Durante o século XX o poder público de São Paulo investiu muito tempo e dinheiro à procura de um Paço que fosse capaz de abrigar a sede da prefeitura da cidade. Em 1986, quando o icônico Jânio Quadros assumiu a prefeitura pela segunda vez, ele foi o responsável por contratar ninguém menos do que Oscar Niemeyer para cumprir essa missão.
A ideia era que esse edifício ficasse na região da Marginal Tietê e, com o projeto, o local fosse todo refeito, reurbanizado e reestruturado. O projeto também incluiria um Centro Cívico que ficaria localizado entre a ponte Cruzeiro do Sul e o estádio do Canindé.
Obviamente que o grande arquiteto não trabalharia sozinho e, para realizar esse empreendimento, ele montou um grande time de profissionais. Entre os mais famosos estão: Hélio Penteado, Hélio Pasta, Cecília Scharlach, Haron Cohen, Walter Makhohl e Ruy Ohtake.
A escolha do carioca para realizar tamanho empreendimento foi tema de um grande debate por parte dos profissionais de arquitetura da época. Aconteceu, inclusive, a publicação de uma nota oficial do sindicato da categoria, que defendia a utilização da Emurb e da Sempla para a elaboração dos projetos e recriminava o processo de contratação por convite individual
O projeto final tinha a seguinte proposta: a desapropriação de 18 quilômetros ao longo do rio, em um trecho que compreende todos os bairros entre a Vila Anastácio e a Penha, além do desvio da marginal Tietê e a criação de um imenso jardim para deixar a várzea mais permeável evitando, assim, os efeitos das grandes enchentes que aterrorizam São Paulo até hoje.
Nos dez milhões de metros quadrados dessa área diversos equipamentos seriam instalados, incluindo espaços para lazer, dois setores residenciais, dois de escritórios, um centro cívico-administrativo e um espaço cultural. Para se ter uma ideia da dimensão do projeto, por si só, o Parque do Tietê, título pelo qual ficou conhecido o projeto, acrescentava 40% no total das áreas de parques públicos do Município de São Paulo.
Após a divulgação do projeto, o prefeito passou a receber, diariamente, representantes de associações, clubes, empresas que afirmavam que esse projeto prejudicaria seus negócios. Em julho de 86, a famosa revista Projeto, chegou a trazer dois textos que confrontavam opiniões. Um de Ubyrajara Gilioli, que era a favor do projeto, e o de Carlos Eduardo Dias Comas, contrário à iniciativa.
Todo o projeto foi estruturado e maquetes chegaram a ser apresentadas para Jânio. O prefeito assinou o decreto para desapropriar a área solicitada, mas acabou voltando atrás alegando que o poder público municipal não tinha condições de executar as obras propostas e o projeto acabou arquivado sem que nenhum item saísse do papel.
Na época, Niemeyer chegou a dizer que “A cirurgia urbanística necessária, a única que daria a São Paulo o pulmão verde que lhe falta. Um parque imenso com locais de esporte e lazer, clubes, restaurantes, habitações, escritórios, um Centro Cultural e o Centro Cívico. E, a reconciliação com o seu rio, num ambiente urbanizado e acolhedor. É claro que se trata de um empreendimento de vulto que aos mais tímidos nunca ocorreria.
Uma solução que obrigaria a demolições, desapropriações, etc. Problemas que julgamos menores diante da profunda e irrecusável transformação urbanística que vai constituir para esta cidade tão hermética, compacta e poluída”. O arquiteto chegou a publicar um livro sobre o assunto, intitulado “Parque do Tietê”. Para quem se interessar ainda mais pelo tema, recomendo a leitura da tese de Alexandre Santos sobre o tema.
Naquela época já sabíamos que seria impossível executar esse projeto em razão dos grandes investimentos, desgastes e ações judiciais. Impossível de ser realizado, mesmo a época. Só ganharam os projetistas que faturaram uma bela grana. A história se repetiu recentemente com o projeto Tietê no qual deveria estar pronto em 2014. E nada até agora. Ganharam novamente os projetistas! Uma vergonha desses políticos de araque!