O Bairro do Ipiranga possui uma rua com o nome de Cipriano Barata em homenagem a um dos mais críticos jornalistas de nossa história.
Apesar de muitos dos paulistanos não conhecerem sua trajetória, Cipriano José Barata de Almeida foi um médico e jornalista nascido em Salvador e que estudou medicina na Universidade de Coimbra. Contudo, foi batalhando no campo das ideias e da oposição que Barata se tornou um dos ícones da imprensa brasileira.
Um dos nossos mais famosos comunicadores, Millôr Fernandes, diz que “jornalismo é oposição” e, pensando por esse lado, Cipriano Barata, com certeza, deveria carregar o título ou, pelo menos, alguma lembrança como o patrono do jornalismo nacional.
Para o seu tempo, Cipriano era um homem diferenciado. Cheio de ideias liberais e republicanas e com grande influência da Revolução Francesa, ele foi capaz de movimentar e agitar a opinião pública, propagar seu liberalismo e, ao mesmo tempo, combater a escravidão.
Graças ao seu gênio forte e suas ideias contraditórias ao regime da época, ele foi considerado um traidor pelos defensores do trono. Além disso, Barata também foi um homem de ação e participou da Inconfidência Baiana em 1798 (onde foi preso) e na Revolução Pernambucana de 1817.
Visando sempre o lado humano em todas as situações, Barata foi o grande responsável por melhorar as condições de prisão dos perseguidos políticos da época. Foi dele a ideia de fundar comitês de solidariedade para combater esse tipo de situação.
Ele, também, foi o responsável por fundar sociedades secretas que batalhavam pela independência e pelo constitucionalismo do Brasil. Além disso, ele presidia reuniões de conspiradores que eram favoráveis ao sistema da monarquia participativa.
Sua Atuação Como Jornalista
Cipriano começou sua carreira jornalística na Gazeta Pernambucana e, anos depois, em 1823, acabaria fundando seu próprio veículo de comunicação: a “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”.
Entre suas ideias mais ferrenhas e revolucionárias estavam: a eleição direta para os presidentes das províncias e a libertação dos escravos para 1860, 28 anos antes da consolidação da Lei Áurea.
Nesse espaço, ele aproveitava para hostilizar o governo de Dom Pedro I e se posicionava de maneira favorável às ideias republicadas e de autonomia das províncias. Seu gênio forte e suas duras críticas o levaram à prisão por várias e várias vezes.
Contudo, mesmo encarcerado, mantinha suas ideias de oposição de antilusitano. Seus esforços acabaram criando as condições para a Confederação do Equador.
Eleito como representante baiano para a Assembleia Constituinte, não tomou posse porque as tropas de dom Pedro cercavam a Assembleia, intimidando os deputados. A Constituinte acabou fechada pelo imperador que outorgou uma Constituição ao país em 1824.
Transferido para o Rio de Janeiro, acabaria passando por inúmeras prisões, permanecendo detido até 1830. Mas continuava a escrever, nomeando seus jornais como “Sentinela da Liberdade” e variando o final do título de acordo com a prisão onde se encontrava.
Diz a lenda que Cipriano faltou com o mais alto dos decoros com D. Pedro I. Na época, era crime não se ajoelhar e beijar as mãos do imperador e, Cipriano, virou-lhe as costas durante sua visita à masmorra.
Por esse “crime” D.Pedro I sacou-lhe uma prisão perpétua. O baiano defendia o fim da tortura, praticada “por bagatela”, pelos dominadores e exigia a abolição de seus instrumentos.
O último Sentinela, do total de 66 exemplares que editou, saiu em setembro de 1835, em Recife. Foram doze anos do denominado jornalismo do cárcere, como é conhecida sua atuação como jornalista. Abandonou as atividades políticas em 1836 e retirou-se para Natal, onde morreu dois anos depois.
Em memória de Cipriano, o Brasil tem, apenas, seu nome em ruas do Bairro do Ipiranga, em São Paulo, uma em Salvador e outra em Natal. Muito pouco para um dos primeiros defensores da Independência do país.