O Primeiro Urbanista do País:  O Legado de Augusto Carlos da Silva Telles

Nascido na cidade de São Paulo, em 1851, Augusto Carlos era filho de João Carlos da Silva Telles e Fortunata Rangel da Silva Telles. Sua graduação foi feita, inicialmente, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas ele acabou trocando de curso, migrando para a engenharia, onde se formou em 1878 nos cursos de engenharia civil e mecânica pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

Após se formar, ele permaneceu na instituição como professor e, paralelamente, trabalhou em uma invenção própria: uma máquina de secar café. Ao concluir a máquina e obter seus direitos, transfere-se para a Europa e lá complementa o mecanismo industrialmente e comercialmente com o nome de Taunay-Telles.

Além de lecionar no Rio, Augusto também foi catedrático na Escola Politécnica de São Paulo, engenheiro na cidade de Santos e diretor de obras na então capital federal entre os anos de 1897 e 1898.

Entre os anos de 1905 e 1911, Telles foi vereador na cidade de São Paulo onde se dedicou ao melhoramento urbanístico do centro da cidade e foi o autor do projeto que solicitava várias obras no entorno do Vale do Anhangabaú.

Esse projeto é descrito em minúcias no livro “Os Melhoramentos de São Paulo”, de 1906 escrito pelo próprio Augusto Teles. Tanto o projeto como o livro foram amplamente debatidos até a execução do Plano Bouvard em 1911 e finalmente executado entre 1911 e 1917.

Além desse cargo no legislativo, Telles ainda atuou em outras frentes da vida pública, como na presidência da Sociedade Paulista de Agricultura e, no mesmo cargo, na Associação Comercial de São Paulo.

Na ACSP assumiu em 25 de janeiro de 1906 e quatro meses depois, em 27 de maio, solicitou o seu afastamento, por divergências internas decorrentes de uma greve deflagrada pelos operários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, uma das primeiras greves do estado e que estava prejudicando todo o comércio local. Foi substituído por João Zeferino Ferreira Veloso.

Esse notável paulista acabaria falecendo em 14 de novembro de 1923, aos 72 anos e sua família ainda seguiria com grandes representantes na vida pública. Seu filho Goffredo Teixeira da Silva Telles foi vereador e prefeito de São Paulo e seu neto Goffredo da Silva Telles Júnior escreveu, em 1977, a Carta aos brasileiros, manifesto em que juristas destacados condenavam o regime de exceção e apelavam pelo estado de direito.

A “Rua Silva Teles”, localizada no Brás, é uma homenagem a biografia do engenheiro e empresário Augusto Carlos da Silva Telles.

O Primeiro Urbanista E Sua Contribuição Para São Paulo

Como citamos anteriormente, Augusto Carlos da Silva Telles foi vereador pela cidade de São Paulo entre os anos de 1905 e 1914. Durante esse período, seu trabalho foi destacado pelos temas urbanísticos abordados, assunto que não era muito discutido dentro do poder público da cidade.

Apesar de não usarem a palavra “urbanista” na época, Telles é considerado o primeiro do país devido à sua dedicação ao tema. Segundo uma bela matéria publicada pela revista Apartes, da Câmara Municipal de São Paulo, em 28 de julho de 1906, Telles defendeu que a Light, responsável pelo abastecimento elétrico da cidade, substituísse os fios “aéreos”, por estruturas subterrâneas.

Mais do que isso, Telles ainda alertava sobre o crescimento da cidade e a abertura de diversas ruas. Em um de seus discursos na CMSP, ele declarou que:  “Deve-se atender, sempre, tanto quanto possível, que uma rua que se pretende abrir represente a satisfação de uma necessidade pública: a necessidade natural de expansão da cidade, um melhoramento na circulação ou mesmo um embelezamento”.

A Contribuição Para o Anhangabaú

É difícil imaginar que o Vale do Anhangabaú, área muito movimentada nos dias de hoje, já foi um córrego (córrego do Anhangabaú) e também recebia os esgotos dos lotes das casas que davam suas frentes para as duas encostas, sentido Líbero Badaró. Mas em 1906 esse era um cenário comum.

Pensando em melhorar essa situação, Silva Telles publica em 1907 um livro chamado “Os Melhoramentos de São Paulo”. Esse trabalho consiste em uma grande descrição do crescimento da cidade e alerta a prefeitura de que seria indispensável a concepção de obras que disciplinassem  o crescimento e interviessem na área central de SP.

Esse pequeno trecho resumido acima é a parte mais importante de seu estudo, que previa intervenções na colina entre os Vales do Anhangabaú e o Tamanduateí. Em sua publicação, a circulação viária já era o maior desafio e, segundo Telles, seriam necessárias intervenções imediatas.

Entre essas obras, ele sugeria o alargamento de alguns cruzamentos onde o tráfego fosse maior e, sugeriu também, a transformação da Líbero Badaró, situada nos fundos da colina central e por isso abrigando inúmeros cortiços em uma larga avenida.

Segundo o pioneiro urbanista: “Daríamos ao centro da cidade um verdadeiro desafogo , dotariamos São Paulo de uma bella avenida central , dominando esse valle sob os dois viaductos , hoje tão mal aproveitado e que podera transformar-se em um sítio encantador”.

Pouco tempo após esse estudo e esse discurso, Silva Telles apresenta à Câmara Municipal uma nova versão do projeto que se torna o motivo para a serie de intervenções no Vale do Anhangabaú que só terminaria com a proposta conciliadora do consultor francês Joseph Antoine Bouvard em 1912.

Fonte: http://www.urbanismobr.org/bd/documentos.php?id=2299

http://www.camara.sp.gov.br/apartes/revista-apartes/numero-22/vale-da-discordia/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *