Esse texto tem um sabor especial para mim. Ter um Opala, modelo SS, é um dos meus sonhos desde garoto. Aos poucos, com muito trabalho e dedicação, a gente chega lá. Vamos à história desse clássico que marcou gerações e ainda é objeto de desejo aos mais jovens. O Chevrolet Opala foi o primeiro veículo da marca produzido no Brasil.
O veículo começou a ser fabricado no ano de 1968 e essa produção seguiu por décadas, até o encerramento da linha em 1992. Segundo sites especializados, mais de um milhão de unidades, entre sedãs, cupês e as caravans, foram fabricadas. A Chevrolet estava instalada no Brasil desde 26 de janeiro de 1925 e, inicialmente, montava e, tempos depois, passou a fabricar picapes, utilitários e caminhões até a década de 60.
Em meados dessa década, com a contribuição do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), instaurado pelo governo de Juscelino Kubitschek, foi definida a produção do primeiro automóvel Chevrolet nacional. O embrião do Opala começou a ser planejado em 23 de novembro de 1966, quando a General Motors do Brasil (GMB), fez uma coletiva no tradicionalíssimo Clube Atlético Paulistano, aqui em São Paulo, para anunciar o começo do projeto 676. Ou seja: o novo veículo não tinha, ainda, um nome definido.
Entretanto, em uma entrevista para o jornal A Tribuna, de 14 de janeiro de 1968, o presidente da GMB falou do projeto. Abaixo a transcrição da fala do executivo e, no final do texto, o link para a página original do jornal:
“A introdução dos padrões de qualidade Chevrolet no mercado brasileiro de automóveis acaba de ser anunciada pelo sr. Damon Martin, presidente da General Motors do Brasil.
Falando sobre o lançamento do primeiro carro de passageiros da empresa no Brasil, esperado para o segundo semestre do corrente ano, sr. Damon Martin assinalou que esse carro “faz parte da consagrada família Chevrolet, a linha de automóveis mais conhecida em todo o mundo”.
Carro Médio
A propósito das notícias segundo as quais o carro da GMB não passaria de uma adaptação brasileira do Opel Rekord alemão, o sr. Damon Martin esclareceu:
“O Chevrolet Opala, como decidimos denominá-lo será efetivamente um carro de porte médio, comparável ao modelo Rekord que a GM produz na Alemanha. Todos os seus componentes mecânicos, entretanto, pertencem a um projeto Chevrolet desenvolvido especialmente para as condições brasileiras.”.
Reafirmando que não se trata, pois, nem de uma adaptação do Opel Rekord, nem de um modêlo do porte do Chevrolet Americano, mas sim de um automóvel de tamanho médico com mecânica Chevrolet, o presidente da GMB revelou que sua empresa está trabalhando para produzir um carro com as características exigidas pelo público. Ampla pesquisa de mercado revelou ser desejo da maioria possuir um carro de tamanho e preço médios.
“Nossa experiência de mais de 40 anos no mercado automobilístico brasileiro complementou as indicações dessa pesquisa e forneceu as recomendações finais para o projeto ora em desenvolvimento.”.
Dois anos mais tarde, em 23 de novembro de 1968, ele era apresentado ao público na abertura do VI Salão do Automóvel, realizado no Pavilhão de Exposições do Ibirapuera. O Opala aparecia sobre um palco giratório em um estande de 1.500 m².
Ele atraía os olhares em duas versões: a standard e de luxo, equipados com motores motor 2500 de quatro cilindros (80 cv) ou o 3800 de seis cilindros (125 cv), números remetiam à capacidade dos motores 2.5 e 3.8 litros. Vale dizer que, anos depois, viriam as versões Caravan, Comodoro e Diplomata, sendo essa última a de aposentadoria do modelo.
Em torno da novidade, espetáculos artísticos eram encenados a cada meia hora, além da presença do piloto inglês Stirling Moss e as misses Bahia, Brasília, Espírito Santo, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul, Rondônia e Roraima que recepcionavam os visitantes.
O lançamento foi um verdadeiro sucesso, com muita ansiedade do público pela entre das primeiras unidades e propagandas de marketing muito bem feitas para despertar a curiosidade do público. Uma curiosidade muito legal que vale ser lembrada é que, em 1974, a marca lançou o modelo Opala Pantera Rosa, destinado ao “público feminino”.
O ano de 1980 foi o de maior sucesso do modelo. Na ocasião, foram fabricados 76.915 exemplares. O veículo ainda carrega uma curiosidade: seu nome. Segundo diversas fontes, Opala teria surgido de dois locais, O primeiro seria a junção de Opel com Impala. A primeira é subsidiária da General Motors na Europa, cujo modelo alemão Opel Rekord serviu de inspiração para o formato da carroceria. Já o Impala era um sedã de grande porte americano, que emprestou parte de seu estilo ao médio brasileiro.
A segunda, menos criativa, seria uma analogia à pedra preciosa encontrada em vários países, como Austrália, Brasil, entre outros.
Outro modelo, o SS, também gerou curiosidade à época. Apesar da lenda urbana falar em Super Sport, na verdade, o SS era em referência aos bancos do modelo que não eram mais inteiriços. O SS era de “Separated seats”.
Por fim, a última curiosidade fica por conta de Juscelino Kubitschek que faleceu em um desses veículos. O construtor/fundador de Brasília morreu em um Opala 1970. Segundo a polícia, perto de Resende (RJ), saindo de São Paulo, ele foi atingido por um ônibus e, sem controle, acabou atravessando um canteiro e bateu em um caminhão.
O presidente estava no banco de trás e só foi identificado pelo RG que levava consigo.
Referências:
Entrevista com o presidente da Chevrolet sobre o “carro médio”: http://memoria.bn.br/DocReader/153931_01/76590
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