Uma Contribuição Esquecida: A Mulher Na Revolução de 32

Muito já se falou sobre os diversos acontecimentos e personagens da histórica revolução de 1932, batalha liderada por São Paulo contra o autoritarismo de Getúlio Vargas e sua ânsia pelo poder.

Entretanto, uma contribuição que é “deixada de lado” por muitos historiadores que contam esses acontecimentos é referente à participação da mulher durante os confrontos. Entretanto, nós da SP In Foco, jamais cometeríamos esse crime e, em respeito as 72 mil mulheres que ajudaram o movimento, resgatamos as principais histórias do período.

Um Grande Suporte Para Os Combatentes: Os voluntários de São Paulo só conseguiram chegar tão longe graças ao suporte que receberam de suas famílias e, claro, das mães, esposas e donas de casa que se dispuseram a ajudar nesse delicado episódio de nossa história.

Em um primeiro plano, elas exerceram funções de necessidade extrema, como enfermagem, costura e cozinheiras. Enquanto as lutas aconteciam nas trincheiras, elas trabalhavam com os ofícios supracitados e, também, nas indústrias bélicas e nas tarefas de suporte logístico. Entretanto, apesar desse trabalho ser de uma importância ímpar, algumas mulheres foram além e atuaram nas frentes de batalha. Abaixo, algumas dessas heroínas.

Maria Stella Sguassábia: Natural da cidade de Araraquara, interior de São Paulo, Stella era professora primária na Fazenda Paulicélia. Sua integração às batalhas aconteceu quando um dos soldados da região desertou e jogou sua farda e arma fora, momento que Maria as encontrou, vestiu e partiu para o combate.

Maria Stella

A partir de então, tendo o comando da 4ª Cia. visto a sua ação enérgica como defensora de SP, ela foi incorporada à tropa com o nome de Mario Sguassábia.

D. Maria Stella Sguassábia, bateu-se durante toda a luta como verdadeira espartana e com os seus companheiros de trincheiras, recebeu diretamente o ataque das Tropas Contrarias, sem um desfalecimento, e sem alimentação e mesmo água para beber, manteve-se calma, sem soltar uma queixa, tornando-se alvo da admiração e estima de todos os companheiros.” (Mario dos Santos Meira, Ex-1º Tenente, Comandante da 4ª Cia. Do 1º. B.P.M.Civil, 1935).

Maria Stella em uma das trincheiras paulistas

Maria Soldado: Seu nome verdadeiro era Maria José Bezerra e foi uma soldado que veio de Limeira, interior do estado. Ela se tornou um símbolo por ter combatido nas trincheiras após se alistar como um homem e batalhar de maneira ímpar pela causa paulista. Só foi descoberta mulher graças a um ferimento conquistado em batalha.

Maria Soldado

O jornal A Gazeta a descrevia assim, no dia 5/09/1932: “Uma mulher de cor, alistada na Legião Negra, vencendo toda a sorte de obstáculos e as durezas de uma viagem acidentada, uniu-se aos seus irmãos negros em pleno entrincheiramento na frente do sul, descrevendo a página mais profundamente comovedora, mais cheia de civismo, mais profundamente brasileira, da campanha constitucionalista, ao desafiar a morte nos combates encarniçados e mortíferos para o inimigo, MARIA DA LEGIÃO NEGRA! Mulher abnegada e nobre da sua raça.”

Carlota Pereira de Queiroz: Oriunda da cidade de São Paulo, Carlota, ao contrário das outras duas citadas, veio de uma família de posses. Médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sua maior contribuição à causa foi a organização de um grupo de 700 mulheres para prestar assistência aos feridos na guerra.

Carlota

Esse trabalho serviu de mola propulsora para sua carreira política que, em 1934, daria um passo histórico ao ser eleita a primeira deputada Federal no Brasil.

Deputada Carlota em Assembleia

Em Resumo: O fim da revolução de 32 foi mais do que uma derrota de São Paulo, foi o começo da democratização do país. O direito ao voto feminino foi reconhecido, afinal, até então somente as mulheres casadas, com permissão do marido, ou as solteiras, com renda própria, podiam votar.

Em maio de 1933, o direito ao voto foi reassegurado, mas apenas àquelas mulheres que exercessem funções remuneradas em cargos públicos. Foram realizadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, quando as mulheres votaram pela primeira vez no Brasil em eleições nacionais. O voto pleno e obrigatório como direito de todas as mulheres foi instituído pela Constituição de 1946.

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