Uma das mais importantes vias da Zona Leste de São Paulo é conhecida como Conselheiro Carrão, nome que também é utilizado na estação de Metrô da região. A origem desse nome, entretanto, remonta ao começo do século XIX.
No dia 14 de maio de 1814, na cidade de Curitiba, Paraná (que ainda fazia parte da Província de São Paulo), nasceu João José da Silva Carrão, filho do capitão Antonio José da Silva Carrão e Ana Maria Cortez.
Ele começou seus estudos em Curitiba e acabou terminando em Sorocaba. No ano de 1833, ele se matriculou na Faculdade de Direito de São Paulo onde se formaria no ano de 1837. Ainda como estudante, no ano de 1835, ele começou a escrever para uma publicação conhecida como Novo Pharol Paulistano, que era dirigido pelo famoso Francisco Bernardino Ribeiro.
Logo após a abdicação de D. Pedro I, no dia 7 de abril de 1831, o Partido Liberal se dividiu entre os exaltados e os moderados, tendo João da Silva Carrão como o único estudante a filiar-se entre os moderados. Pouco tempo depois, ele participou de um concurso para uma vaga da Faculdade de Direito, mas acabou desistindo dessa ideia devido ao fechamento do processo seletivo.
Algumas coisas, contudo, o aborreceriam profundamente, ambas em 1842. Foram os casos da dissolução da Assembleia Geral, da qual ele foi eleito deputado suplente, e da revolta de 1842, que foi de encontro aos seus princípios de ordem e moderação. Quando a revolta, de fato, estourou, Carrão ficou em silêncio, nela não tomando parte.
No ano seguinte, ele começou a advogar em seu escritório próprio em São Paulo. Pouco tempo depois, ele ficou famoso devido ao seu talento natural para o direito. No ano de 1844, ele fundou o jornal Americano, com o intuito de explicar as causas da revolução e conter os ódios partidários das facções adversárias. O Americano era um jornal de linha moderada que conseguia criar um ambiente de tolerância e justiça para os rebeldes.
No ano seguinte conquista o cargo de lente da Faculdade de Direito e em 1846 é eleito o primeiro suplente à Assembleia dos deputados de São Paulo. Fora essas atividades, ele ainda fundou o jornal Ypiranga, que obteve grande influência em toda a Província de São Paulo.
Em 1856 foi eleito deputado geral pelo primeiro distrito de São Paulo. Em 1857 presidiu a Província do Pará, tendo em vista a necessidade de uma política de conciliação para aquela região.
Carrão e a Política
No quesito político, Carrão atuou em todas as posições: deputado geral, senador, presidente de províncias e ministro.
Ele foi deputado provincial de São Paulo nos biênios: 1842/1843, 1846/1847, 1848/1849, 1856/1857, 1860/1861, 1862/1863 e 1868/1869. Foi presidente da Assembléia Legislativa Paulista.
Foi deputado federal nas seguintes legislações: 1842, 1845 a 1847, 1848, 1857 a 1869, 1861 a 1864, 1865 a 1866, 1867 a 1868 e 1878 a 1880. Exerceu a função de ministro da Fazenda no Gabinete de 12 de maio de 1865, presidido por Pedro de Araújo Lima – Marquês de Olinda.
No ano de 1878 foi eleito senador, escolhido por carta imperial de 12 de agosto de 1879. Presidiu a Província do Pará de 27 de outubro de 1857 a 24 de maio de 1858 e a Província de São Paulo de 3 de agosto de 1865 a 3 de março de 1866. Exercia desde 1858 a função de lente catedrático de Economia Política. Aposentou-se em 1879.
A Vida Pessoal E Sua Atuação em São Paulo
Carrão acabaria se casando com Porcina Nogueira, filha de Antonio José Nogueira, fazendeiro de Bananal. Eles tiveram uma única filha que foi casada com José Antonio Pedreira de Magalhães Castro, também advogado, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo.
Enquanto ocupou o cargo de presidente da Província de São Paulo, Carrão foi um grande interessado pela política de imigração, reconhecendo, inclusive, que o sistema de colônias não era o ideal. E o seu raciocínio estava certo.
Com exceção da colônia de São Leopoldo, todas as outras fracassaram. Desfeita a tentativa do governo, surgiu a iniciativa para promover a imigração europeia, que privilegiava a criação de estabelecimentos agrícolas.
Na época, começava a rarear a mão de obra isso em função de da parada do tráfico de mão-de-obra escrava proveniente da África. Um grande complicador para implementação da política de imigração foi a divulgação no continente europeu de que o governo paulista era contrário a esse sistema.
Com todas essas dificuldades para conseguir mão-de-obra europeia, Carrão se voltou aos americanos, pois intuía que a guerra civil daquele país pudesse redundar em surto imigratório para São Paulo. Três expedições vieram daquele país, encabeçadas pelo dr. Gaston, o general Wood e o agrônomo Norris.
O governo os auxiliou nas incursões que fizeram para o interior da Província. O dr. Gaston em companhia do general Wood percorreu o Oeste e o Sul atravessando a Serra do Mar. Norris interessou-se por terras nas proximidades de Campinas. Contudo, todos esses planos fracassaram devido à falta de vias de comunicação e transporte fáceis e baratos.
As Estradas De São Paulo
João José acreditava que as vias de transportes deveriam ter uma atenção especial e irrestrita por parte do governo para que os transportes agrícolas e industriais circulassem com grande facilidade e rapidez.
Na época do seu governo, as vias do estado, que compreendiam 4.600 quilômetros. estavam em estado lamentável. Ele acreditava que os lavradores paulistas não necessitavam de proteção do estado, mas sim de um sistema de circulação fácil e barato para escoar toda sua mercadoria.
Com isso, ele acreditava que era o momento de atuar com urgência nas estradas. A grande esperança da época era a entrega da Estrada de Ferro Santos – Jundiaí. Mas ele sabia que só essa grande obra não resolveria a questão.
Carrão também dava grande importância à navegação à vapor pelos rios Tietê, Piracicaba, Ribeira de Iguape e Paraíba. Este último, inclusive, era o único sobre o qual haviam sido feitos estudos regulares.
Pouco mais de um mês antes de sair do cargo de presidente da província, Carrão fez um relatório, no dia 3 de fevereiro de 1866, com uma minuciosa descrição das obras da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. A Estrada de Ferro Santos-Jundiaí era o começo de um sistema de viação que alavancaria o progresso da província, mas não só ela, após viriam dezenas de outras ferrovias que fariam de São Paulo a mais próspera região brasileira.
No período em que exercia a presidência da Província de São Paulo, 1865/1866, o Conselheiro Carrão adquiriu terras na região do Aricanduva de Baixo, parte do fracionamento da antiga sesmaria de Francisco Velho de Moraes que redundou na Fazenda Soapoçu.
Antes de chamar-se Carrão sua denominação era Sítio Bom Retiro. A fazenda do Conselheiro limitava com o Aricanduva de Cima (atual Vila Matilde), com o sítio Guaricanduva (atual Vila Califórnia), com o Sítio Goiabeira que pertencia a Miguel Jacob (parte da atual Vila Formosa) e com parte do próprio Aricanduva de Baixo, pertencente ao padre Freitas.
Aproveitando as boas condições da terra, desenvolveu excelente vinhedo, o que lhe possibilitava não só a colheita dos frutos, mas também a fabricação de um excelente vinho.
O dia 29 de agosto de 1876 seria um dia de glória para a região. O sítio do Conselheiro recebia a visita do imperador Dom Pedro II, que viera do Rio de Janeiro para inspecionar as obras da Estrada de Ferro do Norte, mais tarde conhecida por Estrada de Ferro Central do Brasil.
Estava para ser inaugurado o trecho Brás – Mogi das Cruzes. Nessa memorável visita, o ilustre personagem passou agradáveis momentos e pôde saborear o bom vinho fabricado por seu anfitrião.
Anos mais tarde, João da Silva Carrão, ao aposentar-se de sua função de lente da Faculdade de Direito de São Paulo, isso em 1879 como já foi dito, vendeu sua propriedade e mudou-se para o Rio de Janeiro. Veio a falecer em 4 de junho de 1888 na Capital do Império.
Que pena que existem poucas pessoas com o interesse de saber o nome dos seus bairros e histórias mostrada, isso se perde com a desisformação no pais.