Por Heródoto Barbeiro
Cambuci Ameaçado
O Cambuci está ameaçado. De qual Cambuci estou falando? Se for do bairro pode ser que a especulação imobiliária, a falta de cultura e sensibilidade dos governantes da cidade tenham alguma coisa com isso. Afinal, monumentos históricos, prédios antigos, e ruas consagradas dão lugar a uma selvageria urbana. Não sobra pedra sobre pedra. Não se trata de ser apegado ao passado e impedir que o progresso se instale. Estou falando da descaracterização que atinge vários bairros da cidade, entre eles o Cambuci.
Afinal, não é possível mais ir para a escola estadual Roldão Lopes de Barros de bonde que passava pela Rua da Independência. Nem o prédio da escola existe mais. O largo tomou uma feição de coisa nenhuma. Enfim, o que acontece no Cambuci não é um fato isolado. Só estou me referindo a ele porque estudei lá, peguei o bonde e comi pastel na pastelaria ao lado do ponto. Quando não tinha dinheiro ia a pé. Ia pela Rua Ana Nery até a avenida do Estado e atravessava o Tamanduateí por uma pinguela de concreto que sustentava uma adutora que abastecia o bairro.
O rio não tinha sido “enterrado” como hoje, nem se transformado em uma imensa tubulação de esgoto. Se você olhar no Google vai ver o “iluminado “ que mandou construir um tampão no rio. Deve ser um caso inédito no mundo.
Pouco resta da cultura do bairro, da história e das lembranças. Afinal quando o vigário da Igreja da Boa Morte, no topo do Carmo, em 1822, avistou a comitiva do príncipe regente D. Pedro, começou a comemoração da independência do Brasil. O jovem príncipe estava no Cambuci em direção a minúscula cidade de São Paulo.
Há um outro Cambuci.
Uma fruta verdinha como o verdão, ( perdoe-me meu Coringão) com formato de um pequeno disco voador, nativa da Mata Atlântica, que deu nome ao bairro. Tinha Cambuci a dar com pau no Cambuci. Sumiu tudo. Está ameaçada de extinção como a palmeira juçara, aquele palmito servido nas churrascarias e pizzarias do bairro.
Ameaçados também um sem número de animais da mesma mata que não resiste a invasão dos mananciais que abastecem o Cambuci e toda a cidade de água. Há alguns abnegados que criaram a Rota do Cambuci, que passa pelo Cambuci e oferece a oportunidade de experimentar comidas da culinária antiga feitas com o Cambuci.
Eu mesmo prefiro um Cambuci deitadinho, há pelo menos um mês ,dentro de uma garrafa de cachaça da boa escolhida pelo Zé Ferro. A velha pinga com Cambuci, uma iguaria saboreada no ABC antes dos sindicalistas se tornarem políticos de sucesso. Trocaram o Cambuci pelo “escotche”.
Portanto, estou falando dos dois: o bairro e a fruta. Ambos têm espaço no meu coração.
ET: Tenho uns pés plantados na Reserva Mahayana.
Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora da Record News e editor do Blog do Barbeiro. Ex-âncora do Roda Viva, da TV Cultura e do Jornal da CBN.
Estudei no Instituto Nobel de Tecnologia na rua Muniz de Souza em ’69, 70… dependendo do horário várias vezes perdia o onibus e fazia esse caminho à pé ate o centro.
Querido Herodoto, eu tambem participei dessas aventuras, jogando futebol pelo Alexandre de Gusmão nos Jogos da Primavera em 64 ou 65 quando massacramos o Roldão sem piedade. Very sorry for that. Aquela pastelaria do Largo! Porque vc mencionou,hein? So pra me chatear? Tinhamos uma amiguinha no Alexandre que era abonada e toda semana pegavamos o bonde na Bom Pastor e iamos pro Largo e ela pagava tudo e passavamos horas no pedaço pois estavamos cabulando. No final do dia depois de uns amassos atras do museu do Ipiranga, bonde outra vez. Ela voltando pra Cisplatina e eu seguindo ate a Praca João Mendes pois morava na rua Assembleia. Aquele pastel do Largo do Cambuci era delicioso com caldo de cana. Um abraço
Gostei da parte sobre os amassos atras do museu do Ipiranga, eu tinha uma namorada e o namoro era escondido….nossos amassos também era atras do museu do Ipiranga, tinha um pequeno bosque la….não sei hoje como está. Bons tempos…e mta saudades.
Estudei no Roldão (Nosso guia é, Roldão Lopes de Barros que para vencer soube lutar!!….Hino)nos anos 62/63 no Cambuci, em 64 ele mudou para rua Colônia da Glória ao lado da favela do Vergueiro onde fiquei até o meio do ano, pois fui expulso por pegar um cavalo na favela e entrar montado nele no pátio do colégio na hora do recreio!!!
Os amassos atrás do Museo ainda ocorrem como constatei há alguns meses atrás entre um casal de colegiais, com uniforme e tudo.