Groselha, cachaça e whisky: a história da Milani

“Groselha vitaminada Milani é uma delícia. No leite, no refresco e no lanche, pra tomar a toda hora. Na sua casa, nas festinhas, na merenda/ Tudo fica uma delícia, guarde o nome não se engane, groselha vitaminada Milani. Iahúúú!/ Também no sabor morango e framboesa./ Iahúúú!”.

Com esse famoso jingle, que fez parte da rotina do brasileiro dos anos 70, começamos o resgate da história da Milani, empresa fundada em 1955, na Mooca, pelo italiano Celeste Milani. A ideia da groselha surgiu após o italiano conhecer um químico alemão que lhe apresentou um produto que fazia sucesso na Europa, o xarope que, dissolvido em água, se tornava um refresco dos mais variados sabores.

Os dois decidiram trabalhar em um sabor que caísse no gosto dos brasileiros e chegaram ao resultado do Xarope de Groselha Artificial Milani, que foi o principal produto das Indústrias de Bebida Milani. Vale dizer que a empresa foi fundada na Rua do Oratório, 2319, na esquina com a Rua Natal, no bairro da Mooca. 

O sabor começou a fazer parte da rotina dos moradores de São Paulo após o lançamento da groselha em um Salão da Criança, evento realizado anualmente na cidade, quando Milani distribuiu o xarope, diluído em água, em saquinhos cilíndricos. Um precursor do “gelinho”. Soma-se isso com o jingle que destacamos no começo do texto e o sucesso foi quase instantâneo. Importante dizer que a música foi criação de Edison Borges de Abranches. 

Cachaça, conhaque e whisky: os produtos esquecidos da Milani

Fora a já conhecida história acima, encontramos com exclusividade peças publicitárias e textos que mostram os outros produtos produzidos pela Milani: conhaque, cachaça e whisky “escocês”. 

O recorte mais antigo que tivemos acesso é de 28 de outubro de 1957. Trata-se de uma pequena peça publicitária, veiculada no Jornal “A Gazeta Esportiva”, que destaca o conhaque Milani, “insuperável em todos os cocktails” e envelhecido em tonéis de carvalho. 

No dia 27 de novembro de 1957, no Jornal Correio Paulistano, a principal curiosidade de minha pesquisa: um acordo com a Ballantines para a produção de whisky em São Paulo. Os principais pontos da matéria: 

“Produção de uisque em São Paulo com base em formula escocesa”

“Assinado contrato entre industria paulista de bebidas e a Ballantyne, Stewart & Co. Ltd.. de Glasgow”

“Após um ano de sucessivos entendimentos entre a Industria de Bebidas Milani Ltda.. de São Paulo e a firma escocesa Ballantyne, Stewart & Co. Ltd. de Glasgow, na Escocia, foi assinado em outubro último, pelos representantes de ambas as empresas, um contrato em que a conhecida produtora de uisque autoriza a firma paulista a fabricar essa bebida utilizando a sua formula.

Dentro de sessenta dias

A aludida empresa paulista é uma das que se destascam no setor da produção de bebidas, graças aos modernos recursos tecnicos que emprega. Evidentemente para permitir que seja produzido um uisque da mesma qualidade, com características proprias, a empresa estrangeira solicitou provas cabais dos recursos necessários a esse empreendimento, especialmente com referencia aos processos de fabricação.

Pelos seus principais termos, a industria paulista utilizará os mesmos processos de manufaturação, com a supervisão técnica da firma escocesa.”.

A parceria deu certo e alguns whiskies chegaram ao mercado nacional, fabricado pela Milani. Entretanto, a empresa chegou a aparecer nas páginas policiais, como em 22 de julho de 1958. Na ocasião, como descreveu o Correio Paulistano, “Mascarados empunhando revolveres invadiram a industria de bebidas”. O prejuízo foi de 50 mil cruzeiros, os então proprietários, Roque Luis Milani e Emir Milani ficaram assustados, mas nada de mais grave aconteceu, como podemos ver no recorte abaixo. 

Já em  1º de junho de 1963, no jornal Correio Paulistano há uma nota destacando que a França receberia a primeira remessa de uma aguardente brasileira:  “Pelo vapor “Vierzon”, seguiu para a França a primeira remessa de aguardente brasileira. Trata-se da “Iaúca”, aguardente extra-velha produzida pela Indústria de Bebidas Milani S.A. Tal fato, sem dúvida auspicioso, abre amplas perspectivas para a exportação de produtos similares e uma nova fonte de divisas.

Dentro em breve, todos os super-mercados e grandes mercearias de Paris, estarão proporcionando aos seus clientes a oportunidade de conhecerem uma nova bebida “l’éau de vie bresilienne”, como é chamada a aguardente na França, bem como travando conhecimento com a nossa popular -caipirinha-.”.

O envio de bebidas alcóolicas ao exterior se tornou rotina. Em 1971, cachaças produzidas pela Milani foram destinadas à Bélgica e, em 1972, foram direcionadas à Barcelona.

Por fim, antes de falarmos do destino da marca, destaco algumas propagandas sensacionais, veiculadas em grandes revistas da época, dos whiskies produzidos pela empresa. Há até um desafio de teste cego! 

Infelizmente, com o passar do tempo, a indústria faliu. Em 2015, com milhões em dívidas acumuladas, era possível comprar a marca por R$ 1 real. A marca ainda existe e é possível comprar algumas garrafas, mas não sei mais se o gosto é o mesmo e se a qualidade permanece. Uma pena. 

Referências:

Conhaque Milani (28 de outubro de 1957): http://memoria.bn.br/docreader/104140/8229 

Whisky produzido em São Paulo (27 de novembro de 1957): http://memoria.bn.br/docreader/090972_10/40195 

Assalto à Milani (22 de julho de 1958): http://memoria.bn.br/docreader/090972_10/44019 

Aguardente Brasileira na França (1º de junho de 1963): http://memoria.bn.br/docreader/090972_11/15873 

Propagandas Old Argyll (1962): http://memoria.bn.br/DocReader/004120/45686 

Envio de cachaça para a Bélgica em 1971http://memoria.bn.br/docreader/896179/21039 

Cachaça para Barcelona em 1972: http://memoria.bn.br/docreader/896179/29692 

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