Nem toda a história de São Paulo é feita de grandes personalidades e acontecimentos. Temos alguns episódios muito tristes nesses mais de 400 anos que precisamos relembrar. Falaremos hoje da terrível gripe espanhola que assolou a cidade e o estado em 1918. 

Antes de falarmos dos números e como essa epidemia marcou SP, vamos fazer um pequeno resgate histórico de como ela surgiu e como chegou aqui. Os estudiosos dizem que as grandes epidemias tiveram origem com a Primeira Guerra Mundial, responsável por matar milhões de pessoas e espalhar a fome por todo o planeta.

É nesse cenário, de miséria e falta de insumos, que as epidemias tiveram desenvolvimento. Tifo, cólera e difteria foram apenas algumas das doenças que atingiram os europeus. O vírus que chegou aqui, da gripe espanhola, tem sua origem, obviamente, na Espanha. Estima-se que essa doença, também chamada de influenza, tenha o nome “gripe espanhola” pelo  fato do rei daquele país ter sido uma das primeiras vítimas do vírus.

Outra versão da origem de seu nome dá conta de que em função de a Espanha ter se mantido neutra durante a guerra, não censurando as notícias sobre a incidência da gripe, fato que dava a impressão de que a doença acontecia só naquele país. A origem mais provável da doença foi nos campos de treinamento militar, no interior dos Estados Unidos.

De fácil contágio, a doença se espalhou muito rápido. Os primeiros casos dessa doença no Brasil são datados de outubro de 1918 em Recife, Salvador e no Rio de Janeiro. Como o país como um todo não estava preparado para uma doença dessas, a epidemia encontrou o cenário perfeito para se desenvolver.

No Rio de Janeiro, por exemplo, os mortos chegaram rapidamente às centenas. A cidade de São Paulo chegou a propor o fechamento dos acessos da cidade buscando impedir a chegada de pessoas vindas do litoral (Santos) e de outros estados. Claro que a ideia era inviável e, portanto, a gripe apareceu em São Paulo no mesmo mês de outubro de 1918.

Correio Paulistano de 19 de outubro de 1918

Registros dão conta de que o primeiro paulistano morreu de gripe espanhola no dia 21 de outubro de 1918 e, quando isso aconteceu, o Rio de Janeiro já registrava mais de 700 ocorrências. A cidade tentou conter o vírus com o fechamento das escolas, suspensão de teatros, cinemas e com o horário do expediente comercial indo até às 17h.

Primeiro óbito em decorrência da gripe em 21 de outubro de 1918

A recomendação das autoridades era a de evitar aglomerações e friagens, mas nem isso foi o suficiente. Em 25 de outubro, o comércio foi fechado e o Governo Federal decretou feriado por uma semana. Rapidamente São Paulo chegou a centena de mortos e quase ninguém saía às ruas.

Durante cerca de 15 dias, São Paulo agonizou com a epidemia. E pior do que isso, como o Rio de Janeiro sofria há mais tempo, as notícias desesperavam ainda mais a população. O Correio Paulistano, por exemplo, chegou a publicar uma coluna narrando a situação de calamidade na Capital Federal, com mortos apodrecendo, abandonados pelas ruas.

São Paulo chegou a ter tantos mortos que os serviços funerários não conseguiam anteder aos enterros. Os bondes da Light, aliás, chegaram a ser usados para transportar caixões e os cemitérios da Consolação e Araçá receberam iluminação de emergência para trabalhar e funcionar à noite.

O surto começou a ser encerrado em meados de 1919 e, pelas contas oficiais, morreram mais de 5 mil paulistanos em decorrência da gripe e mais de 100 mil pessoas foram contaminadas. Calcula-se que aproximadamente 40% da população ficou doente e foi rara a família que não perdeu um ente querido. Como a gripe não distinguia idade ou classe social, morreram crianças e velhos, ricos e pobres.

Mas a mais famosa vitima da gripe foi o presidente da República recém-eleito, Rodrigues Alves. Incapaz de comparecer à cerimônia de posse, morreu dias depois em sua casa em Guaratinguetá.

O remédio

Graças à gripe espanhola, uma das bebidas mais famosas da nossa história foi criada. Estamos falando da caipirinha, invenção de Piracicaba que era composta por cachaça, limão, alho e mel que era utilizada para combater esse surto terrível que atingiu SP.

Os moradores de Piracicaba, após controlarem o surto, continuaram bebendo o remédio e, progressivamente, foram trocando os componentes. O mel deu lugar ao açúcar e o alho foi retirado para a inserção do gelo. Estava formada a receita da bebida mais famosa do país.

Referênciashttp://culturafm.cmais.com.br/lembrancas-de-sao-paulo/a-gripe-espanhola

https://memoriasaude.org.br/2018/11/gripe-espanhola-em-sao-paulo-1918/

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