A oposição ao imperador: o Farol Paulistano

Tivemos a oportunidade de, nesse mesmo espaço, escrever e contar um pouco a história de Azevedo Marques e seu pioneirismo no que tange a imprensa de São Paulo. O Correio Paulistano como citamos tempos atrás, possui o caráter de ter sido a primeira iniciativa de imprensa diária na cidade.  Entretanto, se analisarmos um pouco mais a história da cidade, veremos que existiu outro periódico, ainda que não fosse diário, que marcou São Paulo. Trata-se de um jornal lançado no dia 7 de fevereiro de 1827 e que ficou conhecido como Farol Paulistano.

O espaço do jornal era utilizado para defender as ideias do chamado “grupo moderado” dos liberais brasileiros durante o Primeiro Reinado e começo do Período Regencial. De caráter antiabsolutista, o periódico foi criado para defender as ideias monárquico-constitucionais contra o despotismo fazendo, assim, forte oposição a Dom Pedro I.

Em linhas gerais, O Farol esteve alinhado mesmo à oposição parlamentar ao monarca, algo comum na imprensa liberal da época.  Com a epígrafe, “La liberté est une enclume que usera touts les manteaux”, traduzida para “A liberdade é uma bigorna que desgastará todos os martelos”, O Farol Paulistano, no editorial de sua edição de lançamento, dizia:

É sem dúvida a imprensa o mais útil e preciso invento do homem, o baluarte da liberdade, o terror dos déspotas, a protetora da humanidade. O Brazil disse que queria ser livre e a sua independência foi o primeiro fruto do sistema constitucional que abraçou para nunca mais deixar (…). Foi a imprensa companheira e auxiliadora da liberdade que fez a nossa independência. Grandes louvores e gratidão eterna aos denodados escriptores que nessa epocha apareceram. O Brazil é independente e continua a querer ser livre.

O principal jornalista e redator dessa empresa foi seu proprietário, José da Costa Carvalho, natural da Bahia e que chegou a ser deputado em sua terra natal. Em São Paulo, além desse empreendimento, foi membro da Regência Trina Permanente; primeiro barão, visconde e marquês de Monte Alegre e presidente da Província de São Paulo em 1842.

Registros dão conta de que as edições do jornal eram impressas em uma gráfica chamada Typographia de Roa & Cia. , empresa de José Maria Roa A partir do nº 126, de 2 de julho de 1828, O Farol passou a sair em tipografia própria, chamada Typographia do Farol Paulistano. Tanto a redação quanto as oficinas da folha funcionavam no nº 33 da antiga Rua São José, hoje Rua Libero Badaró.

O jornal possuía uma estrutura editorial dividida em um artigo de abertura, onde era discutida a questão política do país e de São Paulo, notícias nacionais e internacionais, correspondências, artigos de outros jornais, uma seção de publicação de documentos oficiais, uma seção de variedades (com anedotas, causos, fábulas, ensinamentos morais, excertos traduzidos de autores estrangeiros, reflexões filosóficas, etc.) e anúncios em geral (dando publicidade de produtos e atividades comerciais, com grande incidência de avisos de compra, venda e fuga de escravos).

Vale dizer que sua tiragem inicial era semanal, mas a partir de junho de 1827, passou a circular duas vezes por semana. Em outubro de 1829, após um período de crise, o jornal passou a circular três vezes por semana.

Cada edição podia ser comprada por 80 réis e assinaturas trimestrais podiam ser feitas. O público d’O Farol consistia, basicamente, de funcionários públicos, clérigos, militares, comerciantes, médicos, caixeiros, tropeiros, estudantes, professores, etc. Apesar de sua base paulistana, províncias como Minas Gerais e Rio de Janeiro, bem como o planalto e do litoral paulistas, também recebiam o jornal.

Sua linha de pensamento foi se intensificando com o passar do tempo e, a partir de maio de 1828, passou a atacar com ainda mais vigor seus opositores, defendendo uma ideia liberal e destacando os absurdos da Monarquia. Muitas reivindicações e denúncias contra crimes de prevaricação, abuso de poder e irregularidades gerais na gestão pública eram feitas na seção de correspondências do periódico.

Juntamente do próprio José da Costa Carvalho, Antônio Mariano de Azevedo Marques, responsável pela edição do jornal manuscrito O Paulista em 1823, foi o principal redator d’O Farol Paulistano. O jornal ainda contou com a contribuição de nomes importantes da nossa história, como: Manoel Joaquim do Amaral Gurgel, Manuel Odorico Mendes, Antônio Manuel de Campos Mello, Vicente Pires da Motta e Nicolau Pereira da Campos Vergueiro.

O italiano Giovanni Baptista Libero Badaró, apesar de não ter colaborado com o jornal, imprimiu através da tipografia d’O Farol Paulistano a partir de 23 de outubro de 1829 o Observador Constitucional, de grande destaque e mesma linha política que o periódico de José da Costa Carvalho.

O Farol Paulistano encerrou sua circulação cerca de quatro anos após o seu lançamento, pouco após a abdicação de Dom Pedro I. Com a saída do imperador, em 17 de junho de 1831 Costa Carvalho tornou-se membro da Regência Trina Permanente, algo que justifica o fim repentino do jornal que deixou de ser publicado pouco depois da nomeação de seu proprietário. A derradeira edição d’O Farol foi a de nº 501, de 30 de junho de 1831.

Em agosto de 1831, como continuação do jornal de Costa Carvalho, O Novo Farol Paulistano foi lançado na capital, fundado e dirigido por José Manuel da Fonseca e Francisco Bernardino Ribeyro.

Impresso na mesma Typografia do Farol Paulistano e também liberal “moderado”, o novo jornal era visual, editorial e politicamente muito próximo à publicação da qual originara. No entanto, a nova folha era governista, ou seja, favorável ao governo Regencial. De acordo com Werneck Sodré, O Novo Farol Paulistano foi um “bi-semanário oficioso, sucedido, em 1835, pelo O Paulista Oficial, porta-voz do governo da província até março de 1838, dirigido por Emídio da Silva e substituído pelo Paulista Centralizador” (p. 203). Todos estes jornais são continuações da mesma linha política liberal inicialmente defendida pelo O Farol Paulistano.

Fontes: 

– MOREL, Marcos; BARROS, Mariana Monteiro de. Palavra, imagem e poder: o surgimento da imprensa no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

– OLIVEIRA, Carlos Eduardo França de. Informação e política nos primórdios da imprensa paulista: O Farol Paulistano (1827-1831). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/his/v29n2/v29n2a17.pdf

– SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

https://bndigital.bn.gov.br/artigos/o-farol-paulistano/

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