Estamos no dia 27 de janeiro de 1965, na Praça do Patriarca, Centro de São Paulo. Parecia mais um dia normal na região, com grande circulação de pedestres e os funcionários do Banco Moreira Salles trabalhando normalmente. Isso até às 13h15, quando uma gangue de criminosos gregos agiu, matou uma pessoa e realizou o maior assalto a banco da história da cidade.
O modus operandi dos assaltantes foi relativamente simples: abordaram a perua do Banco Moreira Salles, na altura da rua Líbero Badaró, renderam os funcionários e mataram José Francisco Pepe, tesoureiro-chefe que conduzia o veículo e reagiu à abordagem. O resultado do assalto foi a tomada de seis sacolas de lona com a soma de Cr$ 500 milhões (estima-se que, na época, com esse valor, era possível adquirir 125 fuscas).
A rápida ação dos sete gregos envolvidos no crime, segundo fontes toda a movimentação durou dois minutos, marcou época e “enlouqueceu” a imprensa da época. E essa surpresa da imprensa e da população se justificava: os gregos observaram por dias a perua do banco, estudaram seus movimentos e imaginaram uma abordagem “rápida”.
O plano inicial era o de usar um DKW para fechar a rua e abordar a perua. Um dos homens ficaria no carro e os outros atacariam, levando até garrafões com gasolina e um pano para fazer uma tocha, que seriam usados para dispersar a polícia, se fosse preciso. A gangue tentou três vezes essa abordagem, até que o chefe dos bandidos percebeu as falhas e concluiu que era preciso trazer mais um homem e mais um carro para a ação.
Diante dessa necessidade, um comparsa que trabalhava no Rio de Janeiro, foi chamado para completar a gangue e concretizar o assalto. Coube a ele alugar um carro no Rio e vir para São Paulo. Importante ressaltar que, nessa época, era proibido alugar um carro em um estado e trafegar para outro.
Com o bando de criminosos completo, era o momento de agir. Equipados com bigodes postiços, óculos escuros, ternos, capas e cola látex nos dedos para esconder as digitais, os assaltantes abordaram a perua do Banco Moreira Salles e realizaram o assalto, como já dissemos. O grande detalhe disso tudo fica por conta de que o integrante que viera do Rio de Janeiro cometeu um erro: ele parou no viaduto do Chá para esperar e seguir a DKW dos gregos com o dinheiro.
Só que ele ele parou o carro em lugar proibido, sendo abordado por um guarda-civil na praça Patriarca. Ele foi multado e, como o veículo estava sem documentos e não era de São Paulo, o guarda solicitou o guincho para levá-lo ao pátio da DST (Diretoria do Serviço de Trânsito). Só o motorista percebeu a bobagem que fizera e conseguiu “fugir”, deixando o carro no local.
Os gregos, com o dinheiro em mãos, fugiram para a Estamparia Parisiana, na rua Marambaia, no bairro da Casa Verde, na zona norte da capital. O bando era composto por Gerassimos Andreas Tsolias, Evangelos Demitrius Flengas, Garyfalous Krassas, Michel Basile Nikolaides, Theodoros Kyriakos Apergis, Georges Andreas Tsantillas e Eleftérios Kyriakos Apergis.
Ao chegarem na estamparia, o dinheiro foi escondido e o que havia de provas foi queimado. Ao mesmo tempo, a polícia começava a agir. Foram destacados dois delegados muito famosos à época: Coriolano Nogueira Cobra e Nerval Ferreira Braga para solucionar o crime. Entretanto, mesmo com grande parte da força policial à disposição, o crime não era solucionado.
Vários jornais ficaram “em cima” do caso pedindo uma solução. Dizem que Adhemar de Barros, governador da época, chegou a cobrar uma solução rápida para o caso, já que todos estavam assustados com a ousadia dos assaltantes. Por mais de um mês, a polícia andou em círculos até que o delegado Coriolano, em uma entrevista com uma testemunha, foi informado de um carro que fora usado para travar o trânsito na Rua Líbero Badaró.
Curioso com essa história, o policial pediu um levantamento de todas as multas que foram aplicadas na região central da cidade. O levantamento demorou três dias para ser feito e uma infração chamou a atenção: multa e guincho de um veículo que estava no nome de Michel Basile, com a chapa do Rio de Janeiro.
Diante disso, as polícias de São Paulo e Rio de Janeiro trocaram informações e dois agentes se deslocaram para o estado vizinho buscando capturar o criminoso. Luis Olivares e Carlos Nascimento foram os escolhidos para ajudar no cerco ao prédio em que morava Michel. Um agente da polícia subiu, tocou na casa de Basile e disse que era um comerciante que estava com um cheque sem fundo passado pelo grego.
Acreditando no “causo”, ele seguiu o policial e foi preso e conduzido a um veículo cedido pelo Banco Moreira Salles. No caminho, Michel acreditou que era vítima de um sequestro e confessou o crime, como um meio de tentar exercer alguma autoridade sobre aqueles homens. Era o que a polícia precisava para prender de vez Michel e começar a caça ao resto do bando.
Com as informações fornecidas por Michel, a polícia foi para a Zona Norte em busca dos outros criminosos. A estamparia foi cercada e quatro bandidos foram presos. No local, Cr$ 465 milhões foram recuperados dentro de tonéis. A ausência de Cr$ 35 milhões foi justificada com a compra de veículos, mas nenhum carro foi localizado pela polícia.
Chegava ao fim um dos crimes mais famosos de São Paulo. Uma informação curiosa: o Banco Moreira Salles havia oferecido um prêmio de Cr$ 10 milhões a quem fornecesse informações que ajudasse na captura dos bandidos. Como não houve essa “ajuda” externa, o banco acabou repassando o dinheiro para a família do funcionário José Francisco Pepe, morto no assalto.
Em 29 de novembro de 1965, foi divulgada a sentença dos criminosos: 103 anos de prisão. Há a informação que, a partir desse assalto, o transporte de valores passou a ser escoltado e feito com mais cuidado. O Banco Moreira Salles deu lugar à sede do Unibanco, atual Itaú.
Referências:
https://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/curiosidades-aniversario-sao-paulo-assalto/
https://f5.folha.uol.com.br/saiunonp/2014/07/1478769-gregos-fazem-assalto-do-seculo-em-sp.shtml
https://www.facebook.com/groups/memoriaspaulistas/permalink/4562323373814117
http://memoria.bn.br/pdf/761672/per761672_1965_03326.pdf
http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/correiodopovo/1965/CDP19652318.pdf
Muito interessante o artigo.
À época em que ocorreu a prisão dos ladrões, eu era criança e morava na Casa Verde, a dois quarteirões da rua Marambaia. O bairro ficou em polvorosa. Não se falava em outra coisa: desvendado o assalto dos 500 milhões!
Obrigado por me fazer recordar desse episódio.
Grande abraço.