Um dos estádios mais importantes e mais polêmicos da cidade e São Paulo é o Cícero Pompeu de Toledo ou, simplesmente, o Morumbi.

Durante muitos anos, os torcedores do São Paulo escutaram que seu estádio foi construído com dinheiro público e que a equipe devia algum valor a cidade por esse empreendimento. Mas será que a história é verdadeira?

O sonho do São Paulo Futebol Clube de ter seu próprio estádio é antigo. A história conta que o desejo foi consolidado quando o clube surgiu no ano de 1935. De lá até o ano de 1944, diversos campos passaram pela história tricolor: o Campo da Antarctica Paulista e o Canindé são exemplos disso.

Foi nessa época, aliás, que surgiu o primeiro projeto concreto de construção da “casa própria”, contudo, a prefeitura da época atrapalhou o empreendimento, já que o traçado da Marginal Tietê cortaria a propriedade tricolor, inviabilizando o estádio.

Mas, a partir do ano de 1949, a diretoria do São Paulo começou a trabalhar firmemente no projeto para que o estádio saísse do papel.

A diretoria passou, então, a procurar terrenos que fossem grandes o suficiente para as ambições do clube.

É dessa época, inclusive, que um dos dirigentes do São Paulo proclamou a frase que guia o clube até hoje: “Se é para sonhar, que sonhe GRANDE!”. E foi seguindo esse ideal que as sondagens por bons terrenos começaram.

O primeiro terreno consultado oficialmente, foi onde hoje se encontra o Parque do Ibirapuera. Contudo, o vereador paulistano Jânio Quadros  lutou bravamente para que o terreno não fosse vendido e, mais uma vez, o sonho do São Paulo acabou adiado.

Desolados com a precoce derrota, a diretoria passou a procurar novos horizontes para conseguir transformar o sonho em realidade. No ano de 1952, o São Paulo criou a chamada “Comissão Pró-Estádio”, uma autarquia da administração do clube que teria como único objetivo cuidar de toda a demanda necessária para transformar o sonho em realidade.

E o presidente dessa comissão não era ninguém menos do que Cícero Pompeu de Toledo, ex-jogador tricolor. Em agosto do mesmo ano, a Imobiliária Aricanduva doou ao São Paulo Futebol Clube uma parte do terreno onde hoje está o estádio. Uma operação que foi registrada em cartório, como podemos observar abaixo.

Obs: Terreno da Imobiliária para o São Paulo. Como se vê no documento, a prefeitura foi SOMENTE interveniente, ou seja, mediadora e avalizadora do negócio. E isso, graças a uma cessão de parte do terreno do Canindé à prefeitura para a construção de uma das estradas Marginais do Tietê. Voltando à história, vale aqui uma ressalva que, na época, não existiam residências ao redor do terreno.

Morumbi, em construção, no ano de 1959.
Morumbi, em construção, no ano de 1959.

A região era praticamente um deserto e o Morumbi viria para ajudar a desenvolver aquela área inabitada de São Paulo. Com a papelada da primeira parte do terreno em mãos, era o momento de procurar uma construtora e começar a tornar tudo um pouco mais “oficial”.

No final do bom ano de 1952 três empreiteiras se apresentaram para tocar o projeto. O clube analisou friamente todos os projetos apresentados e optou pela Vilanova Artigas.

Foi nessa época que surgiu a primeira maquete do estádio, para o público e a imprensa, em sua sede social que ficava na Avenida Ipiranga.  E o projeto era gigante, tal como o sonho tricolor, um estádio para 120 mil pessoas e com 4 anéis de torcida.

No ano seguinte, o clube acertou com a Companhia Antártica Paulista um contrato de concessão de direitos exclusivos para a venda de produtos dentro do estádio. O valor acertado girava na casa de Cr$ 5.000.000,00, para uso por 10 anos, a partir da inauguração.

O clube também iniciou as negociações para a propaganda no estádio e a venda de souvenires para ajudar na construção. No mesmo período o SPFC recebeu inúmeras doações de sacos de cimento, além de doações em dinheiro de torcedores.

A partir de então, a construção foi, de fato, iniciada. Em julho do mesmo ano se inicia e em dezembro é finalizada a terraplanagem do terreno.

Também nessa época, é iniciado o estaqueamento e a construção das fundações do estádio com 144 tubulões pneumáticos. Cada um desses tubulões possui capacidade de suportar uma carga para 700 toneladas e cerca de 3000 metros de estacas pré-moldadas de concreto armado, com suporte variável de 20 a 30 toneladas cada.

No ano de 1954, a Villanova acertou os direitos de transferência do seu projeto ao São Paulo que, livre, fez algumas alterações na ideia inicial. Uma dessas alterações foi a  substituição das rampas à arquibancadas por bocas de acesso, fato que aumentou em 30% a capacidade do estádio.

No mesmo ano, o São Paulo firmou e rompeu um novo contrato com a Rádio Bandeirantes S/A para a venda das cativas do estádio. O produtor de rádio e TV, Oswaldo Molles acabou nomeado para ser o chefe da campanha publicitária.

Em fevereiro de 54 aconteceu um amistoso entre o Botafogo-RJ x SPFC. Na ocasião, dizem que o então presidente da Comissão Pró-estádio, Cícero Pompeu de Toledo conversou com o presidente Getúlio Vargas para um empréstimo, da Caixa Econômica Federal, ao clube para ajudar no término da construção do estádio. O valor do empréstimo seria de Cr$ 35.000.000,00.

Maquete original para a construção do Morumbi. Imagem de 1971.
Maquete original para a construção do Morumbi. Imagem de 1971.

O presidente do Brasil o recebeu, posteriormente, no Palácio do Catete e iniciou o processo para viabilizar tal dinheiro. Mas o valor solicitado e anunciado nunca chegou às mãos do SPFC.

Em abril de 1955 o SPFC vendeu para o Wadih Saddi, conselheiro do clube, o Complexo Esportivo do Canindé pelo valor aproximado de Cr$ 12.000.000,00 com o objetivo de sanar as dívidas do clube.

Parte do valor da venda foi direcionada para a construção do Morumbi. Portanto o SPFC continua no Canindé até 1957 quando o terreno e suas instalações foram repassados à Portuguesa.

Em outubro o SPFC fechou contrato para a segunda fase das obras estruturais de 6 vãos de espaços gigantes entre os tubulões, mais 3 lances de cativas, vestiários, departamento médico, concentração, portões monumentais e bilheterias. Essas obras só foram iniciadas em 1956. E no final de janeiro de 56 o Conselho Deliberativo escolheu o nome oficial do Estádio do Morumbi: Estádio Cícero Pompeu de Toledo.

Outros 2 nomes foram discutidos para o estádio: Nove de Julho e dos Bandeirantes. Mas a homenagem ao homem que dedicou sua vida à concepção do projeto acabou sendo bastante justa.

Em agosto do mesmo ano o clube inaugurou seu gramado. Gramado especial,  plantado com grama tipo Batatais sob orientação do Instituto Agronômico de Campinas. O espaço  foi demarcado com as medidas FIFA por Vicente Feola.

Uma grande festa e um belo churrasco foram oferecidos à imprensa e, no mesmo dia, as primeiras traves redondas do Brasil também foram instaladas no campo do estádio. No último dia do ano de 1957 o SPFC deixou, para sempre,  o Canindé e a Portuguesa tomou  posse definitivamente de sua nova casa.

Em março de 58 Cícero Pompeu de Toledo foi condecorado pelo Conselho Deliberativo como Presidente de Honra do São Paulo Futebol Clube. Em abril do mesmo ano, Laudo Natel torna-se Presidente da Diretoria Executiva do SPFC e da nova Comissão Pró-Estádio

No ano de 1959, a Imobiliária Aricanduva fez uma nova doação ao São Paulo Futebol Clube. Outra parte do terreno foi repassada ao clube e essa área possuía um valor aproximado de Cr$ 200.000,00. Essa transação também foi registrada em cartório e não constituiu nenhum uso de dinheiro público na concepção da obra.

Uma inauguração parcial do estádio aconteceu em 02/10/60 na partida contra o Sporting Lisboa, de Portugal (1×0 para o São Paulo: 1º gol do novo estádio de Arnaldo Poffo Garcia, o Peixinho).

Peixinho marca o primeiro hol do Estádio do Morumbi.
Peixinho marca o primeiro hol do Estádio do Morumbi.

No final de 64 o SPFC fez um acordo para adquirir a última parte do terreno do Morumbi junto a Imobiliária Aricanduva. Esse pagamento foi  efetuado em março de 1965. Foram vendidas 700.000 unidades do carnê. Eram 6 séries distintas de mais 100.000 unidades cada vendidos a Cr$ 5,00.

Desse montante somente 60 mil foram devolvidos. E, nesse ponto, reside a grande “distorção” por parte dos torcedores rivais. Se os carnês eram vendidos para qualquer torcedor, só pagou o valor e ajudou o SPFC  a construir o clube quem quis.

Em 25/01/70 o clube realizou a inauguração definitiva do estádio em uma partida que terminou empatada por 1×1 entre o SPFC contra o Porto, de Portugal. O público total do jogo foi de 107.069 pessoas.

Assim, se desconsiderarmos na prática a parte que a prefeitura financiou e que foi devolvido, o São Paulo FC recebeu apenas 2,27% do valor total do seu estádio sob forma de recursos públicos. Um valor irrisório pelos avanços na região.

Atualmente, o estádio vive dias de indecisão. A nova diretoria do clube tem projetos para a construção de  uma nova arena enquanto que, alguns conselheiros, um pouco mais conservadores, acreditam que a cobertura seja o caminho mais indicado para manter o glorioso estádio.

6 Comments

  1. Seria interessante agregar ao artigo as informações abaixo:

    – A imobiliária que doou o terreno ao SP tinha como sócio majoritário Adhemar de Barros, na época Governador do Estado do SP que seria posteriormente cassado por corrupção;
    – O vice que assumiu em seu lugar foi o Laudo Natel, que ao mesmo tempo acumulou o cargo de Presidente do SPFC;
    – Laudo Natel também era Diretor Financeiro do Bradesco, que foi um dos bancos a cederem empréstimo para a construção do estádio;
    – Durante a construção o atual Governador de SP, Laudo Natel, determinou que estudantes da rede pública vendessem carnês chamado “Paulistão” para arrecadar fundos à Formatura dos alunos. Porém parte do dinheiro arrecadado foi utilizado na construção do estádio;
    – Fazia parte do acordo da doação do terreno a construção de parques, estacionamento e locais de lazer para benefício da população. Nada foi feito. Tanto que corre em justiça a anulação do terreno para o SPFC (http://spfc.terra.com.br/news.asp?nID=111293)

    Enfim, a história da construção do estádio torna-se muito mais clara quando vemos quem foram os protagonistas e qual o papel que eles desempenharam.

    Isso torna o mundo real !

    1. A imobiliária que doou o terreno tinha um são paulino como sócio. Isso quer dizer que, por ser torcedor de um time, ele vai lesar a sua empresa? E se lesasse, qual o problema? É uma entidade privada.

      O Banco Bradesco não perde dinheiro. Mesmo tendo o Sr. Laudo Natel como diretor, fique tranquilo: eles receberam o dinheiro emprestado.

      A doação do terreno foi para a Empresa Mercantil e Comissionária Merco S.A. Essa empresa é que se comprometeu com a construção de parques e outros itens. Pouco depois, a Imobiliária Aricanduva adquiriu o loteamento. Ou seja, o SPFC não tem nada a ver com esses compromissos assumidos por terceiros.

      Nada como esclarecer os fatos reais.

      1. concordo com vc, ricardo. empréstimo bancário todo mundo tem que pagar e com juros altos. banco não fez caridade ao são paulo, nem a ninguém.

        torcer, todo mundo vai torcer pra alguém. porque o político foi cassado por corrupção que fez algo errado em prol de clube? muito vago.

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