O Poeta da Revolução – Uma Breve Homenagem À Guilherme de Almeida

Um dos homens mais lembrados da história da Revolução de 1932 é o famoso Guilherme de Andrade Almeida, o “Poeta da Revolução”.

Filho de Estevam de Almeida, famoso jurista e professor de direito, Guilherme estudou nos ginásios de Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e Nossa Senhora do Carmo, na cidade de São Paulo. Sua formação foi em direito, pela Faculdade de Direito de São Paulo, no ano de 1912.

Além de exercer a advocacia, Guilherme de Almeida também foi um competente jornalista, sendo redator do “O Estado de São Paulo”, diretor da “Folha da Manhã” e da “Folha da Noite”, fundador do “Jornal de São Paulo” e redator do “Diário de São Paulo”.

No ano de 1917, ele publicou seu livro de poesias, “Nós”. Anos depois, em 1922, foi um participante assíduo da Semana de Arte Moderna e seu escritório serviu de redação para os fundadores da revista “Klaxon”, mania da época.

Após auxiliar nesse processo de desenvolvimento artístico e intelectual de São Paulo, Almeida percorreu o país difundindo suas ideias de renovação. Seus livros “Meu” e “Raça”, ambos de 1925, são fiéis à temática brasileira e ao sentimento nacional.

Guilherme de Almeida seria amplamente reconhecido por seu talento com a poesia. Era um grande conhecedor dos versos e da língua portuguesa, sendo, inclusive, um excelente tradutor.  Traduziu, entre outros, os poetas Paul Géraldy (“Eu e Você”), Rabindranath Tagore (“O Jardineiro” e “O Gitanjali”), Charles Baudelaire (“Flores das Flores do Mal”), Sófocles (“Antígona”) e Jean Paul Sartre (“Entre Quatro Paredes”).

Sua Atuação na Revolução

No ano de 1932, Almeida decidiu que ia ajudar São Paulo como pudesse. Ele desenhou os brasões de armas de várias cidades: São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP). Compôs também um hino a Brasília, quando a cidade foi inaugurada.

Mais do que isso, Almeida foi um combatente da Revolução e, após o fim das batalhas, acabou exilado em Portugal. Anos mais tarde ele seria homenageado com a Medalha da Constituição, instituída pela Assembleia Legislativa de São Paulo.

Sua maior prova de amor ao estado de São Paulo foi o famoso e belo poema conhecido como “Nossa Bandeira”. Entre outras homenagens à cidade, existem os poemas “Moeda Paulista” e a linda “Oração Ante a Última Trincheira”. Também escreveu a letra do “Hino Constitucionalista de 1932/MMDC”, O Passo do Soldado, de autoria de Marcelo Tupinambá, com interpretação de Francisco Alves

Foi membro da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; do Seminário de Estudos Galegos, de Santiago de Compostela; do Instituto de Coimbra e da Academia Brasileira de Letras.

Em homenagem aos pracinhas brasileiros, que lutariam na Segunda Guerra Mundial, ele escreveu a famosíssima Canção do Expedicionário, com a música do não menos genial Spartaco Rossi. Ainda em contribuição com São Paulo, Almeida foi presidente da Comissão Comemorativa do Quarto Centenário da cidade de São Paulo.

Guilherme faleceu em 11 de julho de 1969, em sua casa da Rua Macapá, no Pacaembu, em São Paulo – a “Casa da Colina” –, onde residia desde 1946. Adquirida pelo Governo do Estado na década de 1970, a residência do poeta tornou-se o museu biográfico e literário Casa Guilherme de Almeida, inaugurado em 1979, que abriga também, hoje, um Centro de Estudos de Tradução Literária.

Como uma das grandes homenagens póstumas, ele encontra-se sepultado no Mausoléu do Soldado Constitucionalista de 1932, no parque do Ibirapuera.  Além dele, figuras como Ibrahim de Almeida Nobre, o “Tribuno de 32”; os jovens conhecidos pela sigla M.M.D.C. e do caboclo Paulo Virgínio.

 NOSSA BANDEIRA

Bandeira da minha terra,

Bandeira das treze listas:

São treze lanças de guerra

Cercando o chão dos paulistas!

 

Prece alternada, responso

Entre a cor branca e a cor preta:

Velas de Martim Afonso,

Sotaina do Padre Anchieta!

 

Bandeira de Bandeirantes,

Branca e rôta de tal sorte,

Que entre os rasgões tremulantes,

Mostrou as sombras da morte.

 

Riscos negros sobre a prata:

São como o rastro sombrio,

Que na água deixara a chata

Das Monções subido o rio.

 

Página branca-pautada

Por Deus numa hora suprema,

Para que, um dia, uma espada

Sobre ela escrevesse um poema:

 

Poema do nosso orgulho

(Eu vibro quando me lembro)

Que vai de nove de julho

A vinte e oito de setembro!

 

Mapa da pátria guerreira

Traçado pela vitória:

Cada lista é uma trincheira;

Cada trincheira é uma glória!

 

Tiras retas, firmes: quando

O inimigo surge à frente,

São barras de aço guardando

Nossa terra e nossa gente.

 

São os dois rápidos brilhos

Do trem de ferro que passa:

Faixa negra dos seus trilhos

Faixa branca da fumaça.

 

Fuligem das oficinas;

Cal que a cidades empoa;

Fumo negro das usinas

Estirado na garoa!

 

Linhas que avançam; há nelas,

Correndo num mesmo fito,

O impulso das paralelas

Que procuram o infinito.

 

Desfile de operários;

É o cafezal alinhado;

São filas de voluntários;

São sulcos do nosso arado!

 

Bandeira que é o nosso espelho!

Bandeira que é a nossa pista!

Que traz, no topo vermelho,

O Coração do Paulista!