Um dos mais importantes paulistas do século XIX, José Paulino Nogueira, teve uma infância simples e humilde na cidade de Campinas. Nascido da união de Luiz Nogueira Ferraz com Gertrudes Eufrosina de Almeida Nogueira, José era o quinto de doze filhos do casal que, apesar de tradicional, possuía poucos recursos financeiros.

 Desde muito cedo, Paulino demonstrava imensa dedicação ao trabalho. Aos 12 anos, quando ia trabalhar na loja de Bento Quirino dos Santos, ia descalço até a entrada de Campinas para economizar a sola de seu sapato.  

Iniciou ali como caixeiro e, logo, já era gerente e depois sócio do patrão na Santos, Irmão & Nogueira, uma casa comercial da cidade que ficou conhecida por “Sociedade Anônima de Interesse Geral”, “instituição” frequentada por políticos e intelectuais da época. Nos diversos encontros em que participou, Paulino fez uma amizade duradoura e verdadeira com Campos Salles. Anos mais tarde, inclusive, as famílias se uniriam: seu neto, Paulo Nogueira Filho, casou-se com Regina Coutinho, neta do ex-presidente da República.

Voltando à Sociedade Anônima, o local reunia empreendedores que tinham tino para o interesse público da cidade e da Província de São Paulo. Ali, Campos Salles, Francisco Glicério, Jorge Miranda, Francisco Quirino, Américo Brasiliense e Salvador Penteado se reuniam para discutir ideais antimonarquistas e defender o fim da escravatura no país. Essa importante loja ficava no Largo do Carmo, na esquina das Ruas Benjamin Constant e Sacramento onde,  hoje, existe uma placa de mármore com agradecimento do povo a Bento Quirino e José Paulino quando aconteceu uma grande epidemia de febra amarela na cidade.

Na última fase do império brasileiro, quando já era um dos membros mais ilustres do Partido Republicano, José Paulino foi eleito para o cargo de vereador na cidade de Campinas na mesma legislatura de Júlio de Mesquita e Salvador Penteado. Em março do ano de 1889, com o surgimento da epidemia de febre amarela, como citamos acima, Paulino foi uma das poucas autoridades da cidade a não abandonar o local.

A situação se tornou caótica e, de um simples vereador, Paulino teve que assumir a prefeitura de campinas. Ele mobilizou sócios, cidadãos, clientes de sua loja e apelou à capital junto aos seus amigos, Campos Salles e Francisco Glicério, para que fosse possível arranjar ajuda para a conclusão dos serviços de canalização de água potável e de instalação de uma eficiente rede de esgoto. Seu objetivo, obviamente, era fazer Campinas se livrar dos poços e das fossas, que facilitavam a reprodução do mosquito transmissor da enfermidade.

Para se ter ideia da situação, no dia 2 de abril de 1889, ele enviou um apelo ao seu amigo Glicério com os seguintes dizeres: A epidemia recrudesceu bastante de cinco dias a esta parte; pelo obituário, podes calcular o que vai por aqui, é um horror! Não há espírito, por mais forte que seja, que tenha a necessária calma no meio de tanta desgraça. Pobre Campinas. Parece-me que nunca mais poderá levantar-se pujante como já foi. Você, Moares, Campos Salles e outros filhos desta terra, que aí estão com o espírito fresco e calmo, pensem e ponham em prática tudo o que for para facilitar o empréstimo da Companhia Campineira de Águas e Esgotos, que é a única salvação desta cidade. Adeus, até por cá, se vivermos.”

Com a proclamação da nossa República, ele fica na direção da cidade até ser nomeado, oficialmente, intendente municipal da nova era que começava no país. No ano de 1890 a fatalidade age, novamente, contra a cidade campineira e um novo surto de febre castiga a região. Mantendo a energia à tona, ele conduz as obras de saneamento e, o povo, em sinal de agradecimento, junta uma vultosa soma de dinheiro e inaugura uma placa de mármore na sede da loja para homenagear sua dedicação.

Na Câmara Municipal, outra homenagem: seu retrato oficial, que fica na sala de reuniões, leva a seguinte legenda:  “José Paulino, o presidente que não abandonou o posto nos dias tenebrosos de 1889”. Em uma cerimônia, quando foi homenageado por amigos e parentes próximos, seu médico, Eduardo de Guimarães, ressaltou: “Atacado pelo morbo, esse abnegado campineiro me suplicava: ‘Doutor, eu não posso morrer, porque Campinas ainda sofre muito e precisa dos meus serviços!’”.

Superada a doença, tanto a sua quanto a de Campinas, Paulino volta à política e é reeleito presidente da Câmara Municipal da cidade em 1892 e, com isso, fica à frente da administração de sua amada cidade. Com o poder, Paulino é o responsável por baixar duas leis: isenta de impostos e taxas as sociedades cooperativas de consumo e um empréstimo de 400 contos de réis, com juros de 6% ao ano, para que a Companhia Carril Agrícola Funilense concluísse sua linha de trem de Campinas ao inóspito e desocupado bairro do Funil, até então isolado da cidade e dos centros mais próximos, Limeira e Mogi Mirim.

Um novo negócio e sua chegada à São Paulo

Já no final daquele século, José Paulino, junto aos irmãos Arthur e Sidrack, o cunhado Antônio Carlos da Silva Teles e o genro Paulo de Almeida Nogueira decidiram ir à Fazenda Funil, hoje na cidade de Cosmópolis, e inaugurar a primeira grande indústria de Campinas, a Usina Ester, antes, apenas,  uma engenhoca de álcool. Vale a curiosidade que Ester era o nome de sua filha mais velha.

Após essa iniciativa, Paulino veio à cidade de São Paulo e se associou à firma Teles & Neto, de Santos, e levou para a empresa seu antigo patrão e sócio Bento Quirino dos Santos. No ano de 1910, Paulino assumiu a presidência da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, cargo que ocupou até 1915, quando faleceu.  Além disso tudo que citamos aqui, ele ainda foi o primeiro presidente do Banco Comercial e fundou com Cardozo de Almeida, Urbano Azevedo e Veriano Pereira, a Companhia Paulista de Seguros. Com parte do que ganhava, ajudava a sustentar a Santa Casa de Misericórdia e o Liceu de Artes e Ofícios de Campinas (hoje Liceu Nossa Senhora Auxiliadora).

Sua vida pessoal se resume ao casamento com Francisca Coutinho Nogueira, falecida em 1895. Viúvo muito cedo, não mais se casou. A filha Ester assumiu o comando da casa e serviu de segunda mãe aos irmãos.  José Paulino faleceu em São Paulo e está sepultado no Cemitério da Saudade, em Campinas, próximo de dois companheiros de toda a vida: Campos Salles e Francisco Glicério. Seu nome, Paulino, é homenageado na cidade de Paulínia e ele empresta, também, a nomenclatura a uma das ruas da nossa cidade.

3 Comments

  1. Excelente cidadão e político como poucos, enche de orgulho a cidade de Campinas!! Passei a gostar mais de José Paulino depois de ler sua história. Parabéns a ele!!!

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