A História do Maior Empreendedor do Brasil – Francesco Matarazzo

Alguns empresários tem suas histórias consagradas longe de seus países e de suas famílias. E o maior exemplo dessa situação é o italiano Francesco Matarazzo, considerado o maior empreendedor da história do Brasil. Nascido em 1854, em Castellabate, Nápoles, o empresário pouco estudou. Aos 19 anos teve que assumir os negócios agropecuários e comerciais da família devido à morte precoce de seu pai, o médico Costabile Matarazzo.

Na época, sua família viveria tempos difíceis. Além do problema da morte de seu pai, a Itália sofria com a crise econômica europeia. Com a recente unificação da Itália, a região sul do país estava com poucas oportunidades para que os negócios avançassem. Com o tempo, Francesco recebeu boas referências do Brasil. Falavam de um país grande, pouco explorado, com muito potencial e muitas oportunidades de uma vida melhor. Em visita à família Matarazzo, Francisco Grandino, grande amigo de Francesco, trazia notícias animadoras.

Segundo ele, o Brasil era o lugar ideal para “fazer a América”. Diante de tantos pontos positivos do lugar, Francesco decidiu, em 1881, a vir para cá. Com a ajuda de sua mãe, Mariangela, o mais velho dos nove irmãos cruzou o Atlântico e veio para sua nova casa.

A Chegada e As Primeiras Dificuldades

Um visionário como Francesco não viria para uma terra desconhecida sem trazer nada que pudesse lhe dar o mínimo de conforto. Com base em pesquisas de mercado, ele descobriu que o novo país que escolhera para viver era um grande importador de banha de porco.  Pensando em já começar com algum capital, o empresário adquiriu uma grande e custosa carga desse produto para chegar logo depois dele ao Brasil. Contudo, as dificuldades começaram a aparecer.

Logo ao pisar em território tupiniquim, Matarazzo recebeu uma péssima notícia: as duas toneladas de banha de porco que trouxera da Itália haviam naufragado a bordo de uma barcaça, na Baía de Guanabara. E, para piorar, a carga não possuía seguro. Uma situação bastante desconfortável e que deixava sua passagem pelo Brasil em dúvida. O que fazer agora? Voltar para casa e recomeçar? Ficar e tentar a sorte, literalmente, sem nada?

Francesco, que não era adepto a desistências, resolveu seguir para o interior do estado de São Paulo e buscar seu amigo Grandino, que possuía um pequeno comércio. Sua surpresa fica por conta de ser bem recebido por todos os italianos da pequena colônia que vivia na cidade. Rapaz sério, trabalhador e simpático, Francesco é bem acolhido e recebido por todos. Apesar dos grandes prejuízos com a carga de banha, ainda lhe resta um milhar de liras, quantia razoável e que não permitira outro deslize.

Com esse dinheiro, Francesco investe em quatro mulas e alguma mercadoria. Sua ideia é fazer o comércio móvel e andar pelas diversas fazendas da região. Seu sistema de negócio era muito simples: vendia de tudo e comprava de tudo. Nenhum produto lhe passava despercebido. Em meados de 1882, ele conseguiu juntar algum dinheiro e abrir um pequeno armazém de secos e molhados na mesma cidade, Sorocaba. Seu comércio era voltado para farinha de trigo, sal, fubá, arroz, feijão, etc. Além disso, ele ainda vendia a banha de porco, produto que lhe rendeu algum lucro nessa primeira fase de negócios.

Com o aumento de seu armazém, Matarazzo começa a investir em pequenas fábricas de banha de porco de alta qualidade. Nessa época, ele já possuía o apoio de seus irmãos Andrea, Giuseppe e Luigi. Desses,  o primeiro era seu principal parceiro comercial. Anos mais tarde, Nicola e Costabile também viriam ao país para auxiliar nos negócios.

A Percepção dos Negócios E A Chegada A São Paulo

Com seus investimentos nessas pequenas fábricas de banha de porco, Matarazzo percebeu que a indústria nacional possuía algumas falhas. E, foi nesse ponto que ele descobriu a “mina de ouro” do seu império.  Francesco foi o pioneiro na chamada verticalização da produção. Além de produzir o produto, propriamente dito, ele também fazia as latas, embalagens, transporte e a comercialização final. Tudo isso ajudava  a  diminuir os custos e aumentava os lucros do empresário.

Em 1890, o fato histórico: Matarazzo saía de Sorocaba e vinha para São Paulo. Aqui, ele dispararia de vez e mudaria a história da cidade. Voltando seus negócios o comércio interno, na importação, no setor financeiro  e no industrial, Francesco inicia a construção de seu império. Abre na rua 25 de Março a Matarazzo & Irmãos, um empório importador e distribuidor de farinha de trigo, óleo, arroz, banha e todos os produtos necessários para um lar. Em Sorocaba ele ainda mantém duas fábricas de banha e abre uma terceira em Porto Alegre.

A Matarazzo & Irmãos tem vida breve: Francesco a dissolve em 1891 e cria a Companhia Matarazzo S.A., com 41 acionistas, quase todos italianos, e tendo como sócio de família só o irmão Andrea. Atividade principal: importação de farinha de trigo e algodão dos Estados Unidos. Nesse momento, o destino parecia agir contra o empresário. A guerra entre os EUA e a Espanha, que aconteceu em 1898, em torno da independência das colônias da América Central, comprometem as importações de farinha.

O que era para ser um motivo de lamentação, vira inspiração. O italiano resolve, então, produzir a farinha de trigo no Brasil. Ele embarca para a Inglaterra e lá compra um moinho de última geração. Nasce assim, em 1900, o Moinho Matarazzo, maior unidade industrial paulista da época: a fábrica produzia 2.500 sacos de 44 quilos do grão por dia. Mantendo-se fiel à prática de investir em toda a cadeia produtiva de seus produtos, ele abriu uma metalúrgica para fabricar as latas de embalagem; da seção de sacaria do moinho cria uma tecelagem de algodão, e assim por diante.

No ano de 1911, a consagração: é fundada as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM), em forma de sociedade anônima. Como lema: Fides, Honor, Labor (Fé, Honra, Trabalho).

Cavalgada do Conde Francesco Matarazzo e familiares no canteiro central da Avenida Rebouças em 1941.

Nos anos seguintes, seu ramo de atuação cresce rapidamente: alimentos, tecidos, bebidas, transporte terrestre, navegação de cabotagem, portos, ferrovias, metalurgia, energia, agricultura, banco e imóveis. Seu império marca a história da América Latina como um dos maiores da história.

Ele consegue espalhar mais de 200 fábricas médias e grandes em todo o Brasil, gerando mais de 30 mil empregos. Sua rede comercial abrange o país inteiro, com ramificações em Buenos Aires, Nova York, Londres e Roma.

A Primeira Guerra Mundial

No ano de 1914, Francesco resolve tirar férias. Entretanto, isso não dura muito. O empresário que viajara à Itália para cuidar da saúde e deixara seu filho Ermelino à frente do conglomerado, é surpreendido pela entrada de seu país na Primeira Guerra Mundial, em maio de 1915. Relembrando seu amor ao país, Matarazzo se oferece para coordenar o serviço de abastecimento das tropas italianas. Ele articula importação de alimentos, fornece a farinha de trigo brasileira à Itália e França e também importa 10 mil burros das montanhas de Minas para carregarem os canhões da artilharia italiana. Em reconhecimento aos serviços prestados, receberia do rei da Itália, Vittorio Emanuele III (1900-1946), em 1917, o título hereditário de conde.

Matarazzo volta ao Brasil no final de 1919 e, anos mais tarde, entusiasma-se com a nova Itália que começava a surgir e com os pensamentos do ditador Benito Mussolini, que chega a conhecer pessoalmente. Sua crença nas ideias de Mussolini era tão grande que o empresário fez duas contribuições para o fascismo italiano:  em 1926, um milhão de liras para a organização da juventude Opera Nazionale Balilla, e em 1935, dois milhões de liras para o governo italiano, a essa altura boicotado pela Liga das Nações por seu ataque à Etiópia.

Seu pragmatismo político, dentro do Brasil, se manifesta de novo durante a revolta que acontece em 1932, em São Paulo. Os rebeldes queriam depor Getúlio Vargas, mas Matarazzo resolve não se envolver diretamente na revolução que mobiliza toda São Paulo. Realista e inteligente, não vê qualquer chance de vitória. Entretanto, Ciccillo Matarazzo, seu sobrinho, chega a fabricar artefatos militares para os revoltosos. Esses artefatos, inclusive, sairiam da gigantesca Metalúrgica Matarazzo.

O Olhar Para A Indústria Brasileira

Em 1928, Matarazzo se juntou a outros empresários – como Roberto Simonsen, Jorge Street, José Ermírio de Moraes e Horácio Lafer – para criar o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), do qual será o primeiro presidente. Em 1931, nasce a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de novo tendo Matarazzo como primeiro presidente. Principal empresário da República, o italiano mais rico do mundo, morre em 1937, aos 82 anos, deixando como principal legado o maior e mais sólido conglomerado empresarial da história brasileira.

Uma fortuna mítica, quinta do planeta em seu tempo, amealhada em 55 anos de trabalho, tecnicamente estimada em mais de 20 bilhões de dólares de 1992. Nas palavras de Assis Chateaubriand, magnata da imprensa, o Brasil ganhara um novo estado: o “Estado Matarazzo”, com faturamento muito superior às receitas de qualquer outra unidade federativa, exceto São Paulo. Já o amigo e admirador Monteiro Lobato definiu sua trajetória de maneira mais simples: “um permanente rush para cima”.

E o próprio conde tinha um segredo para o sucesso?

“Alguma inteligência, certa capacidade gerencial, muito trabalho e sorte.”

Seus Edifícios em São Paulo

Francesco Matarazzo possuía grandes imóveis na cidade de São Paulo. Um dos mais belos, apelidado de Mansão Matarazzo, ficava na avenida paulista. A família do empresário viveu lá entre os anos de 1920 e 1970. Infelizmente, o lindo edifício foi demolido em 1996 e, o terreno que antes fora do grande  empresário, se tornará um shopping center com estacionamento. Outro grande edifício do finado Conde foi o Hospital Matarazzo, também conhecido como Umberto Primo.

O complexo, que contava com casa de saúde, maternidade, capela e consultórios, tornou-se referência em saúde, pela estrutura portentosa e pelo pioneirismo em tratamentos e pesquisas. Transformou-se também em um ícone arquitetônico da cidade, cuja importância histórica o levou a ser tombado pelos órgãos de preservação do patrimônio.

Edifício Matarazzo sendo construído em 1937, com os dois viadutos do chá e a Praça do Patriarca ao fundo.

Com projeto do arquiteto italiano Giulio Micheli e com o nome de Ospedale Umberto Iº, a obra foi realizada com doações das famílias Crespi, Pignatari, Gamba, Falchi e Matarazzo.

O conde teve papel preponderante no surgimento do complexo, erguido pela seção de construção das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, de onde também vieram seus azulejos e louças. Com o advento da II Guerra, locais de origem ligada aos países do Eixo, como a Itália, tiveram de alterar seu nome. Assim, em homenagem ao patrono, o hospital passou a se chamar Matarazzo.

 A curiosidade final fica por conta do time do coração de Francesco. Como era de se esperar, o conde era palmeirense fanático e, graças a sua generosidade, o Palmeiras ganhou o terreno onde hoje fica seu estádio.

Curiosidades

– O primeiro fusca comprado no Brasil foi adquirido pelo milionário Eduardo Andreas Matarazzo;

– A IRFM só teve seu primeiro balanço negativo em 1969, muitos anos depois da morte do conde;

– Até hoje alguns produtos das Indústrias Matarazzo ainda são encontrados nos mercados, como é o caso do sabonete Francis;

– Um de seus edifícios, o Matarazzo, serve de base para a prefeitura de São Paulo até hoje;

– Em 1920, Matarazzo juntou várias fábricas em um enorme terreno em São Paulo;

– O funeral do empresário, morto em 1937, levou 100 mil pessoas às ruas.

Referênciashttps://seuhistory.com/microsite/gigantes-do-brasil/bio/francesco-matarazzo

https://www.ebiografia.com/francisco_matarazzo/

https://educacao.uol.com.br/biografias/francisco-matarazzo.htm