A história do autódromo de Interlagos começa há quase 100 anos, no meio da década de 1920, e conta com a contribuição do engenheiro e empreendedor britânico Louis Sanson. O empresário, dono da empresa de construção Auto-Estradas, planejou construir um resort entre as represas Guarapiranga e Billings.
E esse projeto foi tão bem visto que o famoso urbanista frânces, Alfred Agache, decidiu se juntar à empreitada. Alfred já vinha de um grande projeto, já que acabara de trabalhar no Plano de Remodelação do Rio de Janeiro e, com toda sua experiência, notou a semelhança entre a região sul de São Paulo com a região de Interlaken, na Suíça.
Nascia então o projeto do Bairro Balneário Satélite da Capital, ponto que seria criado para as classes mais ricas da sociedade paulistana. Até mesmo uma praia, com areia vinda de Santos, foi criada junto à represa construída menos de 30 anos antes pela Light.
Contudo, com a falta de recursos, o projeto só começou a renascer no meio da década de 30 e, tudo isso, graças ao sucesso que as corridas de automóveis passaram a ter no país. Em 1936, São Paulo recebia a sua primeira prova internacional, mas o circuito foi as próprias ruas da capital. E após a má repercussão do acidente da piloto francesa Hellé-Nice, que perdeu o controle de seu Alfa Romeo e atropelou e matou cinco pessoas e feriu mais de 30, Interlagos voltou a ganhar a atenção.
A construção do autódromo foi cercada de grande expectativa. Em abril de 1939, no autódromo em obras, um grupo de pilotos,entre eles Manoel de Teffé, deu as primeiras voltas na pista. Apesar disso, a população paulistana ainda teve que esperar mais um ano para a grande inauguração, adiada em duas ocasiões no mês de novembro do mesmo ano.
A Inauguração
Com a estrada de Interlagos aberta e a ponte de madeira sobre o Jurubatuba, Sanson inaugurou um grande e espaçoso estacionamento para carros, e o Hotel Interlagos para receber os turistas.
Era 1940, quando o bonde de Santo Amaro partia da estação na região sul de São Paulo em direção ao Largo do Socorro. Algumas rádios, como a Cruzeiro e Cosmos, anunciavam a cobertura de provas de automobilismo. Um dos personagens do automobilismo brasileiro, o Barão de Teffé, revisava sua Maserati e o piloto Chico Landi requisitava 500 litros do então chamado álcool-motor com a desculpa de prestigiar o produto nacional. Ao mesmo tempo, proibia-se os treinos nas imediações do autódromo para preservar a segurança dos operários que ainda concluíam as obras e morria nos primeiros treinos o piloto Joaquim Simões Souza em um acidente com seu Ford de competição.
A corrida inaugural, porém, acabou transferida por vários motivos. O último adiamento foi em razão de uma fortíssima chuva que alagou a pista e a tornou inviável para os carros, provocando ameaças de protestos e “sérios desgostos”, como contam os registros dos jornais da época.
Os ingressos voltaram a ser vendidos (as gerais, sem direito a cadeira, custavam 5 contos, um lugar na arquibancada numerada, 30 contos, e os camarotes cobertos para seis pessoas, 400 contos), com descontos de 50% para os sócios do Automóvel Clube do Brasil e para os acionistas da Auto-Estradas.
Enfim, no dia 12 de maio de 1940, finalmente o autódromo foi inaugurado, com a disputa de uma prova preliminar entre motocicletas,, que teve largada às 13 horas, com 12 voltas na pista completa, em um total de 96 quilômetros e o Grande Prêmio São Paulo, destinado a automóveis de corrida, que largaram às 14h30 para as 25 voltas da pista completa, totalizando 200 quilômetros de percurso.
Uma multidão de 15 mil pessoas compareceu à abertura do primeiro autódromo do Brasil, já nas primeiras horas da manhã daquele dia 12 de maio. A plateia estava excitada e curiosa em assistir a tudo o que fosse possível, desde a chegada dos pilotos ao circuito, até a preparação das máquinas e de seus motores.
A entrada principal não passava de um portão feito com algumas ripas de madeira, onde só passava uma pessoa de cada vez. Ao lado, destinado para ser a bilheteria, um pequeno barraco de alvenaria em cuja parede podia-se ler em letras mal escritas à mão e tinta o aviso de que “senhas não são fornecidas”.
Vale destacar que, na época, não havia pavimentação e o chão era de terra batida. Apesar da cobrança de ingressos, só pagava quem realmente quisesse, já que o entorno do autódromo, bastante amplo, era cercado única e exclusivamente com uma tosca cerca de arame farpado, proporcionando a possibilidade de entrar por entre os seus vãos.
Com isso, o movimento de venda de bilhetes anunciado foi em torno dos cinco mil, ainda assim uma proeza para aqueles tempos. Uma curiosidade, foi que o autódromo acabou inaugurado sem que o projeto original tivesse sido concluído.
Dessa forma, não haviam arquibancadas, boxes, guard-rails, lanchonetes, banheiros, torre de cronometragem e de transmissão. Tudo era na base do improviso, mas a pista estava lá e Interlagos foi aprovado para receber corridas pelo Automóvel Clube do Brasil.
O Circuito Antigo
O traçado, na verdade, foi desenhado para oferecer duas opções. Uma delas um anel externo, concebido para ser de alta velocidade e que tinha 3.250 metros. O outro era o chamado circuito completo que, contando com o setor do miolo, de 4.750 metros, totalizava os 8 mil metros de extensão.
A outra novidade é que se corria em sentido anti-horário ou, como diziam, contra os ponteiros do relógio. Não à toa, o engenheiro Sanson e sua equipe haviam escolhido um local bastante apropriado para receber a pista. O terreno formava uma espécie de bacia, cercada por morros mais altos.
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Para ligar o setor mais alto, perto da entrada, ao local reservado para os carros e seus preparadores na parte mais baixa, o paddock, onde hoje é a Reta dos Boxes, foi construída uma passarela de madeira, também utilizada para receber material de publicidade e como ponto de largada e de chegada das provas.
A Reinauguraçăo
No final de 1967, o Autódromo foi fechado para reformas e voltou a funcionar no dia 29 de fevereiro de 1970, ainda que não estivesse totalmente pronto. E o evento de reinauguração foi uma grande corrida do Campeonato Internacional de Fórmula Ford.
Os registros contam que, mesmo a pista tendo sido recapeada, com novos boxes erguidos, além das arquibancadas para 20 mil torcedores, o público teve de enfrentar um novo problema, os congestionamentos monstros para chegar e sair do Autódromo. Assim, Interlagos passou por outra reforma em 1971 para abrigar no ano seguinte, pela primeira vez, um Grande Prêmio de Fórmula 1.
Finalmente recebeu alambrados nas áreas dos boxes, zebras na pista, túnel para acesso ao interior do circuito, um edifício de quatro andares para abrigar as transmissões de rádio e televisão, mais a tribuna de honra. Também foram executadas obras para instalar galerias de águas pluviais, guias, sarjetas, e outras de infraestrutura.
Ainda em outubro de 1971, o primeiro grande teste de Interlagos, que recebeu uma corrida internacional de Fórmula 2 extra-campeonato, também vencida por Emerson Fittipaldi, com Ronnie Peterson em segundo, para que a pista fosse homologada e passasse a fazer parte do calendário oficial da categoria mais rápida do planeta.
A era Fórmula 1
Com o circuito testado pelos dirigentes da Federação Internacional de Automobilismo, em 1972 a Fórmula 1, finalmente, chegava ao palco da velocidade de Interlagos, mesmo ainda não sendo uma etapa oficial.
Como não contava pontos para o campeonato, nem todas as equipes vieram para São Paulo. Nessa prova correram quatro pilotos brasileiros e oito estrangeiros.
Em 30 de março de 1972, o Autódromo sediou pela primeira vez uma corrida da categoria. A corrida foi vencida pelo argentino Carlos Reutemann, seguido pelo sueco Ronnie Peterson e pelo brasileiro Wilson Fittipaldi Jr.
Com o sucesso do evento, o Brasil passou a integrar, já no ano seguinte, o calendário oficial do Campeonato Mundial de Fórmula 1. A primeira prova brasileira aconteceu em 11 de fevereiro de 1973 e foi vencida por Emerson Fittipaldi, seguido pelo escocês Jackie Stewart e pelo neozelandês Dennis Hulme.
Em 1985, em uma homenagem ao grande piloto do automobilismo brasileiro, o Autódromo recebeu o nome de José Carlos Pace, que havia morrido em 1977.
O Autódromo de Interlagos passou por uma série de reformas,no fim de 89, com a construção de novos boxes e torre de controle, e o percurso foi encurtado para 4.325 km, de acordo com a tendência atual de circuitos com no máximo 4.500 m de extensão.
A nova reinauguração aconteceu no dia 23 de março de 1990. A corrida foi vencida pelo francês Alain Prost, com o austríaco Gethard Berger em segundo lugar e o brasileiro Ayrton Senna em terceiro. Desde então, melhoramentos têm sido introduzidos a cada ano, mantendo sempre o circuito atualizado, acompanhando a constante evolução do automobilismo.