O período histórico brasileiro que foi guiado pelas grandes plantações de café trouxe consigo diversos grandes nomes para a história do país. Um desses nomes foi Antonio Francisco de Paula Sousa, homem que veio de uma família da elite do café e faria história em diversos acontecimentos políticos do nosso país.
Sua família, como um todo, já possuía grande participação na história do país. Seu avô paterno, Francisco de Paula Sousa e Mello, foi um importante participante do processo de emancipação do Brasil, trabalhando como deputado nas Cortes de Lisboa, em 1821. Além disso, também foi membro atuante da Assembleia Constituinte, também chamada de Câmara Temporária, que acabaria dissolvida pouco depois por Dom Pedro I.
Seguindo a linha genealógica, seu pai, Antonio de Paula Sousa, foi um importante e respeitado médico formado na Bélgica, pela Faculdade Médica da Universidade de Louvain e também foi um grande ativista durante o Império. Antonio foi deputado da província, deputado geral, Ministro da Agricultura e, também, foi o primeiro a criar um projeto que pudesse extinguir a mão de obra escrava que operava no Brasil.
Antonio de Paula Sousa acabaria se casando, anos depois, com Maria de Raphaela, filha do grande Barão de Piracicaba e, dessa feliz união, nasceu Antonio Francisco de Paula Sousa, no dia 6 de dezembro de 1843, na cidade de Itú, em São Paulo.
A Formação Profissional, a Viagem Pelo Mundo e Seu Casamento
Logo quando atingiu a idade necessária, Paula Sousa começou seus estudos no colégio Galvão, na cidade de São Paulo e depois se mudou para a escola Calogeras, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Aos 15 anos, graças ao grande patrimônio que sua família possuía, Paula Sousa pôde estudar na Alemanha, mais especificamente nos colégios de Krause e Wagner.
Em 1861, quando já possuía seus 18 anos, ele foi obrigado a retornar ao Brasil devido a uma enfermidade de um de seus tios preferidos. Contudo, após o caso ter sido solucionado, ele voltou à Europa e se matriculou na Polytechnikum da Universidade de Zurik, mas por diversos problemas como diretor da faculdade, acabou mudando, em 1863, para outra escola que ficava em Karlsruhe, onde começou diversos grandes trabalhos, como a construção da importante ferrovia alemã Nord-Ost-Bahn.
Anos depois, ele receberia o diploma de engenheiro e voltaria ao Brasil, onde também faria história no segmento. Vale o destaque que, enquanto esteve fora do país, Paula Sousa foi um ferrenho crítico à escravidão brasileira, destacando seu ponto de vista em várias cartas redigidas ao seu pai:
“O Brazil é muito grande e a população esparsa; por conseguinte um dos elementos principaes da civilisação Brazileira vem a ser o estabelecimento de um systema de vias de communicação. Acima desse só diviso a difusão da instrucção primaria. Penso que a escravidão constitui o mais serio dos obstáculos contra esta ultima. E é ella por sua vez um dos fatores que mais pervertem os nossos costumes. Penso por esse motivo que qualquer passo tendente á introducção de trabalhadores livres adeantará e moralisará o nosso paiz.” (Revista Polytechnica, 1918).
Dessa forma, é possível perceber que, mesmo morando longe da sua amada terra, o engenheiro se preocupava com os rumos da nação. Sua preocupação e capacidade de raciocínio a longo prazo eram tão grandes que, em 1869, ele publicou o livro República Federativa do Brasil, destacando todos os pontos fracos do país e mostrando qual caminho devíamos seguir.
Após esse lançamento, o engenheiro partiu para os Estados Unidos em busca de mais conhecimentos profissionais. No caminho, ele acabou enfrentando grandes dificuldades, já que a viagem foi de navio, e o engenheiro teve que se salvar do naufrágio na costa da Martinica. Mesmo com todas essas dificuldades, Paula Sousa chegou a Nova York e, pela primeira vez na sua vida, enfrentou dificuldades financeiras, como diz o seu diário. Nesse mesmo documento, ele narra as dificuldades para ultrapassar as barreiras nos Estados Unidos e como ele conseguiu seu primeiro emprego como carregador de algodão na cidade de St. Louis, Missouri.
Logo ele conseguiria um emprego como desenhista e juntaria dinheiro para voltar ao Brasil. Após uma curta passagem por terras tupiniquins, foi à Europa onde se casou com Ada, filha do famoso Georg Herscolgly.
A Contribuição no Brasil E A Escola Politécnica
Sua grande contribuição em território nacional começa com a construção da Estrada de Ferro Ituano, que tinha o objetivo de ligar Itu à Piracicaba. Poucos anos depois, ele resolve ir à Paris fazer um curso de especialização em ferrovias e conhecer a chamada Exposição Universal, grande referência da época sobre o tema.
Após suas grandes especializações, em 1883, ele ocupa o cargo de engenheiro chefe da estrada de ferro, cargo que tinha como objetivo projetar a ferrovia para ligar Rio Claro a São Carlos. Com o fim da obra, ele volta à Itu onde fica no cargo de inspetor geral até a chegada da nossa república. Nesse posto, ele mantém seu viés anti-monarquista e, com esses ideais, acaba formando o Partido Republicano Paulista.
Entre os anos de 1892 e 1893, Paula Sousa exerceu vários mandatos públicos, como: presidente da Câmara Estadual de São Paulo, Ministro das Relações Exteriores e, por um pequeno período, Ministro da Agricultura. Contudo, após várias discordâncias com Floriano Peixoto, abdica de seus cargos e dedica-se à formação da Escola Politécnica.
Enquanto se dedicou ao cargo de deputado estadual, ele conseguiu elaborar o projeto da sua escola que, no seu cerne, possuía o objetivo de trazer boas mentes ao Brasil e, assim, ser uma ferramenta de modernização ao país. O grande diferencial de sua escola, entretanto, seria o desafio de produzir uma tecnologia própria que faria do Brasil um país que não dependesse da mão de obra engenheira externa.
Contudo, ele enfrentou grandes dificuldades para consolidar esse sonho. Por ter sido criado na Alemanha, Paula Sousa possuía as características daquela escola. Seu opositor, o famoso escritor e engenheiro Euclides da Cunha, tinha um viés francês e eles tiveram duros debates sobre o assunto.
Após esses difíceis encontros, a nova Escola de Engenharia de São Paulo foi aprovada em 1893 e inaugurada no dia 15 de fevereiro de 1894, com 31 alunos e 28 ouvintes. A primeira sede foi o grande prédio da Mansão dos Três Rios, no Bom Retiro, onde a Politécnica ficou até 1924.
E o engenheiro passou a discursar sobre a importância dessa iniciativa no Brasil: “(…) E o que é mais importante, senhores, o habito do methodo, o cumprimento do dever, a previdência e a calma reflectida, o espírito de ordem, são qualidades inherentes, essenciais para que qualquer indústria possa vingar e prosperar; e nós nos acharíamos então em condições de evitar os dissabores, os desgostos e prejuízos que agora sofremos.” (Discurso inaugural da Escola Politécnica).
Em seu discurso, Paula Sousa falava do seu desejo de transformação nacional por meio das ciências e a necessidade da industrialização nacional frente ao seu atraso histórico em relação ao “mundo desenvolvido”.
Vale uma curiosidade sobre um dos cursos que o grande engenheiro ministrava, mais especificamente, o de Resistência dos Materiais e Grafoestática. Os seus alunos, por algum motivo, se revezavam em turnos de três para assistir suas aulas. O professor, nervoso por essa situação, decidiu descobrir o que acontecia. Ao ver que seus alunos estavam ajudando na construção da estrada de ferro entre os bairros da Lapa e do Ipiranga, ele ficou orgulhoso e os ajudou nessa empreitada.
O mestre era conhecido pelo seu ritmo de trabalho forte e constante. Não havia motivo para suspensão das aulas e, mesmo quando alguma figura ilustre falecia, aconteciam homenagens e os ensinamentos prosseguiam.
A Politécnica foi importante em vários momentos da nossa história ferroviária. Foi dessa escola que surgiram grandes estudos e análises topográficas da cidade, estudos da engenharia mecânica e um grande auxílio nos processos de urbanização e remodelação da cidade.
Mesmo sendo um grande defensor da industrialização do país, Sousa possuía a sabedoria de que isso seria de grande dificuldade para o país, graças a falta de conhecimento técnico que por aqui reinava.
Pensando em resolver esse problema, ele contratou professores estrangeiros que ficariam famosos por aqui, como: Roberto Mange (engenharia mecânica) e Felix Hegg (termodinâmica).
Durante quase duas décadas e meia, Paula Sousa foi o diretor da Escola Politécnica de São Paulo. Contudo, no dia 13 de abril de 1917, ele acabou falecendo enquanto preparava sua aula para o dia seguinte. O grande cortejo fúnebre partiu da Rua Aurora nº 79 e seguiu até o cemitério da Consolação, onde foi sepultado.