O consórcio de veículos de imprensa, responsável por compilar dados de casos e mortes por Covid-19, foi uma iniciativa importante que mostrou a união das empresas de comunicação para um bem comum: a informação correta e bem apurada.
Entretanto, se essa novidade chocou muitas pessoas por seu “ineditismo”, em São Paulo não é a primeira vez que esse fenômeno ocorre. Fuçando pelos acervos públicos da Biblioteca Nacional, encontrei uma curiosa história que foi intitulada, no Correio Paulistano de 8 de fevereiro de 1948, como: “A imprensa ofereceu automoveis para que os <<comandos sanitarios>> pudessem prosseguir.”.
E a linha fina do jornal diz o seguinte: “Contratados automoveis pelo Correio Paulistano, Jornal de São Paulo, Diarios Associados e A Época, para o “comando” de ontem. E, assim, foi interditada uma fabrica de doces, a “Neusa”.”.
Interessante observar algumas coisas, antes da ação propriamente dita dos veículos de imprensa no dia 8. No dia anterior, 7 de fevereiro, o mesmo jornal trazia em sua manchete que a fábrica de doces Confiança fora interditada devido à inúmeros problemas, como: ninh de ratos em sacas de farinha, sujeira no chão da fábrica, etc.
O resultado foi o descarte de 1.200 quilos de doces, além do comprometimento de outros 50.000 quilos de doces e 700 quilos de balas, fabricados em condições precárias. Nessa mesma matéria, há o destaque de que os comandos (como eram chamadas essas blitzes), estavam “ameaçados de morte” por falta de transportes.
A matéria destaca a blitz feita pela polícia e chega a falar em sabotagem dessas ações e destaca o apoio irrestrito da imprensa para ajudar o poder público a fazer seu trabalho:
“Os jornais têm dado pleno apoio, aumentando grandemente, o efeito dessa brilhante campanha e quase todos têm usado autos de aluguel. O Correio Paulistano está mantendo estas reportagens com grande dispendio, mas o faz porque está a serviço do povo, cuja saude deve e precisa ser defendida. Portanto, é uma surpresa a falta de veículos para os “comandos” e, segundo fomos informados, a fiscalização permanente sofre, com essa falha, a maior dificuldade, que há somente um auto para 18 médicos.”.
Após a conclusão da blitz citada acima e todos os problemas que os repórteres presenciaram, uma mega ação foi organizada, como citado acima.
A matéria do Correio Paulistano trouxe pesadas palavras contra o poder público: acusavam-se oficiais de alta patente de rodar pela cidade sem motivo algum com viaturas da “polícia central”, além de destacar a importância dessas ações, já que algumas crianças foram “envenenadas” após ingerirem doces que estavam em condições ruins.
Além disso, durante o texto, o jornal ainda deu destaque a um importante ponto:
“Ontem, às 15 horas, como fora marcado, deveria sair o “comando” chefiado pelo Dr. Orlando Vairo. A hora da saída, o Dr. Nicolino Morena informou aos reporteres de que “hoje não ha comandos, não temos automoveis e não posso dispor nem do meu motorista. Nada temos hoje e nada faremos”. Foi quando o nosso reporter se prontificou a oferecer automoveis de alugue afim de que não houvesse solução de continuidade da ação dos “comandos”, tão necessários tão uteis dado o estado deploravel em que se encontram a industria e o comercio de generos alimenticios, doces, casas de pasto, hoteis, etc.”.
……
“Ao oferecermos autos de aluguel para os “comandos” de ontem, imediatamente os representantes dos jornais “Diarios Associados”, “Jornal de S. Paulo” e “A Época”, apoiaram a ideia e fizeram questão de colaborar com parcelas que seriam divididas entre os quatro órgãos da imprensa paulista.”.
Após o relato completo do aluguel e da sugestão de que houvesse uma subscrição pública, o comando foi para as ruas e interditou algumas empresas, como foi o caso da Biscoitos Bella Vista, da fábrica de doces Neusa e a Confeitaria Erbe.
Referências:
Jornal O Correio Paulistano do dia 7 de fevereiro:http://memoria.bn.br/docreader/090972_09/36296
Jornal O Correio Paulistano do dia 8 de fevereiro: http://memoria.bn.br/docreader/090972_09/36302