A história de Adoniran Barbosa, um dos maiores compositores da história do país, começa na cidade de Valinhos no dia 6 de agosto de 1910.
Seu nome de batismo é João Rubinato, filho de Ferdinando e Emma Rubinato, dois imigrantes italianos. Quando ainda era muito jovem, sua família se mudou para Jundiaí e, em 1924, seus familiares se instalam em Santo André, na grande São Paulo.
Quando completa 22 anos, Adoniran resolve se mudar para São Paulo onde arranja um emprego de vendedor de tecidos. Contudo, seu grande sonho era ser artista e, na capital paulista, participa de vários programas de calouros no rádio.
Seu pseudônimo, inclusive, vem de seu sonho de menino. O nome Adoniran ele utilizou em homenagem ao seu melhor amigo e, Barbosa, é uma referência ao cantor Luís Barbosa, o grande ídolo e Adoniran.
Em 1933, depois de ser desclassificado várias vezes devido à sua voz fanha, Adoniran conquistou o primeiro lugar no programa de Jorge Amaral cantando “Filosofia” de Noel Rosa.
Dois anos depois, em 1935, compôs, em parceria com o maestro e compositor J. Aimberê, sua primeira música “Dona Boa”, eleita a melhor marcha do Carnaval de São Paulo naquele ano.
Na rádio Cruzeiro do Sul ficou até 1940, transferindo-se, em 1941, para a rádio Record, a convite de Otávio Gabus Mendes.
Ali começou sua carreira de ator participando de uma série de radioteatro intitulada “Serões Domingueiros”. Anos mais tarde, em 1941, Adoniran foi convidado para atuar na Rádio Record como ator cômico, discotecário e locutor.
Nessas funções, ele ficou por mais de 30 anos. Em 1955, ainda como músico, compôs seu primeiro grande sucesso: Saudosa Maloca, gravado pelo conjunto Demônios da Garoa.
Essa foi a oportunidade para Adoniran começar a criar sua galeria de personagens, sempre cômicos, como o malandro Zé Cunversa ou Jean Rubinet, um galã de cinema francês. O linguajar popular de seus personagens encontrava par em suas composições.
Adoniran costumava rebater as críticas aos seus sambas dizendo que: “só faço samba pra povo. Por isso faço letras com erros de português, porquê é assim que o povo fala. Além disso, acho que o samba, assim, fica mais bonito de se cantar”.
O Trabalho na Record e a Parceria de Sucesso
Durante os anos que Adoniran trabalhou na Record, ele conheceu o produtor Osvaldo Moles, responsável pela criação e pelo texto dos principais personagens interpretados pelo compositor.
A dupla ficou junta por 26 anos e um dos maiores sucessos oriundos dessa parceria foi o programa “Histórias das Malocas”, onde Adoniran representava o personagem Charutinho.
O programa ficou no ar pela rádio Record até 1965, chegando a ter uma versão para a televisão. Os dois também dividiram a criação de vários sambas.
Dessa grande amizade nasceram clássicos como “Tiro ao Álvaro” e “Pafúncia”. Em 1945, Adoniran começou a atuar no cinema. Sua primeira participação foi no filme “Pif-Paf”, seguido de “Caídos do Céu”, em 1946, ambos dirigidos por Ademar Gonzaga. Em 1953, atuou em “O Cangaceiro”, de Lima Barreto.
O impulso na carreira de compositor veio em 1951, quando o conjunto Demônios da Garoa saiu premiado do Carnaval paulista com o samba “Malvina”, de sua autoria.
No ano seguinte, eles repetiram o feito, agora, com a criação de Adoniran Barbosa e Osvaldo Moles, “Joga a Chave”. Começava ai mais uma parceria de anos na vida do compositor. O famoso “Samba do Arnesto” surge em 1953 e estoura nas paradas de sucesso.
A sua música mais famosa, “Trem das Onze”, tem grande destaque no ano de 1964 e eleva ainda mais o nome do compositor. Em 2000, a canção foi escolhida pela população de São Paulo, em um concurso organizado pela Rede Globo, como a música que mais representa a cidade.
Adoniran costumava dizer que em suas obras o objetivo era retratar o cotidiano das camadas pobres da população urbana e as mudanças causadas pelo progresso.
Para isso, faz uso da maneira de falar dos moradores de origem italiana de alguns bairros paulistanos, como Barra Funda e Brás. Uma de suas últimas composições foi “Tiro ao Álvaro”, gravada por Elis Regina em 1980.
Adoniran Barbosa morreu em 23 de novembro de 1982, aos 72 anos, pobre e quase esquecido. No momento de sua morte estavam presentes apenas sua mulher, Matilde Luttif, e uma irmã dela.
Dizem que no final da vida, Adoniran estava completamente desgostoso com a cidade de São Paulo.
É atribuída a ele a seguinte frase: “Até a década de 60, São Paulo ainda existia, depois procurei mas não achei São Paulo. O Brás, cadê o Brás? E o Bexiga, cadê? Mandaram-me procurar a Sé. Não achei. Só vejo carros e cimento armado.” .