O Mercado Municipal de São Paulo, mais conhecido como Mercadão, é um dos símbolos da cidade que ilustra bem o crescimento rápido da população e a necessidade de rápida adaptação às novas condições de vida que a metrópole começava a apresentar. A primeira “versão” do Mercadão foi construída no ano de 1867 ficava perto do Rio Tamanduateí, na chamada Várzea do Carmo. Esse estabelecimento, que na época ficou conhecido como “Mercado dos Caipiras” era formado por vendinhas e uma de suas características eram as precárias condições de higiene do local.
Além disso, na época em que o Tamanduateí era navegável, diversos barcos aportavam na Porto Geral, atual Ladeira Porto Geral, e já distribuíam seus produtos aos mercadores interessados. Contudo, no começo do século XX, a cidade já precisava e pedia um novo mercado.
São Paulo começava a ser moldada para que uma elite imigrante tivesse seus desejos e vontades aceitas pelo nosso governo. Alemães, italianos, franceses, portugueses e vários outros povos dividiam os espaços da cidade e as elites dessa época procuravam frequentar o máximo os locais de convívio social para, sempre que possível, “exibir” suas novidades e suas posses, atitude comum à época.
Um exemplo claro de como a cidade mudara graças a esse seleto grupo de paulistas e paulistanos são os grandes monumentos dessa época. As grandes estruturas como a Estação da Luz (comparada à estação de Charing Cross, que move o coração de Londres), o Viaduto do Chá e de Santa Efigênia (os dois importados da Alemanha) e, até mesmo o Theatro Municipal (inspirado em à Ópera de Paris), são indícios de uma população voltada às tendências culturais da Europa e dos Estados Unidos.
No ano de 1924, quando a cidade estava sob a batuta do prefeito Firmiano Morais, foi sancionada a Lei que aprovava o estudo e a construção de um novo mercado na cidade de São Paulo. A construção do Mercadão, entretanto, só começaria em 1928, quando a cidade já era comandada pelo grande José Pires do Rio.
Para a realização desse grande projeto foi selecionado o arquiteto mais famoso do país na época: Francisco de Paula Ramos de Azevedo, o homem que contribuiu com o Theatro Municipal, a Pinacoteca do Estado e o prédio dos Correios. A construção do edifício demorou cerca de quatro anos e custou dez mil contos de réis.
Vale o destaque que o desenho das fachadas é de autoria de Felisberto Ranzini e, no interior, os vitrais são de Conrado Sorgenicht Filho, o mesmo profissional que trabalhara na Sé e que, durante sua vida, faria vitrais para mais de 300 igrejas brasileiras.
No caso do Mercadão, especificamente, os vitrais mostram vários aspectos da produção de alimentos. Ao todo, são 32 painéis subdivididos em 72 vitrais que ficam espalhados pelos mais de 12.000 metros quadrados do edifício.
Quando o edifício ficou pronto, duas coisas aconteceram na cidade: a primeira foi uma grande desconfiança sobre o sucesso do empreendimento já que, na visão da época, ele não daria certo devido à falta de transporte público para a região. O único transporte existente era chamado de bondes “caras-de-pau”, mas que era utilizado pelos comerciantes e suas mercadorias. Somente no ano de 1939 que começariam a circular três linhas de bonde nas ruas próximas ao local.
Outro problema foi o estouro da Revolução de 32, que transformou o espaço que era para ser um mercado em um paiol de armas e munições para as tropas de São Paulo. Durante o período dessa revolta, os soldados usavam os vitrais como treinamento para o tiro ao alvo. Após o fim das batalhas, foram necessários mais dois meses de ajustes para que o Mercadão pudesse, enfim, ser inaugurado no dia 25 de janeiro de 1933.
Passada essa grande crise, o Mercadão ainda enfrentaria diversos problemas durante sua grandiosa história. Uma delas foi a decadência acontecida durante a década de 60, quando foi criado o Centro de Abastecimento de São Paulo (CEASA). Em 1973 foi cogitado até a demolição do edifício, porque além de perder sua importância inicial para o CEASA, não atingia as novas normas de higiene e segurança. O Mercadão passaria por duas reformas, uma na década de 80 e uma na década de 90, que não mudariam quase nada em sua estrutura original.
Porém, com o movimento de revitalização do centro, foi assinado pelo arquiteto Pedro Paulo de Mello Saraiva um novo projeto de reforma, que tornou o mercado mais acolhedor e versátil, sendo um dos principais pontos turísticos da cidade. O prédio ganhou um piso mezanino de dois mil metros, com restaurantes típicos de várias cozinhas, como a árabe e a japonesa.
Durante a última reforma realizada no edifício, no 2003, um projeto de luminotécnica foi elaborado para melhorar os níveis de iluminação e, ao mesmo tempo valorizar os aspectos arquitetônicos internos e externos do Mercadão. A empresa contratada para esse serviço foi a mesma que projetou a atual iluminação do Coliseu, em Roma, e do Arco do Triunfo, em Paris.
Referências: Livro – 100 anos de feiras livres na cidade de São Paulo
http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/o-que-visitar/atrativos/pontos-turisticos/4346-mercado-municipal
https://blogdaarquitetura.com/a-historia-e-a-arquitetura-do-mercado-municipal-paulistano/
Amo são Paulo e suas maravilhas histórias.