Recentemente, na metade de 2022, a cidade e comunidade musical brasileira perderam um membro importante de sua história: a Casa Del Vecchio. Após 120 anos de trabalho intenso e dedicado à fabricação de instrumentos de corda, a loja não resistiu à crise e fechou suas portas.

A história dessa casa, que ensinou dezenas de brasileiros a tocar violão, começa com Ângelo Del Vecchio, italiano nascido em Riposto, na Sicília. Em 1900, como presente de lua de mel, Ângelo ganhou uma viagem ao Brasil onde sua esposa Carmela tinha dois irmãos. Os italianos chegaram por aqui e adoraram São Paulo, o que fez com que decidissem ficar.

O casal Del Vecchio

Ângelo, que já era um luthier reconhecido em seu país, decidiu exercer a mesma função por aqui e abriu uma loja em 1902 no Largo Riachuelo. A Del Vecchio ficou por lá durante 18 anos, quando mudou para a Rua Aurora, onde aumentou significativamente a produção. Angelo Del Vecchio foi inventor de uma série de modelos de violões que foram patenteados, dentre os quais se destaca o “Violão Dinâmico” que é fabricado até hoje.

Em 1948 a empresa passou a ser dirigida por seus filhos e a denominar-se, então, “Irmãos Del Vecchio”. Francisco Del Vecchio cuidava da parte administrativa, e Salvador Del Vecchio da parte técnica de fabricação. Salvador foi responsável pela criação de novos sistemas e estruturas, tais como os chamados “Timbre Vox”, “Super Vox” e “Nylon Vox”.

O balcão da loja nos anos 50

Em 1968, com a inclusão do neto Angelo Sergio Del Vecchio, a firma passou a chamar-se Casa Del Vecchio. Anos depois, já na década de 80, Angelo assumiu, de fato, a gestão e decidiu ampliar ainda mais a marca e o negócio. A empresa se consolidou como uma das mais importantes no ramo de fabricação e distribuição de instrumentos de corda no país.

Sendo assim, a empresa passou a funcionar em outro endereço, quando uma nova fábrica foi instalada no bairro da Lapa, próximo à ponte do Piqueri.

No ano 2000, a Casa Del Vecchio comemorou 100 anos de existência, como um marco histórico na indústria da cidade. Foi nessa época que a empresa lançou o slogan “Por que um século de som não pode passar em silêncio”.


No final de abril de 2022 a casa fechou suas portas.

Em uma postagem no Instagram, os responsáveis disseram que: “Nesse mês a Casa Del Vecchio, fundada em 1902, completa 120 anos. Porém, infelizmente, esses são os últimos dias da loja. No final do mês de Abril estaremos encerrando nossas atividades e por conta disso, todos instrumentos estarão com 30% de Desconto! Estaremos atendendo presencialmente, via Instagram e pelo próprio WhatsApp – (11) 95983-0049. Estamos a disposição para ajudar e sanar quaisquer dúvidas!!”

Ângelo Del Vecchio na terceira geração de músicos da família
Piso que fica em frente à fechada Casa Del Vecchio

9 Comments

  1. É um ícone que se vai. Del Vechio era a marca usada por importantes instrumentistas brasileiros como o Paulinho Nogueira, Garoto, Dilermano Reis. Aqui no Rio vimos o fechamento da Guitarra de Prata e outras lojas que foram referência em instrumentos musicais na cidade.
    Dá uma tristeza. O mundo está mudando e isso é inevitável. Mas é uma era que se vai. E há muito amor e saudade nessa despedida.

  2. Aprendi a tocar com um cavaquinho que me acompanha a 22 anos um Dell Vecchio e o meu xodó tudo que sei foi ele que trás as marcas dos meus calos da ponta de meus dedos , de traste alta , feito para alunos que tem determinação em aprender , porque depois dele todos os outros se tornaram fáceis de tocar , florear , calanguear ou ate mesmo tocar com destreza e sem medo de errar , porque e nele que toda vez que quero ensaiar uma musica nova e o meu amigo que está a ali guardado dentro de seu estojo para guardar seu cheiro de madeira fresca a me ensinar a errar e por fim acertar , meu Dell Vecchio ainda e garoto que acabou de fazer maior idade a me ensinar como e gostoso tocar.

  3. Parabéns e obrigado pela dedicação em fabricar produtos que certamente serão lembrados para sempre. Quem tem, não vende, como eu. Nem por 12 mil.

  4. Sem dúvidas, uma grande perda para a música e a cultura brasileira. Fabricou instrumentos de grande qualidade. Inventou instrumentos originais, como os violões e violas Dinâmicos, e variações criativas e excelentes, como os Supervox, os violões de escala anatômica e os Timbre Vox, que tinham tampos timbrados (pasmem, tampos de madeira afinados em uma nota musical!). Seus violões Dinâmicos são objeto de desejo por músicos dos EUA. O grande Chet Atkins, talvez o maior violonista americano do século XX, tinha vários Dinâmicos e eram seu xodó. Tenho o privilégio de ter em minha coleção alguns Del Vecchio. Também tive o privilégio de anos atrás visitar a Casa Del Vecchio. Foi o crepúsculo da firma de 120 anos. Sofreu bastante nos anos 70 e 80 com as terriveis crises econômicas da época, pois investiu alto para montar uma indústria de instrumentos eletrônicos, seguindo sua irmã Giannini, mas não deu certo e fez a empresa diminuir em tamanho. Só podemos lamentar a perda. Mas daqui a mais 120 anos, o nome e os instrumentos Del Vecchio ainda serão lembrados.

  5. Antigamente no Brasil só existiam quatro fabricantes de violão: A D’giorgio, Giannini, Del Vecchio e o Violão Rei uma opção de instrumento mais barato. Hoje em dia, com ajuda da tecnologia, surgem novos luthier, novos fabricantes, outras marcas importados como da China. Assim sendo, os fabricantes tradicionais acima citados vão deixando de produzir seus instrumentos por falta de compradores e o resultado, fecham as portas. Essa é uma realidade em todos os seguimentos. É muito triste .

  6. Eu tenho a honra de ter um instrumento deles! Eu me mudei para o Canadá e trouxe meu velhinho comigo. Eu fui feliz em visitar a representação da loja na Santa Efigenia em meados de Novembro e Dezembro de 2022, e me parece que existe um rapaz super educado e super atencioso que esta representando a marca mantendo a tradição e a historia do Seu Angelo! Feliz que tinha alguem mantendo o legado vivo da qualidade e tradição!

  7. Tenho um violão DelVechio Segóvia Especial de 2013.
    Pertencia a um colecionador,descobri-o em uma loja na Teodoro Sampaio,e acabei comprando.
    Estou surpreso com a qualidade sonora desse violão. Esta começando a abrir o som,pois quase nunca foi tocado.
    Gostaria de saber qual lughier na épica construiu esse violão. Se alguém souber,fico muito grato.

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