No dia 14 de agosto de 1959 os amantes do cinema em São Paulo ficaram de boca aberta. Pela primeira vez na cidade o avô do cinema 3D era disponibilizado para o público. O palco escolhido para essa exibição foi o Cine Comodoro, que foi fechado em 1997 e ficava na Avenida São João. O filme de estreia foi o “Isto é Cinerama”.
O filme era produzido em grandes tomadas horizontais e gerava imagens que transformavam a experiência do espectador. Era uma sessão de “imersão” no filme. Segundo matéria do Estadão da época: “De súbito a tela se amplia e o impacto é poderoso e impressionante. Na tela côncava, aparece um parque de diversões americano, e nele a mais famosa montanha russa do mundo, a de Rockaway Beach. A imensidão da tela e a vertigem das quedas nos trilhos, provoca certos gritos, principalmente femininos.”.
A grande inovação tecnológica era a de que o filme era exibido em três projetores (e em três telas) simultaneamente. A novidade foi tão espantosa que centenas de turistas vieram para São Paulo só para conhecer o cinema.
Uma pequena curiosidade fica por conta da estreia dessa tecnologia no Brasil. Como citamos, esse tipo de cinema chegou ao país em 1959, mas em 1952 ela já causava furor nos Estados Unidos. O periódico “Cine Repórter: Semanário Cinematográfico” de 1952 já falava dessa tendência. Entre as principais colocações feitas pela publicação, está a seguinte, transcrita abaixo:
“O “Cinerama”, a resposta em três dimensões da indústria cinematográfica à enorme divulgação da televisão, recebeu entusiástica recepção por parte da crítica e do público: projeta uma imagem tão real que dá ao público a ilusão de estar participando da ação que se desenrola na tela.”.
Vale dizer, também, que na inauguração do Comodoro, com a tecnologia do Cinerama, o presidente da época, JK veio para a solenidade, mas não conseguiu comparecer ao evento. Embora a administração do cinema tenha tentado antecipar a sessão para que ele pudesse comparecer, acabou não acontecendo.
Segundo registros da época, o Cine Comodoro tinha 1.100 poltronas azuis, colocadas de maneira delicada para que as pessoas pudessem aproveitar ao máximo a experiência do cinema. Esse empreendimento fez muito sucesso na cidade, mas assim como outros grandes cinemas de rua, como o Bijou, acabou sofrendo com a degradação do Centro e foi fechado em 23 de março de 1997.
Referências:
Estadão: https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,avo-do-3d-cinerama-estreou-em-sao-paulo,9202,0.htm
Cine Repórter: Semanário Cinematográfico: http://memoria.bn.br/DocReader/085995/2579
Revista A Cigarra de 1959: http://memoria.bn.br/DocReader/003085/63380
JK não foi à inauguração: http://memoria.bn.br/DocReader/090972_10/49933
Cine Comodoro fechado: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq240317.htm
Lá assisti Dr Jivago. Na bilheteria havia uma prancha de madeira com o diagrama das poltronas e um furo no meio de cada uma, contendo o respectivo ingresso, enroladinho. Você olhava o diagrama, escolhia o lugar e recebia o seu ingresso. Muito legal. Caipira do interior, saí impressionado do cinema e quase fui atropelado na São João por um Simca Chambord do Expresso Zefyr, qua fazia a linha São Paulo-Santos e tinha sede na Ipiranga.
Muito boa matéria sobre o Comodoro, mas há um equívoco (que o Estadão “copiou” do velho semanário Cine Repórter o SP in Foco repete): Cinerama não era/foi “cinema 3D”. Era na verdade um sistema de captação e exibição de imagem com três câmeras e três projetores. Também não seria avô do 3D porque o genuíno cinema em 3 dimensões foi inventado 23 anos antes da estreia de Isto é Cinerama. O autor do invento foi Sebastião Comparato e seu filme, que estreou em 1936, chamava-se A Dama do Século. Penso que vale a pena o portal aprofundar esta informação e publicar uma “matéria emenda”. (Luis Mello Neves)