Um dos maiores homens da história da cidade de São Paulo, o famosíssimo arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, nasceu na capital do estado, no dia 8 de dezembro de 1851, sendo filho de dois campineiros: Ana Carolina Azevedo e do Major João Martins Azevedo.
Diz a história que sua mãe, ficou sabendo que sua irmã, que vivia em São Paulo, estava doente e, mesmo grávida, fez a dura viagem de Campinas à São Paulo para ajudar no que fosse possível. Assim, no final de 51, Francisco nasceria para remodelar a cidade de São Paulo.
Apesar de paulistano, Ramos de Azevedo sempre se considerou um campineiro. Sua infância e juventude foram passadas em Campinas e, só deixou sua amada cidade, quando foi obrigado a estudar na Escola de Artilharia Militar do Rio de Janeiro, ofício que abandonaria após o final da terrível Guerra do Paraguai.
Após cumprir seu dever com a pátria, Ramos de Azevedo decidiu que era o momento de se especializar e foi para a École Speciale du Génie Civil et des Arts e Manufactures Annescée, da Universidade de Gante, na Bélgica. O prodígio brasileiro se especializaria em engenharia e adquiriria grandes conhecimentos de arquitetura. Seu talento era tão grande que, em 1878, teve alguns desenhos de sua autoria expostos na Exposição Universal de Paris. Após se graduar, em 1886, voltou ao Brasil com todas as condecorações da universidade e com grandes elogios do diretor daquela instituição.
O Começo De Uma Grande Carreira E Sua Atenção Com A Educação dos Jovens
Ao retornar à sua terra natal, Ramos de Azevedo foi efusivamente recebido pelo Visconde de Parnaíba, então presidente da Província de São Paulo, e um grande incentivador dos conhecimentos daquele jovem engenheiro-arquiteto. Pensando em mudar completamente a cidade de São Paulo, o Visconde ofereceu à Ramos o cargo de chefe da Carteira Imobiliária do Banco da União. Assim, surgia a oportunidade de trabalhar em um grande conjunto de iniciativas que revolucionariam a cidade.
Antes de prosseguir com sua grandiosa história, vale fazer uma ressalva sobre sua longa carreira profissional. Apesar de dedicar grandes esforços à engenharia e arquitetura de São Paulo, Ramos de Azevedo ainda era um conceituado mestre da Escola Politécnica, que havia sido fundada por Francisco Paula Souza há alguns anos. Ali, ele demonstraria outro talento: o de lecionar. Ramos de Azevedo foi professor, vice-diretor e, também, diretor da instituição.
O consagrado engenheiro ocupou o posto de diretor na cadeira de Construções Civis e Higiene das Habitações. Ele era considerado extremamente disciplinador e perfeccionista, mas sempre encontrava um tempo para se encontrar e conversar com seus contemporâneos.
Vale dar um destaque para um de seus alunos, Luiz Cintra do Prado, que chegou a dizer que: ao entrarem na sala de aula, os alunos encontravam, desenhados a giz no quadro negro, as principais figuras que iriam ilustrar a preleção do mestre (…); ao fim da lição o professor Ramos de Azevedo deixava com um dos alunos algumas laudas de papel onde ele de antemão havia escrito um resumo da matéria que ia explanar naquele dia.” (SANTOS, Maria Cecília Loschiavo dos. Entrevista com o professor Luiz Cintra do Prado, 1981).
Como vice-diretor da Poli, entre os anos de 1900 e 1917, ele acabou assumindo a direção da escola quando o ilustre fundador daquela instituição, Antônio Francisco de Paula Sousa, faleceu. Ramos de Azevedo ficaria na direção da universidade entre 1917 e 1921. Seus principais objetivos, enquanto diretor, sempre foi o de formar engenheiros que pudessem auxiliar no progresso do país, de uma maneira geral. Voltando à vida profissional do engenheiro, Ramos de Azevedo realizou um dos grandes sonhos de sua vida ao fundar o próprio escritório de engenharia e arquitetura. Com sua marca, ele revolucionaria as obras públicas de São Paulo.
Algumas das grandes construções da nossa cidade, são de autoria do seu escritório técnico e, outras, são de sua própria autoria. Algumas de suas obras são: o Prédio do Tesouro (1886-1891); o Quartel da Polícia (1888); a Secretaria de Agricultura (1896), a Escola Prudente de Moraes (1893-95); a Escola Politécnica (1895); o Liceu de Artes e Ofícios (1897-1900) e o Theatro Municipal (1903-1911), o Portal do Cemitério da Consolação (1902), o Instituto Pasteur (1903), o Grupo Escolar Rodrigues Alves (1919), entre outros. Mesmo com esse fluxo intenso de trabalho, Ramos de Azevedo ainda arrumava tempo para viajar à Europa a fim de se atualizar e ampliar seus conhecimentos técnicos.
A Curta Carreira Política E Outras Conquistas
Ramos de Azevedo também tentou seguir uma carreira política. Contudo, alguns problemas minaram essa ideia. A trajetória começa em 1904, quando foi eleito senador estadual, função respeitada naqueles anos. Contudo, ele ficaria naquele cargo por apenas um ano e meio, saindo após alguns conflitos internos com seu partido, principalmente, por discordar da política protecionista em relação ao café. Outro motivo para que ele desistisse do cargo, foi a impossibilidade de arquitetar para o governo, enquanto tivesse esse poder.
Após sua repentina saída do poder público, Ramos de Azevedo voltou às suas atividades como engenheiro e dono de um escritório do segmento. Ele foi o responsável, junto com sua equipe, pela atuação na Companhia Mogiana de Estrada de Ferro; foi diretor do Liceu de Artes e Ofícios; presidente do Instituto de Engenharia; construiu o Grupo Escolar do Brás e o conjunto de Itapetininga composto por três edifícios: a Escola Modelo Preliminar, a Escola Modelo Complementar e a Escola Normal.
Em seu conceituado escritório, trabalharam nomes como: Alexandre Albuquerque e Luiz Ignácio Romeiro de Anhaia Mello, os quais, por sua vez, também viriam a fazer parte do corpo da Escola Politécnica de São Paulo e, também, da vida pública da cidade de São Paulo.
Algumas Curiosidades e As Justas Homenagens
Ramos de Azevedo foi um apaixonado por sua profissão. Sua dedicação ao ofício era tão grande que, não era incomum que ele investisse seu próprio dinheiro em novas tecnologias, como no aparelhamento do Laboratório Tecnológico, atual IPT.
Seus traços e características eram versáteis de acordo com seus clientes. Os edifícios públicos de sua autoria contavam com traços de funcionalidade e classicismo. As casas, por sua vez, possuíam figuras mais suaves e um estilo mais livre. Em seus momentos de folga, Azevedo gostava de ler e desenhar. Além disso, Ramos de Azevedo era um marido exemplar, havendo diversos registros de seus “mimos” á esposa, Eugenia.
Por sua gigantesca contribuição à capital paulista, Ramos de Azevedo recebeu diversas homenagens. Entre os anos de 1914 e 1915, ele teve seu nome incluso no Livro de Ouro do Estado de São Paulo e o título de sócio do Grêmio Politécnico. Em 1928, ele recebeu um retrato e um discurso, feito por Willian Steverson, onde era apresentado como um dos responsáveis pelo progresso de São Paulo.
Em 25 de janeiro de 1934, outra homenagem: o Monumento Ramos de Azevedo foi inaugurado na Avenida Tiradentes, e posteriormente transferido para a Cidade Universitária, onde hoje se encontra em destaque próximo a atual sede da Escola Politécnica e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP. Ramos de Azevedo seguiria para o repouso eterno no dia 1 de junho de 1928, deixando para trás um imenso legado de amor, comprometimento e contribuição com a cidade de São Paulo.