A cidade de São Paulo já teve um lindo prédio com o título de “o maior arranha-céu” da metrópole. O empreendimento, mais conhecido como Edifício Martinelli, foi o primeiro arranha-céu da cidade. Seu nome é uma homenagem a Giuseppe Martinelli, imigrante italiano que fez fortuna no Brasil. Construído entre os anos de 1925 e 1929 (data da sua inauguração com 12 andares), sua estrutura é composta por concreto armado e sólido. Ele possui 30 andares e cerca de 130 metros de altura, revelando uma mistura de estilos europeus que fazia muito sucesso na época.
Todo o cimento utilizado na sua construção era importado de países como Suécia e da Noruega pela própria casa importadora de Martinelli. Nas obras, trabalhavam mais de 600 operários e 90 artesãos, italianos e espanhóis, especialistas em cuidar do acabamento, que daria o belo aspecto que o edifício tem hoje.
Os detalhes da rica fachada foram desenhados pelos irmãos Lacombe, que mais tarde projetariam a entrada do túnel da av. 9 de Julho. Diversos imprevistos prolongaram as obras: as fundações abalaram um prédio vizinho – problema resolvido com a compra do prédio por Martinelli; os cálculos estruturais complexos levaram à importação de uma máquina de calcular Mercedes, da Alemanha.
Quando o prédio atingiu vinte e quatro andares, foi embargado, por não ter licença e desrespeitar as leis municipais – havia um grande debate na época sobre a conveniência ou não de se construir prédios altos na cidade. A questão foi parar nos tribunais e assumiu contornos políticos, sendo aproveitada pela oposição para fustigar Martinelli e a prefeitura municipal. E foi resolvida por uma comissão técnica que garantiu que o prédio era seguro e limitando a altura do prédio a 25 andares. O objetivo de Martinelli, contudo, era chegar aos 30 andares, e o fez construindo sua nova residência com cinco andares no topo do prédio – tal como Gustave Eiffel fizera no topo de sua torre. O arranha-céu tinha 1.267 dependências entre salões, apartamentos, restaurantes, cassinos, night clubs, o famoso Cine Rosário, barbearia, lojas, uma igreja e o luxuoso Hotel São Bento.
Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, chegou a abrigar em seus terraços, uma bateria de metralhadoras antiaéreas para defender São Paulo do ataque dos aviões do governo da República, que sobrevoavam a cidade ameaçando bombardeá-la. Em meados da década de 1950, o abandono e a ocupação desordenada, em decorrência do descaso das autoridades e da política habitacional, mudaram o aspecto do edifício. O Martinelli transformou-se em um grande cortiço ocupado por um número enorme de famílias.
Pressionada pela mobilização popular e pela imprensa, a Prefeitura de São Paulo desapropriou parte do prédio em 1975, e, através da Emurb e da Construtora Guarantã, iniciou obra de reforma. Quatro anos mais tarde, o Edifício Martinelli estava pronto, ocupado basicamente por escritórios, sendo dezoito andares de repartições públicas municipais e o restante de particulares.
Em 1992, o Martinelli foi finalmente tombado pelo Patrimônio Histórico: “Os elementos decorativos neoclássicos, a cobertura de ardósia com mansardas falsas, um palacete de três andares no terraço e a roupagem de tijolos recobrindo a estrutura de concreto. Tais elementos estão a indicar a persistência do gosto eclético na arquitetura paulista”, justifica a Resolução 37 do Compresp. A Operação Urbana Centro encaminha, atualmente, projetos e ações de restauração do prédio em parceria com a Associação dos Amigos do Prédio Martinelli.