A falta de chuvas em SP: a estiagem de 1924

A cidade de São Paulo, durante sua história, passou por vários períodos de estiagem. Se há poucos anos tivemos um duro racionamento em cidades do interior, em 1924 a situação foi tão dramática quanto, gerando problemas econômicos bastante densos à metrópole. Vamos aos acontecimentos que marcaram uma geração de moradores de SP.

O problema de estiagem acontece, obviamente, quando há carência de chuvas, crescimento populacional e até mesmo, falta de investimento público em saneamento e energia. Olhando para o passado esses acontecimentos podem ser facilmente relacionados.

Segundo dados apresentados pelo professor Ricardo Toledo Silva, docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU), entre os anos de 1874 e 1900, a capital teve sua população multiplicada por 10, saindo de 23.253 para 239.820.

Se aumentarmos o período, mantendo a base de 1874 e indo até 1940, o crescimento foi de cinquenta e sete vezes, saindo de 23.253 para 1.326.261. Claro que, isolados, esses números não querem dizer muito, mas quando pegamos os núcleos urbanos, o crescimento descontrolado e a falta de cuidado com a natureza, tudo acaba se entrelaçando e ficando pior.

Nos últimos 30 anos do século XIX  o abastecimento da cidade se tornou um problema social de alta gravidade. A solução encontrada pelos governantes foi a de organizar, em 1877, a Companhia Cantareira de Água e Esgoto – que passou ao estado em 1892. No século XX, foram criados sistemas para aumentar a oferta de água, como o Rio Claro (décadas de 1930 e 1940), o Alto Tietê e o novo Cantareira (ambos da década de 1970), entre outros.

Entre os anos de 1924 e 1925 uma grande seca acometeu a cidade de São Paulo e, na época, a empresa que gerenciava grande parte das atividades da nossa cidade, a Light, teve que tomar medidas extremas para conseguir manter seus serviços funcionando.

Afonso Schmidt, em uma de suas crônicas sobre a cidade de São Paulo, comenta que logo após a revolução de 1924, os anunciantes de casas para alugar acrescentavam nas chamadas: “com água na torneira”. Porém, parece que isto não passava de uma mentira, pois “todos sabiam que as torneiras, tendo esquecido a primitiva função de verter água, tinham sido transformadas em cabides, ou mesmo enfeites das cozinhas.”

Represa do córrego do Bispo, que fazia parte do antigo Sistema de Abastecimento da Cantareira, em 1893

No dia 24 de janeiro de 1925, inclusive, um anúncio foi publicado nos jornais com algumas medidas que seriam implementadas para evitar o corte total de energia na cidade. A Light iria passar a utilizar sua usina a vapor, instalaria novos geradores, turbinas e aumentaria a velocidade de algumas obras para construir uma nova hidrelétrica. De maneira emergencial, também compraria energia da Companhia de Luz de Campinas.

Estudando um pouco as condições climáticas da época, os planos da Light eram até, digamos, modestos, afinal, o problema era bem mais grave. Documentos dos anos da época dão conta de que o índice pluviométrico atingiu apenas 900 m/m em 1924: “foi a seca mais forte ocorrida nestes últimos trinta e seis anos”.

Em outro trecho, podemos ver o quanto a seca foi severa: A falta absoluta de água, quer para o consumo doméstico, quer para o consumo industrial teve como decorrência o “racionamento da provisão de água, a redução compulsória de fornecimento de energia, a diminuição da iluminação pública e particular, a quase paralisação da produção fabril, com a consequente restrição das horas de trabalho”.

Uma das publicações mais famosas da época, “O Jornal”, do Rio de Janeiro, publicou matéria em 18/02/1925 sob o título: “A maior seca de São Paulo”, onde o naturalista Rodolpho von Ihering afirmou: “não se pode garantir que a devastação das florestas seja a causa principal, mas ninguém incide em erro se disser que ela é cúmplice no fenômeno”.

Referências: http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/10/09/seca-na-metropole/

http://meteorologiaeclima1.blogspot.com/2010/09/1924-sao-paulo-enfrentava-racionamento.html

https://versaopaulo.wordpress.com/2014/11/03/1924-ano-em-que-as-torneiras-viraram-cabides/