Tive a oportunidade de viajar recentemente para Campos do Jordão. Viagem gostosa, com um frio suportável e com uma vista maravilhosa da Serra da Mantiqueira. A origem do nome “Mantiqueira” e a importância dessa serra são os temas da curiosidade de hoje.
Começamos a curiosidade dizendo que a Serra da Mantiqueira se junta a outras colegas ilustres, como a Cordilheira dos Andes, Planalto das Guianas, Serra do Mar, Serra Geral, Cadeia do Espinhaço e o Maciço como cadeias montanhosas que ultrapassam 1.000 metros de altitude. Essas maravilhas naturais são pontos de preservação de fauna e flora de milhares de formas de vida brasileiras e dos vizinhos da América do Sul.
Conta a lenda tupi que, em há muitos anos, em tempos idos, uma formosa índia apaixonou-se pelo Sol e que passava todos os dias contemplando e se banhando na sua luz e calor. O Sol, guerreiro forte e do Cocar de Fogo, também estava apaixonado pela índia e passava todo o tempo no céu, para ficar perto de sua amada.
Com isso, não havia noite na Terra. Não havia tempo para descanso, para que as pessoas e animais dormissem e para que o planeta pudesse descansar. Os pastos se incendiavam e os lamaçais ferviam. O calor era insuportável.
A Lua, com ciúme da mulher que lhe roubou a atenção do Sol, foi reclamar com o “poder máximo”, Tupã, que ouviu pacientemente todas as suas reclamações e ergueu um enorme paredão de montanhas para esconder do sol sua nova paixão. A índia, presa no meio das montanhas e impedida de ver seu amado, começou a chorar. E não parou mais.
Dos seus olhos escorreram torrentes de água, rios de tristeza e solidão. E graças a isso a serra foi chamada de Amantikir (nome do parque que tem em Campos do Jordão), que em sua língua mãe quer dizer: a montanha (ou serra) que chora, devido à grande quantidade de nascentes que brotam de suas encostas.
Segundo a lenda, as nascentes são lágrimas da bela índia esquecida entre as montanhas e que ninguém lembra o nome.
Com essa bela história de lado, a Serra de Mantiqueira é um importante conjunto de montanhas para o Estado, como já citado. Com relevantes atributos relacionados à biodiversidade, paisagem, geologia, geomorfologia e hidrologia.
Segundo o Governo do Estado de São Paulo, estudos recentes indicam que a Serra da Mantiqueira é um laboratório vivo e ainda pouco conhecido para todos os campos da ciência, com destaque para a sua biodiversidade.
Pesquisadores estão descrevendo um número imenso de espécies novas para a ciência, entre plantas, anfíbios, peixes de riachos, lepidópteros, além de muitas espécies que ainda não eram conhecidas para o nosso estado.
Estas características permitiram a identificação da Serra da Mantiqueira e Poços de Caldas como áreas de extrema importância biológica desde 2000, durante a oficina “Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos”, organizada pelo Ministério do Meio Ambiente.
A Serra é reconhecida internacionalmente como de extrema relevância para a conservação das aves, constituindo no estado de São Paulo duas IBAS (Áreas Importantes para a Conservação das Aves) da SAVE-Brasil/BirdLife International: Mantiqueira e São Francisco Xavier/Monte Verde. Juntas, estas áreas abrigam populações de pelo menos quatro espécies globalmente ameaçadas de extinção, das quais a mais conhecida é o papagaio-do-peito-roxo Amazona vinacea. Também nessas áreas ocorre uma população do muriqui-do-sul Brachyteles arachnoides, primata em perigo de extinção.
Para preservar esta riqueza, em grande parte desconhecida e pouco pesquisada e que necessita de um status especial de proteção para as presentes e futuras gerações, foi adequadamente proposto o Tombamento da Porção Sul da Serra da Mantiqueira. O tombamento permitirá maior integração da opinião da população residente em estratégias de conservação participativas em escala municipal e regional.
A área proposta para tombamento abrange 21.478 ha, dos quais 78,5% estão cobertos por vegetação nativa (16.852 ha). Somente a Área de Proteção Permanente da rede hidrográfica, estimada a partir da carta IBGE 1:50.000 e considerando 20 m a partir da margem dos cursos d’água e 15 m ao redor das nascentes, representa 1.961 ha (9,1% da área proposta) dos quais 1.635 ha já apresentam vegetação nativa.
O tombamento, além de proteger as APPs de beira de rios, também irá assegurar a conservação das APPs de topos de morro, pois acima da cota 1.800m estão 4.170 ha (19,4% da área proposta), dos quais apenas 1.996 ha possuem vegetação nativa.
De importância equivalente às Serras do Mar e de Paranapiacaba, tombadas desde 1985 pela Resolução da Secretaria da Cultura no 40, o tombamento da Serra da Mantiqueira visa corrigir um esquecimento histórico, protegendo além de sua biodiversidade e do conjunto de seus atributos geológicos e climáticos, a sua diversidade cultural, cuja relevância ultrapassa os limites do estado de São Paulo e do Brasil.
História do Parque Amantikir, em Campos do Jordão
O Parque Amantikir é fruto da mistura de dois ingredientes: insatisfação e encantamento.
Estes ingredientes, aparentemente contraditórios, porém importantíssimos na realização de nossos sonhos, foram essenciais na história do engenheiro agrônomo e paisagista Walter Vasconcellos.
Nascido em Campos do Jordão e apaixonado pela cidade, após viajar por dezenas de parques e jardins da Europa, Estados Unidos e Canadá, voltava das férias sempre com a sensação de que sua cidade merecia um espaço tão encantador quanto aqueles que visitara.
Parecia-lhe injusto: nem mesmo os proprietários dos jardins, a quem prestava serviços como Dr. Garden, tinham a oportunidade de desfrutar da plenitude de jardins tão belos. Imaginem só: uma florada podia ocorrer em plena segunda-feira e no sábado seguinte nada mais restara para ser apreciado!
Essa inquietação foi essencial para germinar a semente de um jardim aberto ao público. Construído numa área que antes abrigara o Haras Serra Azul, o sonho ganhou força através do aporte financeiro de amigos e clientes do Dr. Garden.
No dia 25 de agosto de 2007, nascia o Amantikir.
Após mais de uma década de história, o parque já recebeu milhares de visitantes, de diversas partes do mundo, e hoje conta com apenas dois sócios: Roberto Baumgart e Walter Vasconcellos.
Referências: