Todo mundo passa por uma importante rua de São Paulo, mas não faz ideia da importância do personagem que empresta seu nome a ela. Contaremos hoje, a história de Líbero Badaró.
Giovanni Battista Líbero Badaró (ou Dr. João Batista Líbero Badaró) nasceu em 1798, na Itália. Foi jornalista, político e médico, graduando-se pelas universidades de Turim e Pávia, na Itália. Chegou ao Brasil no ano de 1826, com 28 anos de idade. Escolheu viver em São Paulo e decidiu lutar com as correntes liberais que pregavam a autonomia do estado brasileiro.
Foi um militante ativo nas lutas pela independência do país. No ano de 1830, fundou o jornal “Observador Constitucional” onde denunciava os desmandos e excessos cometidos pelos governantes. Já no primeiro dia de circulação, escreveu: “Não devia vegetar no Brasil a planta do despotismo”.
O jornal era um bissemanário sem anúncios, de 30 cm de altura por 20 cm de largura, quatro páginas e vendido por 80 réis, impresso na tipografia de José da Costa Carvalho, Barão de Monte Alegre e, dono do jornal “O Farol Paulistano”, que já circulava na cidade.
O Atentando Ao Jornalista
O acontecimento que coloca Badaró como o primeiro mártir da história da nossa imprensa ocorreu no dia 20 de novembro de 1830. Segundo relatos da época, fazia uma linda noite com um luar anormal sobre a cidade. Naquele sábado, o jornalista estava jogando cartas na casa de um amigo quando, às dez horas, decide ir para sua residência, que ficava na Rua São José, atual Líbero Badaró.
Em uma das esquinas para sua residência, dois vultos o esperavam. Um deles, o alemão Stock, aproxima-se e começa um diálogo com o jornalista:
– Doutor!
Badaró responde de maneira gentil:
– Que há?
– Era um artigo que eu queria que o doutor publicasse em seu jornal.
– Está bem. Leve-o amanhã à redação. Apareça!
– O artigo é contra o doutor Japiassú.
– Está bem. Leve-o amanhã, na parte da manhã.
O segundo vulto chega perto do jornalista, Badaró quase não vê, e ouve a seguinte frase:
– O artigo é este…
E acontece o assassinato com um tiro de pistola. O jornalista, ferido no ventre, cai na rua, surpreendendo os transeuntes. O povo, revoltado com aquele crime bárbaro, cerca a residência do Ouvidor Geral, principal autoridade do vilarejo, pedindo providências. Os assassinos foram presos no quintal de Japiassú.
Em sua modesta casa na Rua São José, Badaró, rodeado pelos estudantes e amigos, agoniza. Conta-se que, os médicos procuravam animá-lo e, em certo momento, sua cabeça pendeu. Quando os rapazes correram para ajudá-lo, ele os pede para parar com um gesto e diz:
– Não há necessidade, é a morte.
E, com um lampejo de entusiasmo, diz:
– Morre um liberal, mas não morre a liberdade!
A história diz que ele morreu na sequência e, como homenagem, teve a rua em que morreu renomeada com sua alcunha. Se pesquisarmos outras fontes, é possível achar até mesmo a suspeita de que Badaró fora morto por ordem do imperador Pedro I.
A contribuição de Líbero Badaró para a defesa da liberdade de expressão vai além da tragédia pessoal. É seu um dos primeiros escritos publicados no Brasil em defesa da liberdade de imprensa, refutando sempre a tese de que os abusos praticados pela imprensa justificariam o cerceamento da liberdade.
Após o desaparecimento de Badaró, o Padre Marciano Gomes Batista, seu amigo, dedicou à sua memória o seguinte soneto:
“Seja-te leve a terra – és grande, és justo!
Corajoso escritor, Pátria esteio.
Outrora ele te viu sem vil receio
Regar de Liberdade o tronco augusto.
Perigos venceste, subjugaste o susto,
Ao despotismo audaz puseste um freio.
Viste de benção mil, glórias cheio
Triunfar a razão, mas não sem custo.
Ah! Se podem soar na eternidade
Os tristes ecos do magoado pranto
Que em nós excita funeral saudade
Atenda lá do encargo sacrosanto
A dor pungente, a lúgrebe ansiedade
Do Brasil em perder-te, perdeu tanto!”
Com sua morte, aumentaram o descontentamento e as manifestações de protesto contra o absolutismo de D. Pedro I, que abdicou em 7 de abril de 1831. A fonte da maioria das informações é o livro “Nascimento da Imprensa Paulista”, escrito por João Gualberto de Oliveira e publicado em 1978.