Um dos times operários mais antigos de São Paulo corre o risco de acabar devido ao fim de um acordo com uma grande multinacional. Início de texto esquisito, né? Mas ele tem tudo a ver com a Vidraria Santa Marina, empresa que foi um marco no desenvolvimento industrial da cidade.
Criada em 1895 pela iniciativa de Elias Fausto Pacheco e Antonio da Silva Prado, aquele mesmo, um de nossos primeiros prefeitos, a empresa surgiu como Prado & Jordão.
A fábrica da empresa ficava perto do Rio Tietê, fonte natural de areia branca de boa qualidade e água pura, essencial para a fabricação do vidro. É possível dizer que a Santa Marina foi importante para a urbanização de bairros como a Água Branca, Pompéia, Lapa e a Freguesia do Ó.
Na época de constituição da fábrica, esses lugares eram campos isolados e sem muitos moradores. A chegada da Santa Marina mudou esse panorama. Os proprietários fizeram questão de erguer um conjunto habitacional perto da empresa para acomodar seus operários.
As casas eram modestas, mas tinham “luxo” para a época: água, luz elétrica e carvão para os fornos domésticos. As escolas da vila operária também eram boas: as crianças aprendiam português, francês e italiano.
Em 1901, Antonio Prado se tornou o único proprietário da empresa e, dois anos depois, muda seu nome para Companhia Vidraria Santa Marina, em homenagem a uma de suas filhas. Com o falecimento de Antonio Prado em 1929, seu filho assume o lugar e a linha de produtos passa a se diversificar ainda mais: frascos para perfumes, vidro da garrafa do Leite de Magnésia Philips e fracos de penicilina.
Uma pequena curiosidade fica por conta da Vidraria Santa Marina ter vendido, a preço de custo, vidros para acondicionar mel para os soldados feridos na Revolução de 32. Recortes de jornais da época, como o visto abaixo, mostram que os paulistas doavam mel e, o próprio jornal, indicava que os frascos ideais eram os da vidraria.
Nos anos 50 a empresa se aprimorou e montou um complexo forno para construir os refratários de vidro para suportar altas e baixas temperaturas, os famosos Marinex que depois deram origem aos Duralex e Colorex.
A chegada dos anos 60 trouxe outra mudança: a empresa passa para a Saint-Gobain, famosa por sua tradição na produção de vidro. É essa mudança de dono, aliás, que propiciou o começo “estranho” do meu texto. O clube Santa Marina Atlético Clube, fundado por operários da famosa vidraria, ocupa um terreno que a Saint Gobain quer de volta. A agremiação foi fundada em 1913 e está no local desde os anos 40.
Por muitos anos, a empresa e o clube dividiam espaço na Água Branca, mas desde que a empresa passou para o conglomerado francês, tudo mudou. Vale dizer que a área é avaliada em R$83 milhões. O contrato de comodato que fora assinado em 2009 com a empresa está para vencer e as chances do Santa Marina conseguir reverter a decisão judicial é praticamente nula. São menos de 120 dias para desocupar o local.
Como consolo, parte do complexo industrial da Santa Marina foi tombado como patrimônio histórico e cabe a nós cuidar dessas memórias.
Referências: http://historiasdalapa.blogspot.com/2010/02/industrializacao-santa-marina-uma-marca.html
É interessante ressaltar a grande contribuição da Santa Marina na produção de vidros temperados para automóveis, distribuídos, em sua maioria, aos fabricantes nacionais na década de 1970 (Volkswagen, GM e afins). Ótimo texto, sucesso!
trabalhei na santa susana mineração, prodição de areia para fabricação em são vicente e depois passei para a fabrica em são vicente santa marina fabricação de vidro fantasia, me aposentei em 2001, foram dezessete anos, comecei na produção embalagem, e trabalhei em todas as seções da unidade até pasar a supervisor de produção. Sinto saudades foram anos de apredizagem;
Olá boa tarde!
Gostaria de saber como conseguir o nome de um funcionário da empresa dos anos 68/69. E muito importante, só tenho o primeiro nome: Valdomiro. Ele era do setor da contabilidade
Meu avós moravam na Vila dos operários, pois meu avô trabalhou na vidraria acho que até os anos 60. Meu pai e mris tios também trabalharam na vidraria. Jogavam bola e faziam esportes no clube da Santa Marina. Brinquei muito nos brinquedos desse clube. Saudades.
Ainda funciona a empresa?
Excelente trabalho de história de nossa cidade.
Um dia quem sabe consigo um tijolo dessa importante parte da nossa história para nosso acervo.
Morei nessa vila de operários. Era a chamada “Vila Velha”, depois moramos do outro lado da avenida Santa Marina, na “Vila Nova. Nasci ali. Meu pai trabalhava e se aposentou em 1980 na Santa Marina, ou melhor, “Santa Mãe Marina”, como ele chamava a empresa…
Oi João!! Eu tbm morei com meus avós na Vila Velha e com meus tios na Vila Nova!!! Mas acho que foi bemmm antes de vc, foi de 1954 até 1960!!! Ficou no coração as boas recordações!!!
Nancy, poderia me dizer a localização exata das vilas. Ficavam dentro dos muros da fábrica? Ou ficavam na avenida Santa Marina? Ou outra rua?
Quando criança viajava com meu pai de Curitiba para São Vicente buscar chapas de vidro para vidraçaria cometa . Saudades dos bons tempos em que ficava na praia esperando carregar o caminhão para voltarmos pra casa.
Hoje dia 30/07/22 ,as 15:30 horas acabei de ler essas histórias, nesse momento estou trabalhando aqui, sou segurança, estou de frente aos galpões, um deles é Forno 16 Duralex. Confesso que fiquei emocionado, de ler histórias e está pessoalmente no local que foi senario de pessoas que se foram que Deus levou, e fico imaginando seus filhos que estão contando histórias lindas daqui. Pra esse é um momento mágico. 👏🙏
Gostaria de saber aonde compro tampa para,minha marinex, pois a tampa de plastico quebrou e a peca em vidro nao.
O capital francês sempre acreditou no Brasil.
Eu nasci na Vila Velha, casa 77.
Me emociona muito ler e lembrar do meu pai… Ele amava esse lugar
quero saber se esta citada e´ a santa marina de maua pois morei la ate 2001 e nos anos noventa ouvi falar que tinham um concurso que premiava a garrafa mais velha fabricada por voces e meu pai tinha mas nao quis perde-la na epoca hoje ele faleceu e eu a tenho e´ de biter russo de 1936 na epoca me lembro que a mais velha foi de champagne de 1951 se tiverem interesse e se for a mesma santa marina entrem em contato desde ja obrigado.