A cidade de São Paulo acolhe colônias de todos os continentes e isso não é novidade alguma. Nesse caso, os imigrantes árabes ganham papel de destaque nesse texto, mais precisamente sírios e libaneses. Conhecida por ser uma comunidade muito unida e, também, muito forte no comércio, ela tem no Esporte Clube Sírio como a sua joia da coroa. Não à toa, são aproximadamente 5.500 associados.
Antes dos milhares, tudo começou com alguns amigos em julho de 1917, quando esse grupo de jovens sírios e libaneses fundou, em uma pensão localizada na Rua Augusta, o Sport Club Syrio, sendo Milhem Simão Racy o primeiro presidente. A primeira sede da associação era um conjunto comercial alugado na Rua do Comércio, local em que permaneceu até 1920. As práticas esportivas eram realizadas nos clubes Germânia (S.C. Pinheiros) e Florestal (Espéria), agremiações que posteriormente se tornariam rivais do Sírio.
Passado o período de improvisos, o Clube Sírio adquire, em 1920, um terreno de 45.000m² na Ponte Pequena, o local era próximo de outros clubes, como o C.R. Tietê e o Espéria. Na nova sede social havia espaço para a prática de futebol, tênis e basquete, esse último guarda boas recordações para o clube.
Já no final da década de 1940, o espaço da Ponte Pequena não dava conta para o crescente aumento de sócios; a diretoria do Sírio agiu e comprou um novo terreno localizado no “caminho do aeroporto”, na Av. Indianópolis, 1192. Desde a década de 1950 o Esporte Clube Sírio mantém sede no mesmo local, realizando obras pontuais para melhorar a estrutura do clube.
O que os fundadores do E.C. Sírio não imaginavam é que eles dominariam o mundo mais de 60 anos depois, pelo menos o mundo do basquete. O ano é 1979, enquanto o Segundo Choque do Petróleo no Oriente Médio causava uma grande instabilidade no mundo. Aqui, o clube da comunidade árabe também surpreendia o globo, só que de um jeito positivo – e na quadra.
Nesse ano, o Ginásio do Ibirapuera recebeu o Campeonato Mundial de Clubes da FIBA (Federação Internacional de Basquete), oficialmente o torneio tinha o nome de Copa Internacional William Jones, em homenagem a um entusiasta do esporte. Participaram da competição cinco clubes: Piratas de Quebradillas (Costa Rica), MoKan All-Stars (Estados Unidos), E.C. Sírio (Brasil), Emerson Varese (Itália) e Bosna Sarajevo (antiga Iugoslávia). O torneiro era no sistema de pontos corridos – vence quem conquistar mais pontos jogando todos contra todos.
O Esporte Clube Sírio tinha um time muito promissor, mas nunca figurou entre os favoritos, o time comandado por Cláudio Mortari contava com três jogadores que faziam a diferença: o pivô Marquinhos e a jovem dupla Marcel (ala) e Oscar Schmidt (ala). Por tradição, os europeus do Bosna e Varese, além dos norte-americanos do MoKan vinham com as credenciais de possíveis campeões.
Porém, quando a bola subiu, o time alvi-rubro mostrou que tinha muita raça e vontade de vencer. O Campeonato Mundial foi disputado no começo do mês de outubro de 79; o Sírio jogou, em dias seguidos, contra Quebradillas (vitória), MoKan (derrota), Varese (vitória); a decisão ficou para o último jogo contra o Bosna Sarajevo. O vencedor seria o campeão do mundo.
O jogo ficou para um sábado, dia 6 de outubro de 1979. A impressionante campanha do E.C. Sírio comoveu a imprensa, em especial o jornal A Gazeta Esportiva, e ela conseguiu mobilizar torcedores para a partida final. Dados da época apontam que cerca de 8.000 torcedores estavam no Ginásio do Ibirapuera para acompanhar o jogo; cada um vestindo a camisa do seu time de futebol: santistas, corintianos, palmeirenses e são-paulinos torcendo pelo Sírio.
O jogo, como não poderia deixar de ser, foi tenso do começo ao fim. O Esporte Clube Sírio ficou atrás do placar o jogo inteiro, diminuindo a cada quarto a vantagem dos iugoslavos; somente no final da partida, em uma falta, o Sírio empatou o jogo. A partida estava 88 a 86, o time paulistano tinha direito a três lances livres, a responsabilidade estava nas mãos de Oscar, então com 21 anos. Primeiro arremesso, fora. A torcida fica tensa, o placar mostra que não havia tempo para uma reação. Segundo arremesso, dentro. Uma bola e haverá prorrogação. Terceiro arremesso, teremos tempo extra.
Na prorrogação, a torcida jogou ainda mais com o time. O cansaço dos europeus e a motivação dos atletas do Sírio contrastaram, de modo que foi apenas questão de tempo o título. Final de jogo: E.C. Sírio 100 x 98 Bosna Sarajevo. O Brasil conquistou seu primeiro e único título mundial de clubes no basquete e firmou uma dupla que ainda daria muitas alegrias ao esporte: Oscar e Marcel. O Esporte Clube Sírio conquistava a primeira estrela de seu escudo e gravava o nome na história do basquete mundial.
Vale destacar todos os jogadores que fizeram parte desse momento histórico do basquete brasileiro: Edmond Azar Filho (ala), Eduardo Nilton Agra Galvão (ala), José Carlos Santos (armador), Larry Dyal Willians (pivô), Luís Carlos Videira (pivô), Marcelo Vido (ala), Marcel Ramón Ponikwar de Souza (ala), Marcos Antônio Abdalla Leite (pivô), Miachel Ray Daugherty (pivô), Oscar Daniel Bezerra Schmidt (ala), Paulo César Rossi Esteves (ala), Renato José Elias (ala) e Washington Joseph (armador).
Infelizmente, por questões administrativas e financeiras, o basquete profissional do Esporte Clube Sírio encerrou suas atividades. Hoje, ele é somente amador e para seus 5.500 sócios. O Sírio não investe mais no esporte profissional. A segunda estrela que o clube ostenta é de um título mundial infantil de tênis, conquistado em 1982, pelo tenista Willian Kiriakos, então com 10 anos.
Em 2013, com 96 anos de história, o Esporte Clube Sírio é tradicional e focado à comunidade de seus fundadores, como não poderia deixar de ser. Só que o E.C. Sírio deixou uma grande marca para a cidade – e para o esporte brasileiro. Está lá, na tarde do dia 6 de outubro de 1979, quando torcedores de todos os times paulistas invadiram a quadra para comemorar juntos a primeira estrela do Esporte Clube Sírio, o campeão mundial de basquete.