Os sinos centenários de SP: a história do conjunto de São Bento

No dia 29 de setembro de 2020, os sinos do Mosteiro de São Bento completaram 100 anos de sua “consagração”. À época, a chegada desses equipamentos foi motivo de muita tensão e medo, já que devido à I Guerra Mundial, havia a possibilidade de que eles fossem interceptados e derretidos para se tornar matéria-prima para a produção de armas.

Em 1917, através de um decreto, o Império Alemão ordenou o derretimento de sinos fora das grandes catedrais. O conjunto que está no Mosteiro de São Bento atualmente, entrava nesse “pré-requisito”. Entretanto, na época, o cardeal de Munique conseguiu provar e convencer as autoridades alemãs de que os sinos não mais pertenciam àquele país.

Eles eram brasileiros, haviam sido pagos e estavam esperando somente o momento de serem remetidos e enviados ao Brasil.

Segundo uma reportagem do programa Antena Paulista, 45% dos sinos alemães da época foram derretidos, o que torna os do mosteiro ainda mais raros e importantes. Após muita disputa, os sinos chegaram ao Brasil no ano de 1918, ano de uma duríssima epidemia na cidade e, talvez por essa razão, o conjunto de seis sinos demoraria mais um ano até que fossem consagrados.

Vale a curiosidade de que os seis sinos foram fabricados em Lauingen, na Alemanha e quem os afinou pela primeira vez  foi o holandês beneditino Suilberto Cremer, através de um aparelho inédito de sua invenção (que ainda não descobrimos qual, mas que mereceu destaque em registros da época).

A consagração

No dia 29 de setembro de 1919, segundo registro jornalístico do Correio Paulistano, os sinos do Mosteiro de São Bento foram consagrados. Ainda segundo a reportagem, esses equipamentos eram destinados às torres da “egreja abbadial“.

Conjunto de sinos do Mosteiro de São Bento apresentados à população

A cerimônia contou com a presença do presidente do Estado e de outras autoridades políticas que serviram de padrinhos, bem como o arcebispo metropolitano e outras personalidades da igreja católica.

Na ocasião também foi rezada uma missa em comemoração ao aniversário onomástico do abade Miguel Kruse. (Nota: o aniversário onomástico é comemorado quando a pessoa faz aniversário no mesmo dia de um santo do mesmo nome. O dia de São Miguel Arcanjo é 29 de setembro e, por isso, a comemoração do abade de outrora).  

Recorte do jornal A Gazeta falando da consagração dos sinos

Os sinos receberam nomes e, na época, um deles era um dos maiores  da América do Sul. São eles: Cantabona, com 5.500 kgs, Dolorosa, São Miguel, São Bento Sagrado Coração de Jesus e São José. Os pesos deles são, respectivamente: 3.200, 2.250, 1.350, 900 e 600 kgs.

Os padrinhos dos sinos foram:

Washington Luís e sua esposa, Sophia de Barros Pereira de Sousa, que apadrinharam o Cantabona;

– Jorge Tibiriçá, presidente do Senado do Estado e sua esposa, Anna de Queiroz Telles Tibiriçá apadrinharam o Dolorosa;

–  O São Miguel foi apadrinhado por Albuquerque Lins e sua esposa Helena de Sousa Queiroz Lins;

– O São Bento ficou aos cuidados de três pessoas: Arthur Aboot, cônsul da Inglaterra na capital e sua esposa, além de Firmiano Pinto, prefeito de São Paulo;

– O Sagrado Coração de Jesus ficou com o W. Rupp, diretor do Banco Allemão e sua esposa e

– O São José ficou apadrinhado por Affonso D’Escragnolle Taunay, na época, diretor do Museu Paulista e Vitalina P. de Sousa Queiroz.

A cerimônia foi encerrada com um sarau dramático-musical.

Link de referência: http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/2836

https://globoplay.globo.com/v/8889106/