O bairro do Sacomã possui sua história ligada, diretamente, ao empreendedorismo de três irmãos franceses que aqui chegaram em 1886, praticamente no fim do império brasileiro. Os três empresários: Antoine, Henry e Ernest Saccoman vieram de Marselha para o país em busca de novas oportunidades e, graças à expertise de sua família em trabalhos com argila, perceberam uma possibilidade de negócio na cidade. Assim, os três franceses se tornaram os empresários pioneiros em oferecer e fornecer produtos de argila para a população.

Logo ao começar as atividades na cidade, a fábrica dos Saccoman ganhou destaque e, rapidamente, conquistou a preferência dos consumidores se tornando uma referência no setor cerâmico paulista. Vale dizer que a indústria foi fundada em 1893 e a primeira sede foi na região da Água Branca, como uma pequena oficina de telhas de terracota, uma das grandes especialidades da família.

Com o crescimento da demanda e em busca da matéria-prima ideal, os Saccoman acabaram se mudando para Osasco e, posteriormente, para a região de Moinhos, próximo ao Ipiranga, atual Sacomã, onde encontraram a argila apropriada. Quando conseguiram juntar algum dinheiro e conseguiram comprar mais terrenos e constituíram o Estabelecimento Cerâmico Saccoman-Frères.

Foi a indústria dos irmãos Saccoman que desenvolveram as telhas que conhecemos, hoje, como francesas. Elas tomaram o lugar das chamadas “coloniais”, que eram feitas e moldadas artesanalmente nas pernas dos escravos. Os produtos dos irmãos franceses atingiram tal nível de qualidade que, seus tijolos e telhas, foram os escolhidos pelo poder público para compor a linda obra da Estação da Luz no ano de 1901.

Telha feita pelos irmãos Saccoman
Telha feita pelos irmãos Saccoman

Cerca de 20 anos depois, entretanto, Antoine Saccoman veio a falecer e a família vendeu a fábrica e voltou para a França. A indústria passou a ser dirigida, então, por Américo Paschoalino Samarone, antigo funcionário que cresceu dentro da própria cerâmica.

O Bairro do Sacomã

O grande bairro do Sacomã (forma aportuguesada do nome dos empresários franceses) era um lugar bastante “distante” e deserto. Para se ter uma ideia de como era descampado, não era impossível ver o Museu do Ipiranga das terras do Sacomã. Nesse pedaço de terra, aliás, existiam também alguns outros empreendimentos, como os Irmãos Falchi e a Cerâmica Vila Prudente. No mais, a região era habitada por pequenos criadores de gado.

No ano de 1909, quando a linha Fábrica, do bonde elétrico chegou ao bairro, pela rua Silva Bueno, o transporte de operários começou a ser maior. Vale dizer que quase nada dos Saccoman resistiu ao tempo.

Carteira de trabalho com o carimbo das indústrias Saccoman
Carteira de trabalho com o carimbo das indústrias Saccoman

O poço de onde tiravam argila se tornou uma grande lagoa, a área ocupada pela fábrica foi modificada para a construção da Anchieta e, também, deu lugar à construção da favela Heliópolis.  O bairro, historicamente, possui uma tradição proletária e recebeu, em grande número, imigrantes espanhóis e italianos no século XX.

Também serviu como moradia para trabalhadores de indústrias do Ipiranga, da Mooca e do ABC Paulista. Atualmente, o bairro conta com linhas de metrô e um terminal de ônibus que recebe linhas da Zona Sul da cidade e do ABC.  É junto a esse terminal, também, que se inicia a primeira linha do Expresso Tiradentes.

Referências:  http://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2012/09/1150460-almanaque-da-zona-sul-de-sp.shtml?mobile

Revista do Historiador – Nº 145 – Mar/Abr de 2009

22 Comments

  1. Tenho,umas telhas Francesas, e que consta nome da cidade de MARSEILLE, que cobriam a estação eng.GUALBERTO da Estrada de Ferro Mogiana, pensei que fossem fabricadas na França,mas pelo que estou vendo podem ter sido fabricadas no IPIRANGA pelos Irmãos Sacomani.

  2. Como antigo morador do Ipiranga conheci bem o Sacomâ, aliás alí funcionou também a séde social do Clube Atlético Ipiranga, onde havia uma lagoa para esportes aquáticos, o enorme buraco feito pela retirada da argila foi tapado para a construção da Via Anchieta.

  3. Gostei da reportagem. Agora entendo de onde vêm os nomes Sacomã e Samarone….fui muito ao Ipiranguinha, junto ao lago ,na Rua Bom Pastor, formado, presumo , pela retirada da argila. E fui muito ao cine Samarone. E também entendi de onde provém o nome “Fábrica” da linha do bonde…..

  4. Minha infância foi vivida no bairro do Ipiranga, mais precisamente na região onde se situava o Castelinho do Sammarone como era chamado na época. Bem próximo dali, a conhecida Lagoa da Morte, onde hoje se localiza a Praça Monte Azul (ao lado direito de quem vai para a Via Anchieta no sentido Santos), era noticia quase que diariamente pelos inúmeros casos de afogamento.

  5. Pois é! sou paranaense de Londrina_PR e minha avó paterna falecida em 1942 na cidade de Sta Cruz do rio Pardo-SP assinava Saccoman mas sua etnia era de origem
    anos italiana não a conheci´ela foi casada com meu vô João Antonio Alcarde e
    deixou
    anos meu pai órfão aos 17 anos de idade

  6. Americo Sammarone, funcionário que depois adquiriu a Saccoman, era irmão de meu avô. Quando criança frequentava sua majestosa casa (Castelinho do Ipiranga) com lago que fazia parte de seus jardins de um lado, e de outro sede do Clube de Regatas Ypiranga, cedido por meu toi avô.

  7. Praça monte azul Paulista feita no buraco onde tiravam argila. Fica entre a Tancredo Neves e o começo da via Anchieta, bairro moinho velho.

  8. Morei por mais de 40 anos no Sacomã. Árvore das Lágrimas. Estudei o primário e ginásio na Escola prof. Demóstenes Marques.

  9. Adorei saber a história do Sacomã, bairro onde nasci, cresci e vivi até os 23 anos de idade. Hoje resido no interior de SP, mas meu coração será sempre paulistano!

  10. Olá Pessoal. Gostaria de saber se os tijolos com a marca SACOMAN usados na construção da Vila Maria Zélia foram fabricados na França. Grato pela atenção.

  11. Adoro esse site!! Matérias como essa, sobre o bairro onde nasci, cresci e moro até hoje, não tenho palavras pra descrever!!! Sensacional!!!

  12. Foi um crime a extinçâo das linhas de ônibus do Sacomã ao Centro. Hoje temos que perder quase uma hora com baldeações. A linha que faz mais falta é a 123 São Caetano – Parque Dom Pedro II. Hoje a Estrada das Lágrimas perdeu sua ligação com o Centro – assim como o ABC inteiro.

  13. Bom dia, gostaria de saber se alguém ou até mesmo o próprio autor desse reportagem, se teriam uma das telhas ? Gostaria de comprar..Meus bisavós e avós, trabalhavam nessa indústria, seria como guardar uma recordação e continuação da história..Por gentileza entrar em contato comigo pelo meu e-mail. Ficaria muito feliz! Obrigada.

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