Com a morte dos jovens, foi dado o estopim para a revolução. Graças aos grandes meios de comunicação que já alcançavam grande parte dos paulistanos, o movimento começou a ganhar o apoio popular e conseguiu mobilizar cerca de 35 mil pessoas durante todo o conflito.
Aconteceram diversas batalhas armadas durante os três meses de revolução. Pelo lado dos paulistas, havia a esperança que outros estados se juntassem e fossem capazes de apoiar à causa, mas São Paulo acabou isolado durante toda a luta, resultando na batalha de “um estado contra todo o país”.
Diversas foram as lutas que marcaram essa terrível embate entre paulistas e brasileiros. A batalha de Itapira, por exemplo, deflagrada entre a última semana de agosto e as primeiras duas semanas de setembro, foi uma das mais famosas e sangrentas.
Em julho daquele ano, a cidade começou a se preparar para os embates inevitáveis que aconteceriam pela região. Alguns soldados foram à São Paulo em busca de armas e suprimentos de guerra enquanto a cidade, de uma maneira geral, começava a se estruturar para suportar as privações da guerra, fabricando, inclusive, o chamado pão-de-guerra para fornecer aos solados constitucionalistas que batalhariam por ali.
No final do mês de agosto, enfim, a guerra começou. As tropas federalistas chegavam ao Eleutério, distrito que ficava a apenas alguns quilômetros de Itapira e, por lá, começaria um combate feroz que duraria duas semanas. A luta foi marcada pro seguidos pedidos de munição e tropas do Comandante João Dias ao Comandante Alfieri e Herculano, ambos de São Paulo.
Como é do conhecimento de todos, a partir do dia 28 de agosto daquele ano, a cidade começava a ser evacuada para que nenhum morador sofresse mais dos males daquele conflito entre brasileiros e, em 30 de agosto, o comandante João Dias começa a sentir o terrível gosto da derrota. Em um dos telegramas, reproduzido no ótimo Tudo Por São Paulo 1932, o comandante João Dias descreve a situação:
“Apenas 400 homens protegem frente diminuta do morro do Gravi em defesa de Mogi Mirim; insuficiente essa proteção; acabo embarcar para São Paulo 800 estropiados… Comando tropas que tem pavor do inimigo, abandonam as linhas em massa, procuram a retaguarda… peço permissão hoje mesmo passar comando tte. Cel. Rocco… saudações”.
Em outro, ele fala do cansaço de suas tropas e pede por reforços
“Situação Itapira agrava-se, combate recrudesce, inimigo reforçado e renovado; nossa tropa extenuada está impossibilitada continuar luta. Chove torrencialmente. Há falta de munição, mesmo com esta e sem tropa fresca não poderemos resistir e seremos vencidos; urge providências imediatas”.
Até hoje, no famoso morro do Gravi, acontecem homenagens aos combatentes que pereceram nessa dura batalha pela austeridade do Brasil.
A História Pouco Contada – O Mato Grosso Se Armou Para A Guerra
Para sermos justos com a Revolução de 32, é preciso falar da participação de um inesperado aliado: o Mato Grosso. É bem verdade que não foi todo o estado que participou ou foi às armas, mas o sul daquela região, composto pelas cidades de Campo Grande, Bela Vista, Ponta Porã, Porto Murtinho, Ladário, Três Lagoas, Paranaíba, Coxim enviaram tropas ou, também, sediaram combates daquele terrível embate entre brasileiros.
Segundo um belo artigo publicado, também, no detalhista Tudo Por São Paulo, alguns estudiosos falam em cerca de 3.000 homens envolvidos nas lutas no território chamado de Maracaju, nome adotado pelos mato-grossenses do sul que eram a favor da divisão do estado.
A revolta naquele estado durou três meses, período em que as munições foram suficientes para segurar o ímpeto dos tenentistas que desejavam abafar aquele foco de batalha. A necessidade de abastecimento, aliás, foi o que aproximou os paulistas do sul do Mato Grosso.
Com o porto de Santos bloqueado por navios de guerra leais a Vargas, a única alternativa restante para o abastecimento e escoamento era o reaproveitamento de uma antiga via de suprimentos localizada no centro da América do Sul: Rio Paraguai – RioParaná – Estuário do Prata – Oceano Atlântico, cujo principal pontologístico de controle pelos constitucionalistas era Porto Murtinho.
Nessa região, aliás, se formou a grande Coluna de Bronze, formada no sul do Mato Grosso e que era armada com dois grandes canhões de montanha franceses Schneider, de 75 mm. O comando de São Paulo, como parte do suporte à luta armada, enviou um caça CurtissFalcon, que atacou as tropas federais perto de Porto Murtinho. As tropas legalistas, que contavam com 1.200 homens, atacavam os constitucionalistas com um grande poder de fogo oriundo de seus canhões e morteiros do Monitor Fluvial Pernambuco. Registros dão conta que essa batalha deixou mais de 300 mortos e a cidade quase destruída. Uma lástima da revolução.
Outras forças, que atuaram em Três Lagoas e Paranaíba, conseguiram, a muito custo, impedir que batalhões da região norte do Mato Grosso e de Goiás cercassem as forças bandeirantes.
Engana-se, porém, quem pensa que essas tropas só atuaram no Mato Grosso. Em território paulista, as forças do Batalhão de Taunay, de Campo Grande, e o 11º Regimento de Cavalaria, de Ponta Porã, conseguiram lutar para impedir que tropas do sul do país entrassem em São Paulo. Uma grande vitória que daria um respiro aos combatentes paulistas.
Os corajosos sul-matrogrossenses que, com muita honra e ferocidade, ajudaram os ideais de São Paulo, eram soldados-cidadãos. Havia brasileiros, paraguaios, japoneses, libaneses e alemães. O sul do Mato Grosso conseguiu continuar lutando até o fim de 32, mesmo quando São Paulo havia sido subjugado. Contudo, no final daquele mês, a cidade de Bela Vista acabaria se entregando ao Tenente Coronel Francisco Gil Castelo-Branco, encerrando as lutas.