Uma das referências do centro da cidade de São Paulo é o famoso Edifício Esther. Projetado por Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho, no ano de 1936, ele é considerado um dos marcos da arquitetura moderna no país.
Curiosamente, ele surgiu na mesma época do edifício em que fica instalada a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, também do ano de 1936. O Esther é um dos exemplos do novo movimento que começava a aparecer no país na década de 30.
Não por acaso, Mário de Andrade, em artigo para O Estado de S. Paulo, de 1943, apresenta-o como um dos grandes exemplos da nova arquitetura em desenvolvimento no país em contraposição ao neocolonial.
Com influência de grandes arquitetos como Frank Lloyd Wright e Le Corbusier, Vital Brazil, desde cedo, já mostrava suas preferências pelo racionalismo arquitetônico. Ao lado do grande amigo Adhemar Marinho, ele participou de uma greve em solidariedade a Lucio Costa, em 1931, quando surgem reações ao seu projeto de renovação da Enba.
A origem desse edifício, aliás, remete a um anteprojeto que os dois arquitetos apresentaram em um concurso realizado pela Usina Esther Ltda., grande produtora de açúcar, que pretendia construir um edifício de uso misto, entre as áreas residencial e comercial, no centro de São Paulo.
Os financiadores do projeto queriam uma construção que, além de abrigar os escritórios da Usina Esther, também contassem com lojas comerciais, consultórios e diversos tipos de residências, cujos aluguéis garantiriam a renda necessária à sustentabilidade do investimento.
E as demandas do grupo foram atendidas com primor pelos arquitetos: utilizaram de maneira racional os materiais, os métodos econômicos de construção, a linguagem formal sem ornamentos e o diálogo sistemático com a tecnologia industrial.
Os pontos centrais do programa corbusiano, por sua vez, são aplicados ao edifício: pilotis, planta livre, janela corrida, fachada livre e terraço-jardim. O Edifício Esther participou do processo de transformação em curso na cidade, tornando-se um marco arquitetônico.
Em um jantar oferecido a sociedade paulistana e realizado à época da construção, o casal Paulo e Esther Nogueira foram indagados quanto à decência e confiabilidade do projeto, considerado devassado demais.
Talvez por isso, em abril de 1938 o evento inaugural do Edifício Esther não teve festa, e sim apenas o ‘benzimento’ do prédio. A ação tinha por função atestar respeitabilidade e distinção, além de determinar que o empreendimento estava abençoado pela Santa Igreja. Abrigou também o escritório do arquiteto Rino Levi (1901 – 1965), a residência de Di Cavalcanti (1897 – 1976), Noemia (1912 – 1992) e do próprio Vital Brazil.
Apesar de sua importância na história da arquitetura moderna e contemporânea no país, o edifício sofre, ao longo dos anos, um crítico processo de descaracterização e deterioração e encontra-se, curiosamente, ausente de alguns conhecidos manuais de arquitetura nacionais.
Durante mais de vinte anos, o Esther foi dos mais glamorosos endereços de São Paulo, até que em 1965 os escritórios da usina açucareira mudaram voltaram para o interior do Estado a fim de conter gastos. Após esse episódio, a família Nogueira deixou de fazer a manutenção do prédio até que decidiram vender todas as unidades. Foi o começo do processo de decadência.
Com o fim da Sociedade Predial Esther, os gastos de gestão passaram aos condôminos. Pouco habituados com manutenção das unidades o que se viu nos anos seguintes foi a descaracterização do prédio que passou a ser ocupado inclusive como cortiço. Em torno do edifício, antes todo aberto foram colocadas grades para impedir a passagem e o pernoite de moradores de rua.