Quando resgatei a história do Volkswagen SP1 e SP2, muitas pessoas passaram a comentar que gostavam daquele modelo, mas que tinham grandes recordações de outro Volks: o Karmann-Ghia. Apesar de, historicamente e industrialmente, o carro não ter nenhuma relação com a cidade de São Paulo, acho que vale um registro pelo sentimento dos leitores, que tanto rodaram com eles por aqui.
Dessa forma, peço licença para contar a história de um carro que, se não era produzido aqui, marcou época na cidade e ajudou a ilustrar várias fotos lindas do nosso passado.
O famoso veículo teve três “pais”, por assim dizer: foi produzido pela Volkswagen, projetado pela empresa italiana Carrozzeria Ghia e construído por outra alemã, a Karmann. Com sua produção sendo iniciada na Alemanha, ela chegou ao Brasil, mais especificamente com uma fábrica no ABC, e marcou época (estima-se que entre 1955 e 1975, 445.000 Karmann-Ghias foram produzidos no mundo).
A história do veículo começa nos anos 50, quando a Volks produzia apenas dois de seus best-sellers: o Fusca e a Kombi, carros simples e que atendiam à população europeia que vivia e se reconstruía após a Segunda Guerra Mundial. Claro que, com o passar do tempo, as necessidades foram se ampliando e a demanda por carros diferenciados passou a fazer parte da rotina da sociedade, não só europeia, mas também mundial.
O primeiro carro da Volks a ser um pouco diferenciado, digamos assim, foi a versão conversível do eterno fusca, que se não era totalmente especial, já dava sinais de que havia mercado e criatividade para uma nova demanda e novos consumidores. Diante disso, surge a ideia de Karmann, famosa empresa de projetos automobilísticos e que recebera a missão de fazer algo diferente para a Volks.
A primeira tentativa da empresa não foi aceita pela direção da Volks (não achei desenhos e rascunhos dessa tentativa) e, buscando não perder um cliente dessa estirpe, a Karmann decidiu ir atrás de um dos estúdios de design mais famosos do mundo, o Estúdio Ghia.
Existe uma pequena lenda que corre sobre o desenho do veículo: a de que Luigi Segre, responsável pelo Estúdio Ghia, apresentou ao executivo Wilhelm Karmann um desenho que não foi aprovado pela Chrysler, em um projeto chamado Chrysler Guia Special. A lenda ainda dizer que esse veículo foi apresentado no salão de Paris de 1952, mas acabou não sendo aprovado e, o desenho do Chrysler Guia, teria sido adaptado para Karmann e a Volks.
De toda forma, o Estúdio Ghia adquiriu um fusca e, sobre o chassis do veículo, montou o seu protótipo. O desenho alegrou Karmann que apresentou o veículo para Heinrich Nordhoff, o então presidente da Volks. Após muitas conversas e tratativas, o projeto recebeu sinal verde para sua iniciação.
O acordo final ficou o seguinte: o carro seria vendido pela Volks, produzido pela Karmann e o estúdio Ghia ganharia um valor sobre cada unidade vendida. A curiosidade final dessa parte da história fica por conta do nome.
Apesar de ter sido apresentado à imprensa em julho de 1955, o veículo era chamado de Typ 14. Após considerar alguns nomes italianos para o carro, o nome Karmann-Ghia foi escolhido, refletindo a participação das várias empresas em seu projeto. O primeiro modelo do veículo sairia da fábrica em agosto de 1955 e a recepção do público foi fantástica, vendendo mais de 10.000 unidades apenas no primeiro ano de fabricação.
A chegada ao Brasil
Os planos de crescimento da Volks no Brasil acabaram impulsionando a ideia de produzir esse modelo por aqui. Dessa forma, em 1960, a Karmann abriu uma fábrica em São Bernardo do Campo, cidade da Grande São Paulo, e que possuía um grande potencial industrial.
Dois anos depois, o primeiro Karmann-Ghia brasileiro saiu da linha de montagem e passou a fazer parte do dia a dia dos paulistas e paulistanos. No fim de 1967 foram lançados os modelos conversíveis, que são os mais raros e valorizados, afinal, foram produzidos apenas 177 unidades.
Para não deixar o texto grande e maçante à cerca de suas especificações, deixei referências abaixo que poderão ser consultadas para o entendimento do motor, produção, etc. Vale dizer, para encerrar, que a Karmann-Ghia teve sua falência decretada em novembro de 2016, 56 anos após o começo de suas atividades pelo país.
Referências: http://www.madle.org/exnrdelegance.htm
http://www.vwtrendsweb.com/features/0110vwt_volkswagen_karmann_ghia_history/index.html
http://carplace.virgula.uol.com.br/carros-para-sempre-karmann-ghia/
https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/grandes-brasileiros-karmann-ghia/
Show.
eu amo este carro, tenho um 1970, tive outros dois anteriormente, um vendi por motivos corriqueiros, o segundo foi preciso mesmo, um dia viajando entrei em um consultório médico para oferecer meu serviço tinha um poster na parede, comentei com o dr ele me disse karmann ghia não se vende, fiquei co aquilo na mente, depois de muitos anos consegui graças a Deus consegui montar o terceiro, quero ver se não vendo mais
Muito bom! É histórico.
Por favor, corrija o texto: não é “à cerca” e sim “acerca”.
É verdade. Mas não precisava ser tão chato, arrogante e preciosista.
Andei várias vezes no de uma colega de trabalho que tinha um vermelho lindo. Tive um Karman Guia TC. Infelizmente deu pt.
Eu gostava muito do modelo 70, tinha quebra vento, outros anos não e o para-choque era diferente mais fino, muito legal. O TC eu não gostava muito acho que era 71 o início. Parabéns
ÓTIMO RESGATE!
E havia um bom motivo para que Herr Karmann não produzisse ele mesmo o carro sonhado porque ele era o herdeiro de uma habilidosa fábrica que elaborava diversos itens de “cavalaria ” e “estrebaria”, em especial, capotas, coberturas, interiores, estofamentos e acabamentos destinados à finalizações de Carroças, Trolleys, Charretes, Limousins, Diligências, Tílburis e Carruagens.
Não tinha como a tríade não dar certo pois cada participante contribuiu com o que mais sabia executar, sendo que o “encarroçador” foi o mentor intelectual, análogo ao holandês que criou a “Kombinationsagen”, que acabou sendo chamada popularmente de… Kombi.