A mãe da iluminação pública de SP: a Casa das Retortas

É estranho pensar em uma cidade como São Paulo sem luz elétrica. Mas essa foi uma realidade até meados do século XX, quando passamos a usar essa nova tecnologia.

As primeiras tentativas de desenvolver e oferecer iluminação pública na metrópole foi através de lampiões de azeite de peixe ou de mamona, que ficavam presos em braços de ferro nas paredes das casas das ruas principais. Praticamente um cenário de filme!

Imaginar essa paisagem é imaginar parte de São Paulo de1870, quando o poder público decidiu investir em uma fonte de energia: o gás. Nesse ano, teve início a construção de um complexo industrial que citamos até hoje sem nos dar conta: o Gasômetro. 

Essa estrutura foi a responsável por fabricar gás de carvão voltado para a iluminação pública paulistana. O projeto foi do engenheiro Willian Ramsay, da empresa San Paulo Gas Company. O local escolhido para o empreendimento foi a “Chácara do Ferrão”, propriedade da Marquesa de Santos, na várzea do Rio Tamanduateí. Atualmente, essa região é conhecida como Parque Dom Pedro II. 

Início da construção do complexo industrial para a fabricação do gás de carvão em 1872. O local ficou conhecido como gasômetro.

Em 1889, a demanda estourou e a estrutura precisou ser aumentada. Surgiu assim uma nova usina em São Paulo, a Casa das Retortas, edifício que existe até hoje. Ela tinha esse nome por abrigar algumas peças, as retortas, que eram recipientes que faziam a queima do carvão importado da Inglaterra.

A Casa das Retortas é um símbolo de um dos muitos ciclos industriais de São Paulo. O prédio tem uma arquitetura industrial inglesa e o conjunto do Gasômetro é formado por grandes pavilhões de alvenarias e tijolos de barro aparentes, além de uma cobertura de telhas francesas sustentadas por uma estrutura metálica.

Fachada frontal da primeira construção da Casa das Retortas. Essa estrutura foi demolida em 1910. A imagem não tem data.

Anos depois da construção de toda essa estrutura, em 1912, o Grupo Light recebeu a concessão da empresa e modernizou o espaço, adotando equipamentos elétricos automatizados. Em 1968, a Prefeitura expropriou o imóvel e o incorporou à Companhia de Gás de São Paulo (Comgás).

Na década de 70, começa o calvário do espaço: a produção de gás é encerrada no local e começa o processo de restauro da Casa das Retortas, em um projeto liderado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Com a conclusão das obras, o local abrigou o Centro de Pesquisas sobre a Arte Brasileira Contemporânea e o Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal da Cultura. Nos anos 1980 a Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) adquiriu o imóvel.

Desde então, infelizmente, o local está abandonado. Milhões de reais já foram investidos pelo Governo do Estado de São Paulo para transformar o complexo em um Museu da História do Estado de São Paulo, mas tal qual o Quartel Tabatinguera, nenhum tipo de obra ou ajuste é feito há anos no local.

Descarga de vagão de transporte de carvão na Casa das Retortas. Imagem sem data.
Fachada sul original demolida para receber a ampliação em 1928
Aferição de medidores de gás feito por técnicos do IPT na década de 50
Última configuração do edifício, na década de 50, antes da paralisação das operações na década de 70

Referências: https://www.ipt.br/institucional/campanhas/43-sp_461_anos:_conheca_a_historia_da_casa_das_retortas.htm

https://www.cedem.unesp.br/#!/noticia/385/casa-das-retortas-completa-130-anos/