Endereço do Museu Sertório, point cultural da do século XIX, o local estava abarrotado de peças com alto valor histórico-científico: coleções de moedas, conchas, estatuetas, louças, espadas, fósseis, instrumentos musicais, etc.
Vale o registro que, em 1884, Dom Pedro II e sua filha, princesa Isabel, estiveram no Museu Sertório, que na época estava em outro endereço, e a princesa havia reclamado do cheiro de uma anta empalhada. Aberto à visitação popular, o casarão e o acervo eram de propriedade de Joaquim Sertório, rico coronel paulista.
Depois de fazer carreira na Guarda Nacional, força paramilitar organizada durante o período regencial, ele foi vereador em São Paulo, cidade onde comprava e vendia terras, imóveis e café. Sertório morreu em 5 de dezembro de 1905, aos 78 anos, quatro anos depois de sua mulher.
Segundo uma pesquisa da Fapesp, esse acervo do Coronel serviu de pontapé inicial para o Museu Paulista. E a chegada do acervo de Sertório ao poder público começou em 1890. Na ocasião, ele anunciou o desejo de se desfazer de suas coleções e a imprensa da época bateu na tecla de que o governo deveria assumir o museu.
O empresário Francisco de Paula Mayrink, ciente da situação, comprou o acervo e o doou ao governo paulista. Essa aquisição e posterior doação aconteceu em 1890. A coleção de Sertório somou-se a outra e ajudou a formar o Museu do Estado. Seu diretor era o botânico sueco Alberto Loefgren, que havia sido contratado por Sertório anos antes para catalogar e organizar seu acervo.
Em 1893, o Museu do Estado mudou de nome e se tornou o Museu Paulista, que desde 1894 fica no Palácio do Ipiranga. O primeiro diretor do museu renovado, o zoólogo alemão Hermann von Ihering, queria construir uma instituição com foco na história natural, mas seu sucessor, o historiador Affonso Taunay, valorizou a seção de história do Brasil, deixando de lado o acervo de história natural, que acabou dispersado.
Um levantamento da historiadora Paula Carvalho, publicado em 2014 na revista Anais do Museu Paulista, dimensiona o acervo de história natural do Museu Sertório, formado por 430 exemplares de mamíferos, 1.600 pássaros, 460 répteis e anfíbios, 292 peixes, além de insetos, moluscos, crânios, ninhos e ovos.
Quando Taunay dirigia o Museu Paulista (de 1917 a 1945), boa parte desse acervo foi transferida para o Departamento de Zoologia da Secretaria de Agricultura, que iria formar o Museu de Zoologia da USP, também no bairro do Ipiranga. Muitas peças se perderam e outras se deterioraram, como a anta malcheirosa que chamou a atenção da princesa Isabel.
O Museu Paulista mantém 60 peças históricas do Museu Sertório, entre elas raridades como um mapa do relevo de Bragança, no interior paulista, feito por um engenheiro alemão, e uma peça de madeira do século XVI usada durante mais de dois séculos no chamado ponto do rocio, no Largo da Sé, para marcar onde terminava a cidade e começava a área rural.
Links de referência: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-colecionador/
Aquisição Mayrink: http://memoria.bn.br/DocReader/090972_05/1045
Importante: http://memoria.bn.br/DocReader/090972_05/1752
Inauguração do Museu do Ipiranga: http://memoria.bn.br/DocReader/090972_05/6726
Revista do Museu Paulista: http://memoria.bn.br/DocReader/145254/14
Gostei muito desse site, principalmente do escritor Abrão, muito conteúdo bom, uma pena não ser famoso, pois com certeza há muito conteúdo nesse site