A história da política paulistana passa por gestores ruins, pessoas com o natural instinto de liderança e grandes líderes. A trajetória do sexto prefeito da nossa história mostra que a terceira opção é perfeita para suas realizações.
José Pires do Rio era um homem de multitalentos. Foi geólogo, economista, especialista em transportes, jornalista, Ministro da Viação e Ministro da Fazenda. E todo o seu talento já começava a aparecer na adolescência.
Quando voltou de viagem, iniciou uma grande carreira como técnico em diferentes áreas de portos e ferrovias, além de ser o responsável por escrever um estudo fundamental sobre a péssima qualidade do carvão brasileiro.
Após boas atuações, foi convidado para assumir o Ministério de Viação, no governo do presidente Epitácio Pessoa, quando desenvolveu estudos importantes sobre as possibilidades energéticas brasileiras principalmente no campo de hidroeletricidade. Após sua saída do governo elegeu-se deputado federal por São Paulo e pouco depois foi convidado por Carlos de Campos, presidente do estado, a assumir a prefeitura de São Paulo.
A Atuação Como Prefeito
Durante a gestão de Pires do Rio, foram iniciadas as primeiras obras de retificação do Tietê, a partir das sugestões de uma comissão chefiada pelo engenheiro Saturnino de Brito. Vale o destaque que, se as medidas sugeridas 70 anos atrás tivessem sido cumpridas à risca, as inundações em São Paulo não teria atingido as proporções dos dias atuais.
A comissão, criada durante a gestão de Firmiano de Moraes, sugeria a construção de barragens antes do Rio Tietê ingressar na cidade, o que traria um controle de vazão maior e menor possibilidade de desastres naturais.
Além disso, previa-se uma retificação do rio, intercalada com diversas lagoas que absorveriam os excesso de água do verão, ou seja : “piscinões” a céu aberto, que compensariam o aterramento das lagoas naturais antes existentes nas várzeas do Tietê, Tamanduateí e Pinheiros.
Pires do Rio era um visionário e, naquela época, já se preocupava com o sistema viário paulistano. Curiosamente, foi sua a iniciativa de encomendar ao urbanista Prestes Maia um “Estudo de um Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo”, o qual seria executado posteriormente em boa parte por Fábio Prado, pelo próprio Prestes Maia e Faria Lima.
O túnel Tom Jobim sob a avenida Senador Queirós, construído recentemente, já estava previsto nesta proposta. Entre suas obras destaca-se a construção de um grande trecho da Avenida São João, entre a Avenida Ipiranga e a praça Marechal Deodoro, e o prosseguimento de parte das obras da avenida 9 de Julho.
Durante os anos 20 a cidade foi invadida pelos automóveis, notadamente o Ford T, conhecido popularmente como “Ford Bigode”. A linha de produção inventada por Henry Ford em 1917 havia barateado o preço do automóvel, tornando-o acessível à emergente classe média paulistana.
As forças da natureza também conspiraram contra os bondes. Uma forte seca ocorrida em 1924 e 1925, ainda durante a gestão anterior de Firmiano Morais Pinto, forçou a Light a racionar energia elétrica e diminuir o número de bondes em circulação, dado que o sistema dependia totalmente da hidreletricidade.
Diante da necessidade, a Prefeitura passou a permitir a abertura de diversas linhas de ônibus, algumas da própria Light.
Movidos a combustíveis e independentes da rigidez dos traçados dos trilhos, os ônibus se espalharam pelos bairros, permanecendo com suas linhas mesmo após a superação da crise de energia elétrica.
Os “mamãe-me-leva”, nome afetivamente dado pela população aos ônibus, haviam rompido irreversivelmente o monopólio dos transportes urbanos da Light em São Paulo.
A companhia canadense ainda tentou uma reação para recuperar o monopólio perdido. Em 1927 apresentou uma proposta à Prefeitura e à Câmara de um sistema misto de bondes e ônibus, a qual previa linhas subterrâneas no centro, tal qual um metrô.
O “Plano Integrado de Transportes” foi rejeitado, principalmente por conter duas cláusulas consideradas abusivas: o monopólio das linhas de ônibus e o aumento das tarifas. Durante sua gestão na capital paulista, foram iniciados o projeto e a construção do Parque do Ibirapuera.
Convidado pelo Conde Pereira Carneiro, tornou-se o principal executivo do Jornal do Brasil. Em 1945 licenciou-se para assumir o Ministério da Fazenda no governo transitório de José Linhares, logo após a queda de Getúlio Vargas.
Em Goiás, o município de Pires do Rio leva o seu nome como uma homenagem póstuma.