A Fábrica de Louças Santa Catharina, que ficava na Vila Romana, região da Lapa, foi a pioneira no que diz respeito à fabricação nacional da chamada louça de pó de pedra para uso doméstico. Embora a atividade ceramista não fosse uma novidade em São Paulo, tendo em vista que tivemos olarias e outras indústrias do gênero, a Santa Catharina se diferenciou por trazer as tecnologias e conceitos europeus para a produção brasileira.
O fundador da empresa foi Romeo Ranzini, pioneiro que vendo a possibilidade de fazer fortuna com a louça branca, foi à Europa aprender as técnicas, entender o processo produtivo desses produtos e comprar equipamentos especiais. Também viajou para o outro continente em busca de mão de obra especializada para dar andamento ao projeto.
Entre os técnicos que vieram ao Brasil, segundo o Memorial do Sindicato da Louça Sindicato da Indústria da Louça Pós de Pedra, da Porcelana e da Louça de Barro no Estado de São Paulo, de 1948, a maioria dos trabalhadores que vieram ao Brasil eram oriundos da região milaneza e de centros oleiros como Laveno-Mombello. Essas contratações seriam fundamentais para que, anos mais tarde, vários desses operários fundassem as próprias fábricas, como José Zappi, Aristides Pileggi, Rogério Manetti, Giuseppe Pedotti, Luigi Torrighelli, entre outros.
Vale dizer que, mesmo antes de viajar para a Europa, Ranzini já havia escolhido o local de sua empresa: um terreno com 36.000 m² com frente para a Rua Aurélia e limitado pela Rua Coriolano, Rua Fábia e nos fundos pela Rua Catão, na Vila Romana, região da Lapa, região do sítio arqueológico Petybon (Ver no fim do texto).
A construção dos primeiros pavilhões, iniciada em 1912, foi concluída nos fins deste mesmo ano. O projeto foi feito pela empresa August Reissmannn, fabricante do maquinário que o italiano comprou em seu país natal.
Anos depois, em 1916, o pai de Ranzini, Sisto, foi o responsável por ajudar o empreendimento do filho, sendo o responsável por conduzir as obras de mais pavilhões. Há registros históricos de que, nessa época, a fábrica de Ranzini possuía 8.500m². Os produtos da Santa Catharina sempre foram bem vistos pela sociedade e, inclusive, as louças eram muito bem faladas em anúncios e publicações da imprensa “especializada”.
Graças à boa aceitação das louças fabricadas pela Santa Catharina, a ampliação das instalações se tornou uma constante na fábrica. Essa tendência de crescimento físico da empresa fez com que a fábrica saltasse de 1.080.342 milhão de peças em 1914 para 7.840.939 peças em 1918. Um crescimento de quase 8 vezes em menos de meia década.
Esse número, entretanto, ainda era “pouco”. Ranzini queria chegar a mais de 24 milhões de peças fabricadas por ano. Mas apesar do otimismo e das expansões, a estrutura era de difícil manutenção. O italiano chegou a reduzir seus preços, tentando afastar a concorrência que começava a crescer, mas seus esforços foram “inúteis”.
Em 1927, depois da morte de seu sócio Euclydes Fagundes, a Santa Catharina foi entregue ao Grupo Matarazzo; como pagamento de dívidas contraídas com o Banco Matarazzo. Apesar de contrário à venda, Ranzini não pôde fazer nada para impedir. O Conde, por sua vez, usou a estrutura da fábrica para produzir azulejos e louças sanitárias, além das louças domésticas.
Há relatos também de que, contratualmente e nesse meio tempo, Ranzini precisou continuar orientando a Santa Catharina a produzir louças “comuns” até que a fábrica dos Matarazzo na região, a Fábrica da Água Branca, pudesse operar “sozinha”.
A história de Ranzini com as louças não acabaria nesse episódio. Entretanto, essa é outra história…..
Sítio Arqueológico Petybon
Importante aqui um registro: em 2003, a empresa Zanettini Arqueologia fez um grande trabalho onde se localizava a fábrica Santa Catharina. Por lá, encontraram mais de 30 mil fragmentos de peças, além de peças inteiras. O local ficou conhecido como sítio arqueológico Petybon.
Um pequeno registro que pode ser localizado nas referências abaixo, fala sobre o estilo das louças: “As peças da fábrica Santa Catharina/ IRFM possuem decorações próprias caracterizadas por pinceladas grossas e aquareladas, utilização de diversas tonalidades de cores e a distribuição da decoração na superfície do suporte diferente da fabricação inglesa do século XIX.
Nestas peças se observa um misto entre o tradicional europeu e a fabricação brasileira. No sítio arqueológico também foram encontrados exemplares de fabricação nacional porém seguindo padrões estrangeiros como o ‘Trigal’ (padrões decorativos feitos em alto-relevo, normalmente motivos trigais).”.
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