A origem do bairro de Perdizes é uma das mais curiosas que já tivemos o prazer de pesquisar  aqui na SP In Foco. Tudo começa no meio do século XIX, mais especificamente no ano de 1850, quando Joaquim Alves Fidelis, vendedor de garapa, e Maria de Santa Rixa acabaram fixando residência próxima à região do Pacaembu.

Na época, como era de se esperar, haviam muitas árvores nativas na região e, em pouco tempo, o fundo do terreno do casal acabou abrigando a criação de diversos exemplares de perdiz, uma ave muito barulhenta.

Conhecido como “quintal das Perdizes” a região foi oficializada na planta da cidade de São Paulo no ano de 1897.  No final do século XIX e começo do século XX, regiões como a Lapa e a Barra Funda se desenvolviam rapidamente com a chegada de fábricas e linhas de trem, mas por outro lado, as várzeas e riachos de Perdizes ainda resistiam em receber as primeiras ruas.

A principal via da região, no começo, era a Tabor, uma homenagem a um monte bíblico, sendo nomeada Cardoso de Almeida anos depois graças a um deputado e chefe de polícia que vivia na região e era muito querido por todos.

No chamado Largo das Perdizes existiu a Capela de Santa Cruz que era palco de missas entre os anos de 1881 e 1902. Demolida, acabou dando lugar à Paróquia São Geraldo, aberta em 1914 com uma arquitetura provisória. A construção que existe hoje é de 1932 e, curiosamente, o Conde Francisco Matarazzo foi um dos maiores apoiadores e financiadores para que a obra fosse concluída.

Essa paróquia, inclusive, guarda um monumento único da história brasileira: o Sino Bronze Velho, que anunciou a proclamação da Independência aos moradores de São Paulo. Em entrevista à Veja, o pároco José Augusto Schramm Brasil, diz que:  “A doação ocorreu durante a reforma da Catedral da Sé, após uma procissão que foi até o Anhangabaú, em 1942”. Alguns anos depois, o largo ganhou o nome de Padre Péricles, primeiro pároco da capela, que hoje está sepultado sob o altar principal.

Os anos 40 marcaram o desenvolvimento da região. O bonde chegava a Perdizes e ligava o bairro à Praça do Correio. Outra linha ligava o largo das Perdizes e da Pompeia com a Barra Funda, facilitando a circulação de estudantes.

Um dos usuários dos bondes era o lendário goleiro Oberdan Cattani, que fez sucesso na meta palmeirense, tanto pelas suas defesas quanto pelas suas mãos gigantes. Ele chegou à cidade em 1941, oriundo de Sorocaba, para jogar no Palestra Itália, sendo campeão paulista em quatro ocasiões. Na região ainda não havia calçamento, nem sistema de água e esgoto.

O famoso goleiro chegou a dizer que reclamou pessoalmente com Adhemar de Barros, então governador do estado, sobre o problema do bairro. Ele só tomaria uma providência quando seu carro atolou em uma visita a Cattani. Algumas obras como, calçamento da Rua Desembargador do Vale e a canalização do córrego que desembocava na Pompeia foram realizadas graças a esse episódio.

Um dos pontos mais famosos de Perdizes, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), só chegaria à Rua Monte Alegre em 1949, no antigo prédio do Mosteiro de Santa Teresa, que era habitado por freiras carmelitas.

Rua Monte Alegre no começo dos anos 20: o abrigo das freiras se tornou a casa dos estudantes
Rua Monte Alegre no começo dos anos 20: o abrigo das freiras se tornou a casa dos estudantes

Os antigos quartos viraram salas de aula e, o terreno de 18.000 metros quadrados, abrigou o crescimento e desenvolvimento da tradicional instituição. Em uma entrevista, Jorge Eugênio Alves, antigo funcionário de recursos humanos da PUC, lembra como era morar na região em 1960: “A Avenida Sumaré terminava num pântano e tinha um ribeirão. Para cruzá-lo, as pessoas passavam por cima de tábuas de madeira”, diz. “Ao longo dela, havia dois campinhos de futebol de várzea, onde os moradores se encontravam nos fins de semana para partidas de solteiros contra casados.”

 

O parque da Água Branca no final da década de 40.
O parque da Água Branca no final da década de 40.

O Tuca, teatro da universidade, foi fundado em 1965, com a apresentação de  “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Mello Neto e música de Chico Buarque. Durante os anos mais duros da ditadura militar, entre 1968 e 1975, o teatro recebeu diversos espetáculos que desafiaram a censura, de músicos como Caetano Veloso e atores como Gianfrancesco Guarnieri. Quase cinco décadas depois, a agitação estudantil do Tuca segue convivendo com a placidez das árvores plantadas nas ruas do bairro.

Os Nomes Indígenas Nas Ruas do Bairro

Uma curiosidade do bairro das Perdizes fica por conta do elevado número de tribos indígenas que emprestam seus nomes às ruas da região. Essa “tradição” começou em 1897, quando a Turyassu apareceu pela primeira vez no mapa da cidade.  A partir de então, nomes indígenas se tornariam comuns na região.

Primeiro vieram as ruas Traipu, Itapicuru e Caetés, em 1916. Cinco anos depois, novas homenagens. Desta vez, às tribos indígenas: vieram as ruas Apiacás, Apinajés, Cayowaá, Caraíbas, Cotoxó, Iperoig, Tucuna e Cherentes.

Rua Caiubi no início dos anos 60
Rua Caiubi no início dos anos 60

Nos anos seguintes, novas ruas foram abertas, e outras palavras tupis foram incorporadas: Ambuás, Cuxiponés, Paracuê, Icoarana, Poconé e Mutuparana. Cada uma com seu significado, elas transformaram uma região pacata e pouco habitada em um dos maiores bairros de São Paulo. Há também homenagens a pessoas, no caso de Aimberê e Bartira, índios importantes na história do Brasil e no relacionamento com os portugueses.

Referências: http://vejasp.abril.com.br/materia/perdizes-historia

http://www.dialetico.com/historia_sp/historia_sp_62.pdf

16 Comments

  1. Moro na Rua Itapicuru e quando viemos para cá, bem perto da Rua Traipu, não tínhamos calçamento e quando meu pai começou as obras de nossa casa foi que conseguimos ligar a luz!
    Isto foi por volta de 1953.
    Minha avó já residia na Rua Caiuby, a uma quadra do bonde que descia a rua Cardoso de Almeida.

    1. Há um pequeno detalhe que muitos gostam de enaltecer: algumas ruas, como cuxiponés, cotoxó e outras, pertencem ao bairro da Vila Pompéia e não Perdizes.

  2. Em sua referência a PUC, onde estudei, entre os anos 70/74, emocionou-me a referência ao Sr. Jorge, homem bonissimo, amississimo de todos nós. Lembro-me de sua famosa, e por todos nós conhecida, paixão por corridas de cavalos. Esta nostálgica passsagem, passados quase cinquenta anos, só veio só me veio a lembrança com esta deliciosa matéria.

    1. Também conheço o sr. Jorge e mantenho amizade com seus filhos.
      Fiquei feliz ao mencionarem seu nome. Um “lenda viva” da PUC.

  3. Nasci na Turiaçu em 1944, segundo Sr. Biaggio meu vizinho na época de 60 com 80 anos a Turiaçu era uma estrada que ligava o interior com a capital e ao longo do trecho Germaine Burchard até Min.Godoi havia uma cerca de arame farpado pois do outro lado era uma fazenda que abrangia a Água Branca e na hoje Av.Sumare erguiam sempre um circo mambembe cujo o apresentador de cartola ,casaca vermelha e calça branca e o não menos conhecido Silvio Santos…isso eu vi pessoalmente

  4. Morei alguns anos na Rua Cayowaá próximo ao Palestra, pensa em um bairro “top” ! Melhor que o Jardins na minha opinião. Meu sonho de consumo voltar a morar em Perdizes!

  5. Morei na Rua Apinagés, não lembro o n• e estudei no Grupo Miss Braune, fiz o 1º ano primário em 1952. Acho que é na Rua Turiassú. Tenho saudades daquela época.

  6. meus avos moravam na rua iperoig 34 antonio borazo e aurora tavellini borazo ou maximiliano borazo , alguem conhece ou conheceu. POÍS ELES tiveram que mudar de lá , porque houve desapropriaçao para passar a avenida sumare. aguardo contato email . ameliaborazo1@gmail.com
    .

  7. Estudei na PUC-SP. Muitas lembranças. No dia da nossa formatura, em Psico, alguns colegas distribuíam panfletos na plateia sobre o desemprego dos Psicólogos. Morei em SP, mas mudei para o interior em 1976 e lá fiquei até 1995. Quando voltei, me estabeleci em Perdizes, na Apinagés. O bairro tem um ar provinciano. Todo mundo se conhece, nas padarias do bairro, nas bancas de jornal, no comércio do bairro. Tem-se a sensação de continuar a morar no interior. Amo o bairro!

  8. Bom dia.

    Meu nome é Esmerinda.
    Estou montando uma árvore genealógica.
    Ontem encontrei os dados de uma tia avó portuguesa, que veio para o Brasil em outubro de 1962, ano que eu nasci.
    Em seu registro de estrangeiro , deu como endereço a Rua Cayowaa 577 , que é hoje, um condomínio residencial.
    Pergunta: alguém por acaso, tem fotos das décadas de 50/60 desta rua?
    Ficarei muito agradecida se alguém tiver me mandar ou postar.
    Atenciosamente
    Esmerinda Gomes

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