A loja mais querida de São Paulo: a história do Mappin

A trajetória e falência de uma das mais famosas e queridas lojas da cidade de São Paulo, o Mappin, começa muito antes do que qualquer pessoa pode imaginar. A loja de departamento tem seu embrião nascido na Inglaterra, logo após os acontecimentos da Revolução Industrial, no ano de 1774, quando duas famílias, Mappin e Webb, inauguraram na cidade de Sheffield uma grande e sofisticada loja de pratarias e artigos finos. 

Anos depois, devido ao sucesso do empreendimento, os fundadores mudaram a loja para Londres e Buenos Aires e, finalmente, no dia 29 de novembro de 1913, os irmãos ingleses Walter e Hebert Mappin fundaram a Mappin Stores, na Rua 15 de novembro, quando São Paulo era uma cidade de 320 mil habitantes.  Vale destacar que a marca Mappin, foi fruto de uma fusão das empresas Mappin & Webb, atuando em São Paulo desde 1912 e no Rio de janeiro desde 1911, com John Kitching.

Sua inauguração causou grande comoção no chamado “Triângulo” da época, que era compreendido pelas ruas XV de Novembro, São Bento e Direita. O Mappin era tão importante que, Anita Malfatti, em 1914, realizou sua primeira exposição de arte nas dependências da loja.

Na época, o Mappin fora criado para atender à aristocracia paulistana, fruto do grande impulso da fortuna do café e possuía 40 funcionários e 11 departamentos diferentes, todos voltados para algum público específico, como: roupas para senhoras, roupas para rapazes, etc. Para se ter ideia do tamanho sucesso que a loja faria em São Paulo, em 1985, o Mappin contava com 70 departamentos diferentes.

No começo do século XX só a elite paulistana tinha condições de frequentar a nova loja e, curiosamente, foi o Mappin o primeiro estabelecimento comercial a colocar vitrines de vidro na fachada para atrair a atenção dos consumidores.

Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Mappin, nos anos 70.

Cerca de seis anos após sua fundação, a loja se mudou para a Praça do Patriarca e, 20 anos depois, em 1939, foi para a Praça Ramos de Azevedo. A grande contribuição histórica do Mappin para a economia paulistana foi ser a loja precursora do crediário, oferecendo aos seus clientes a possibilidade de dividir e comprar a prazo.

Essa “facilidade”, entretanto, só aconteceu devido à grande crise de 1929, quando o café perdeu grande parte do seu valor e abalou a economia paulista. Visando atingir uma classe mais popular, além de oferecer o crediário, o Mappin colocou os preços em etiquetas na vitrine, uma atitude considerada “ousada” para a época.

A década de 50 foi marcada pela troca de comando na direção da loja. Com a grande dificuldade de se adaptar às novas necessidades, os velhos ingleses saíram da diretoria e o grande empresário cafeeiro, Alberto Alves Filho, assumiu a operação da empresa, trocando os produtos nacionais por importados e trocando a razão social do Mappin para Casa Anglo-Brasileira S/A.

É dessa época as famosas propagandas de TV na extinta Tupi de São Paulo que transformou o Mappin em uma das lojas mais conhecidas do Brasil. Alves Filho também foi o responsável por melhorar o sistema de crédito, em 53, e de montar uma financiadora para seus clientes. Ele permaneceu no comando do Mappin até a sua morte, em 1982.

A grande rede de lojas passou, então,  para a administração de Cosette Alves no ano de 1982, no ano seguinte, o Mappin foi considerado a empresa do ano e em 1984 uma pesquisa do Gallup revelou que 97% dos paulistanos conheciam a loja e 67% já haviam comprado em suas lojas; neste mesmo ano ela foi eleita pela revista Exame deu ao Mappin o titulo de melhor empresa de varejo nos últimos 10 anos.

 

 

Em 1991, o grupo ao qual pertencia o Mappin adquiriu da Sears, outra famosa loja da época, cinco unidades localizadas em shoppings , sendo que duas estavam em Campinas, em 1993 inaugurou em Santos a TV Mappin uma loja onde os clientes escolhiam as mercadorias através de terminais multimídias, criou nesse mesmo ano o Catalogo Mappin Store Company para a venda de produtos importados.

Em 1996, aconteceu uma nova mudança administrativa e o empresário Ricardo Mansur ficou como responsável pelas lojas do grupo, ao comprar a empresa por 25 milhões de reais. Logo de cara, Mansur adquiriu a Mesbla e o Banco Crefisul. Contudo, nenhum de seus planos para a loja deu resultado e nos últimos anos de sua gloriosa existência, o Mappin teve a terrível coincidência de ter uma péssima administração e o encontro com graves crises econômicas, culminando em sua falência no ano de 99.

O Mappin marcou época na cidade de São Paulo, ora servindo de ponto de encontro da elite, ora chamando a massa para acompanhar as liquidações anuais com seu inconfundível jingle “Mappin, venha correndo, Mappin, chegou a hora Mappin, é a liquidação”.