Numa pernada, a  beleza paulistana se revela

Por Fernando Galuppo*

Magnética. Pulsante. Grandiosa. Paixão a cada esquina. É assim que sinto no peito a nossa querida São Paulo. Desde garoto, o hábito de perambular por cada canto da cidade é uma  rotina que me fascina e encanta.

Moro atualmente no bairro da Vila Mariana, mas cresci e passei toda a minha infância e adolescência no bairro da Mooca. As minhas origens italianas denunciam por si só o por quê do amor incondicional que nutro pelo distrito operário.

Os bailes no Juventus, estudar na Walter Belian, Camargo Aranha, São Judas, as delícias da Confeitaria Di Cunto, Pizzaria São Pedro, Esfiha Juventus, as baladas na Overnight, as namoradas no Moinho Santo Antonio, Festa de San Gennaro, os amigos e o futebol na Rua Javari. Esses são alguns rápidos registros que me vem a mente quando fecho os olhos e penso na Mooca.

Nutro o hábito de andar a pé por São Paulo. Não gosto de carro. Nem carta de habilitação possuo. Tenho aversão. De vez em quando, encaro o transito da cidade com uma bicicleta. No mais, tudo a pé. Dessa forma, criei um roteiro muito particular, o qual procuro realizar pelo menos uma vez por semana, que serve para mim como uma forma de meditação e contemplação.

Saio da Vila Mariana. Desço a avenida Lins de Vasconcelos e atravesso o largo do Cambuci. Entro na Rua Ana Neri, onde faço a primeira parada para tomar um café na tradicional padaria italiana de mesmo nome.

Dali, cruzo a avenida do Estado e sigo pelas entranhas da rua Dom Bosco e adjacências, até encontrar a rua da Mooca. Na rua Borges Figueiredo, mais uma pausa. Dessa vez, na também italianíssima Doceria Di Cunto.  Refeito, sigo pela Rua Javari. Se tem jogo do Juventus, fico. Se não, sigo em frente. Desço a rua do Hipódromo e sigo pela rua Bresser, onde desemboco no bairro do Brás e do Pari.

Contemplo todas aquelas fábricas e casarões antigos. Acho grandioso. São o retrato de uma São Paulo que não existe mais e resiste bravamente, em meio as formas urbanísticas modernas de gosto duvidoso que ousam a ocupar os espaços sagrados de nossa terra. Se a fome aperta, paro no Rei da Esfiha.

Seguindo o passeio, subo a rua João Teodoro em direção ao Parque da Luz. Curto o verde e a tranquilidade do local e de quebra vejo uma mostra na Pinacoteca ou no Museu da Língua Portuguesa. Paro por um segundo para ver os movimentos dos trens na “gare” da estação da Luz.

Pela avenida Casper Libero, sigo o pescurso em direção ao viaduto Santa Efigênia. Faço uma prece no mosteiro de São Bento e depois mais uma pausa para um pedaço de bolo de cenoura e um croquete de carne no tradicionalissimo Café Girondino, na esquina da Rua São Bento com a Boa Vista.

Se o meu querido Palestra Itália joga, sigo em direção ao Parque Antártica, Pacaembu, Morumbi ou Canindé. Em caso de vitória palestrina, o que ocorre na maioria das vezes, a festa se prolonga nos bares da esquina da Rua Turiassu com a Caraíbas, no bairro da Pompéia, ou então em alguma das deliciosas cantinas italianas do Bixiga.

Parque do Ibirapuera, Parque da Água Branca, Arquivo Público do Estado, Biblioteca Mário de Andrade, Grandes Galerias, Karaokes da Liberdade, Feiras de Antiguidades (MASP, Benedito Calixto, Luz e Bela Vista), Boemia na Vila Madalena, um pernil no Bar Estadão, um café no Floresta do Copam e um fim de noite com os amigos no Bar Brahma na esquina da Ipiranga com a São João são alguns dos locais que se misturam a esse meu pitoresco e particular giro pela cidade.

Não vivo sem isso. Quando estou fora, bate uma ansiedade frenética a ponto de sonhar que estou perambulando por essas ruas como se fosse uma alma penada! Uma verdadeira obssessão pela paulicéia desvairada. Essa é a Minha São Paulo! Uma cidade de povos, credos e cores diversos. De todos e de ninguém. Amada e odiada. Caótica e abençoada. Marcante e histórica. Chão do progresso e abrigo dos sonhos de toda a gente.

Fernando Razzo Galuppo, 34 anos, é jornalista, historiador, idealista, sonhador, passional, notivago e palestrino. Publicou as seguintes obras literárias: Alma Palestrina, Meu Time do Coração, Palmeiras Campeão do Mundo 1951, Glórias de um Moleque Travesso, Morre Líder, Nasce Campeão! E  Sociedade Esportiva Palmeiras 1993 – Fim do jejum, início da lenda.

One Comment

  1. Caro Fernando, tenho um material legal do Palestra Itália, entre 1915 e 1930 (em construção), por temporada, com estatísticas dos jogadores, escalações do Verdão e dos adversários (jogo a jogo), fotos, curiosidades, histórias dos clubes, estádios, costumes e do futebol em geral daquela época. Gostaria de lhe enviar por e-mail para saber se é viável para alguma publicação, site ou coisa parecida.
    Grato, Marcelo Druwe Victorino (mdvic@uol.com.br)

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