Eu nasci em 1968, na cidade de São Bernardo do Campo, na zona industrial do ABC Paulista, região que faz parte da Grande São Paulo. Apesar de não ser paulistano a cidade de São Paulo é a minha maior fonte de inspiração e influência em tudo que faço. Desde minha infância, ela faz parte da minha vida de forma intensa. Comecei a frequentar o estádio do Morumbi, a segunda casa de todo São-paulino, em 1975 num clássico contra o Santos, vitória de 1 a 0 com gol do Terto.
Experiência inesquecível. Lembro que era uma saga sair do Rudge Ramos, onde morávamos, passando por Diadema e até chegar na região do estádio, era uma aventura. Neste primeiro jogo eu comprei uma bandeira e, naquele Natal de 75, ganhei meu primeiro uniforme completo do Tricolor Paulista. O São Paulo já estava no meu coração. Meus avós paternos moravam no Jabaquara e me lembro que com 10 anos meu avô Otto, ou Opa para os netos, me levava junto com as minhas irmãs pra passear no Metrô, íamos de uma ponta a outra da linha admirando a velocidade e a modernidade dos vagões.
Na adolescência o que me fascinava era a Avenida Paulista, sempre que eu e meus amigos íamos à capital, independente de onde íamos na cidade, sempre passávamos pela Paulista. Era uma sensação difícil de descrever, dava muita adrenalina. Preparava a gente para balada que estava por vir como tentar, em vão, entrar no Aeroanta, em Pinheiros, quando os Titãs promoviam lendárias “jams” ou simplesmente comer o tradicional Bauru com uma cerveja na lanchonete Ponto Chic antes de voltar pra casa. Quando entrei na banda Sepultura, em 1987, me mudei para Belo Horizonte e lá fiquei por dois anos. Foi difícil ficar longe de São Paulo, apesar de meus dois anos em BH terem sido fantásticos.
O Sepultura na verdade me deu muito mais oportunidades de conhecer a cidade através dos shows e festivais de música dos quais participamos. Já tocamos em todos os lugares da cidade, desde pequenos clubes e bares até os grandes estádios de futebol. Esses shows contam uma grande e importante parte da história do Sepultura e que enriquece muito a minha relação com a cidade. O primeiro show que fiz com o Sepultura em São Paulo foi no teatro Espaço Mambembe, que ficava na região do Paraíso, em 1987 junto com o Ratos de Porão.
Foi o primeiro encontro “crossover” no Brasil, misturava uma banda de metal e outra de punk no mesmo espaço. O clima que antecedeu o show foi tenso pois na época havia muita rixa entre Punks e os Headbangers que curtiam o metal. Havia o medo de que o teatro pudesse se tornar um campo de batalha principalmente por causa dos Skinheads, os carecas que eram muito violentos e costumavam invadir os shows pra causar confusão. No final nada de violência e tudo ocorreu na paz. Show histórico que ajudou a acabar com as tretas entre as duas tribos.
Depois veio o Dama Xoc, em Pinheiros um lugar que virou uma espécie de casa pro Sepultura. Fizemos shows antológicos com Napalm Death e Nuclear Assault além de ter visto shows históricos do Ramones, New Model Army, Wander Taffo, Korzus entre outros grandes nomes da música mundial. O Metallica quando tocou no Brasil pela primeira vez em 1989 no ginásio do Ibirapuera em uma noite livre em SP foram tomar uma cerveja no Damo Xoc. Era um ponto de encontro. Aliás a primeira vez que a Patricia, minha namorada na época e hoje minha esposa, foi me ver tocar foi no palco do Damo Xoc. Pena que foi numa noite bem Punk por que eu, o Gordo do Ratos, Max e Igor Cavalera estávamos fazendo uma homenagem/tributo ao Sex Pistols. Todos devidamente alcoolizados pra representar Sid Vicious e seus amigos.
A Patricia deve ter visto duas músicas e correu dali o mais rápido possível, aquilo era muito ultrajante para uma fã de Chitãozinho e Xororó! Foi uma grande noite! Depois do show ainda dava tempo de tomar umas no “Cu do Padre”, boteco antológico q fica atrás da igreja do Largo da Batata. O Black Jack em Santo Amaro era outro grande ponto de encontro do rock e do metal além da Woodstock Discos nas galerias do centro que trazia as grandes novidades do mundo metal.
Tocamos no Ginásio do Ibirapuera lotado em 1991, o grande show do Sepultura no Brasil até então. O álbum “Arise” ja era um sucesso mundial e a apresentação no Rock in Rio, em Janeiro, daquele ano abriu as portas da mídia pra banda. Era mais do que um sonho, fazer aquele grande show na sua casa, num lugar histórico e importante da cidade. Mas foi justo no dia do enterro da minha avó paterna Omi. Foi surreal ter um dia de emoções tão fortes, tão diferentes, mas muito intensas. A tarde eu estava no velório e sepultamento da minha avó e a noite estava no palco do Ginásio com milhares de fãs gritando “SEPULTURA”. Experiência única, a gente vai criando uma casca que nos prepara pra encarar os desafios tanto no palco como fora dele.
Saudades do Olympia na rua Clélia na Lapa, casa sensacional pra tocar e ver shows, perfeita!! As tournês do “Chaos AD” em 1994 e do “Roots” de 1996 foram no Olympia. Shows maravilhosos, longas filas na entrada e um sentimento de orgulho por parte dos fãs de ver uma banda brasileira conseguir tantos êxitos no exterior. Momentos muito fortes na nossa história se passaram naquele palco e nos camarins. Lá também fizemos o DVD “Live in São Paulo” de 2005, registro histórico da carreira com várias participações especiais além de assistir shows como Black Sabbath, Megadeth, Faith No More, Paralamas do Sucesso, Titãs entre outros monstros!
Ja toquei no estádio do Pacaembu, dentro e fora dele, na Praça Charles Miller. Este fora é um dos shows mais emblemáticos da nossa história. Tocamos para mais de 40 mil pessoas num show gratuito e que foi confuso, violento, magnífico e inesquecível. Teve de tudo. Deste show saiu o clipe da música “Orgasmatron” que nos rendeu um astronauta da MTV americana. O show que aconteceu dentro do estádio foi simplesmente abrindo o show do Deep Purple em 2003.
Vocês devem imaginar o que significa para um São-paulino tocar no estádio do Morumbi! O mesmo estádio onde eu vi o show que mudou a minha vida: Kiss em 1983! Sim, a minha segunda casa, é sempre uma emoção. Toquei pela primeira vez em 1994 no festival Hollywood Rock, junto com Robert Plant. Depois com Metallica duas vezes; também como convidado do Nasi, do IRA, abrindo o show do AC/DC; na reapresentação do jogador Luis Fabiano, quando ele voltou ao São Paulo e reuniu mais de 50 mil torcedores numa festa sensacional. Toquei o hino do Tricolor, sozinho com minha guitarra e a torcida cantando junto. Uma honra!
Já toquei duas vezes no Allianz Parque, o novo estádio do Palmeiras, uma vez como convidado do Anthrax abrindo o Iron Maiden e a outra como convidado de Alice Cooper abrindo pro Gun1s and Roses. Honra 2!!!
Hoje gosto muito de me apresentar no Audio Club SP, na Barra Funda, casa de primeiro nível e na rede do SESC, não só na cidade de SP mas como em todo o estado. Sempre muito organizado e com ingresso barato, um lugar que abre espaço pra todos os estilos musicais, inclusive e principalmente o metal.
Atualmente moro na Zona Leste, na Vila Carrão, lugar que conheço e gosto graças a minha mina, sim a Patricia que correu do Dama Xoc no show tributo ao Sex Pistols e me trouxe pra ZL. Enfim, São Paulo é tudo pra mim, é minha escola, minha experiência e referência. Amo o caos, amo o cinza, amo a garoa, amo a selva de pedra.
Andreas Kisser
Nome completo: Andreas Rudolf Kisser
Nascimento: 24/August/1968
Entrou na banda Sepultura: 1987
Discography/Discografia:
Schizophrenia (1987)
Beneath The Remains (1989)
Arise (1991)
Chaos A.D. (1993)
Roots (1993)
Against (1998)
Nation (2001)
Revolusongs (2002)
Roorback (2003)
Dante XXI (2006)
A-Lex (2009)
Kairos (2011)
The Mediator (2014)
Machine Messiah (2017)
Hoje, também atua como radialista, sendo âncora do programa “Pegadas de Andreas Kisser” pela 89 FM A Rádio Rock
Fico feliz pracaraio!! É como um filme que passa na cabeça… muitas desses lugares estamos juntos, Dukaaa!!
Força Sepultura Sempre! Força Andreas meu irmãozinho!! bj na family, bj do tio