Lembranças afetivas transcendem cidades e origens. Um dos exemplos comportamentais que mexe com a memória das pessoas fica por conta do famoso piso de caquinhos. Apesar de não ter nascido na cidade de São Paulo, fez e faz parte da história de muitos moradores de São Paulo. Outro exemplo que segue essa linha fica por conta do famoso e “esquecido” cobogó .
Considerados uma invenção simples para o problema do calor no interior das residências, o cobogó foi inventado em Recife no ano de 1929. O nome, divertido e fácil de memorizar, é a primeira sílaba dos sobrenomes dos criadores da peça: Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antonio Gois.
Os três, que eram engenheiros e sócios em uma fábrica de cimento, queriam algo que aliviasse o calor da cidade. Vale dizer que, segundo uma reportagem do jornal O Globo, a inspiração dos três foi mourisca.
Apesar da grande utilidade, a peça se popularizou e ganhou destaque internacional através de trabalho de arquitetos cariocas, em especial do famoso Lucio Costa.
Em São Paulo, temos um importante expoente dos cabogós: a Casa Cabogó, de Marcio Kogan. Segundo a Casa Vogue, tal elemento construtivo consiste num monobloco pré-moldado de cimento, argila, vidro, gesso ou cerâmica que reúne arte e funcionalidade. Ele presenteia a divisória com um desenho rendilhado, por onde fluem ar e luz, e contribui, assim, com respiro e alternância na luminosidade.
Nesta casa, o cobogó não só é personagem central do projeto, mas também é assinado pelo escultor austríaco Erwin Hauer, grão-mestre dos cobogós, autor de inúmeros módulos vazados e patenteados. No interior da residência, construída em 2011, há mais lições da arquitetura modernista, como na parede de tijolos de vidro do segundo piso e na parede forrada de madeira da sala de jantar, na qual o detalhe é o desenho contínuo dos veios.
História e destalhes técnicos à parte, lembro de alguns cobogós que marcaram minha vida. Na casa de amigos, especial nas divisórias que separavam a sala e a cozinha, lembro muito dos cobogós.
Quem mais tem lembranças desse tipo de intervenção arquitetônica? E, mais do que isso, quem lembra disso com os pisos de caquinhos?