Pouca gente lembra, mas na década de 80 São Paulo foi a casa de duas baleias orcas: a Samoa e o Nandu, as protagonistas do Orca Show. As negociações para trazer as orcas para o Brasil começaram em 1984, entre o Playcenter e um zoológico da Islândia.
O transporte das duas baleias foi feito por um avião cargueiro e mobilizou uma equipe gigantesca de especialistas. O interior da aeronave foi adaptado para ser uma piscina especial, com a água em uma temperatura máxima de 17 graus. Além disso, veterinários estiveram a bordo para acompanhar o processo.
A chegada das baleias ao Brasil era para ter sido secreta, mas a informação vazou e a imprensa tentou a todo custo cobrir o desembarque das duas baleias. Os jornalistas da época pouco conseguiram e, quem chegou mais perto da cobertura foi o Estadão.
Na edição de 28 de novembro e 1984 o jornal destacava que o avião cargueiro adaptado pousou em Viracopos e que a água que estava na piscina especial, ficou com a temperatura máxima de 17º C. As baleias ficariam em um espaço construído “especialmente” para elas no próprio Playcenter onde, ainda segundo o Estadão, elas seriam “amestradas”. Por mais incrível que possa parecer, o Playcenter conseguiu todas as licenças para cuidar, treinar e usar os animais em apresentações. Segundo informações da época, elas passaram vários e vários meses “escondidas” para serem treinadas para os shows.
Como era de se esperar, o show foi um sucesso imenso. Pela novidade, pelo ineditismo e pela curiosidade, o Playcenter ficava sempre lotado em busca do Orca Show. A apresentação incluía quatro golfinhos que dividiam o mesmo tanque que as baleias. Estima-se que as baleias comiam 80 quilos de peixe por dia.
Infelizmente o destino das duas baleias não foi feliz. Nandu, quatro anos e meio depois de chegar ao Brasil, morreu. Já Samoa, em 1989, foi comprada pelo SeaWorld. Ela passou pelo parque de Ohio e depois foi para o Texas. Segundo o portal “V-Pod Orcas”, em San Antonio, no Texas, três anos depois de sua chegada, ela engravidou, mas nem chegou a dar à luz um filhote vivo. Passou por horas de sofrimento intenso e morreu em seguida.
De acordo com uma revista especializada no assunto, a Marine Mammal Inventory Report, que teve acesso aos documentos e os tornou público em maio de 2011, Samoa, que tinha 14 anos, morreu devido à uma infecção gravíssima causada por fungos. O problema foi iniciado no útero, abrangendo placenta e o próprio feto, e alcançou o cérebro provocando uma meningoencefalite.
Ela estava tentando abortar o feto, pelo menos 2 meses antes da data prevista para o nascimento, devido ao estágio avançado da doença e não dando à luz, como divulgado. “Curiosamente”, duas espécies de golfinhos morreram no mesmo parque por infecção causadas por fungos. Ainda segundo o site citado, várias hipóteses foram levantadas pelos estudiosos para a contaminação de Samoa pelo fungo.
Uma delas dá conta de que qualquer tratamento médico (ou inseminação artificial) desenvolvido com esses mamíferos, ocorrem no mesmo tanque em que vivem (onde urinam, defecam, nadam, onde os treinadores nadam, caminham, etc.) e cenas gravadas (e divulgadas) mostram esses animais sendo manipulados pelos treinadores sem luvas de proteção.
Importante: não há relatos desse tipo de doenças em animais que vivem livres. Infelizmente esse foi o fim das duas orcas que “moraram” em São Paulo por pouco mais de 5 anos.
Referências:
https://m.acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,fotos-historicas-orcas-no-playcenter,11162,0.htm
https://v-pod-orcas.blogspot.com/2012/08/as-orcas-do-playcenter-samoa-e-nandu.html