Para quem gosta de documentação antiga de São Paulo, com dados precisos e informações praticamente esquecidas, essa obra disponível nos acervos públicos online é um prato cheio. O livro escrito por Antonio Francisco Bandeira Junior faz uma compilação inédita sobre a indústria paulista. O autor do prefácio da obra, Toledo Piza, que era “director da Repartição de Estatistica do Estado de São Paulo”, chega a afirmar que este é “o estudo mais completo, mais comprehensivo, que até hoje se tem feito desse assumpto entre nós”. A partir de um recenseamento geral das indústrias paulistas, o Autor faz uma listagem de 145 empreendimentos, indicando para cada um, entre outras informações, sua data de fundação, o número de máquinas e de funcionários, se brasileiros ou estrangeiros (incluindo crianças) e a produção realizada no ano.

É interessante observar que, já no começo do século XX, havia uma grande preocupação com a relação indústria – profissionais autônomos, por assim dizer. O trabalho de Bandeira possui, em sua introdução (na página 9), a seguinte afirmação (na grafia da época): “E incalculavel o numero de tendas de sapatarias, marcenarias, fabricas de massas, de graxa, de oleos, de tintas de escrever, fundições, tinturarias, fabricas de calçados, manufacturas de roupas e chapéos, que funcionam em estalagens, em fundos de armazens, em resumo, em logares que o publico não vê”. E continua:

“Essas industrias assim dispersas, si por um lado demonstram a actividade e a intelligencia dos que as exercem, por outro prejudicam ao grande industrial que paga impostos, alugueis e outras despesas elevadas, não podendo competir em preços com o  industrial avulso, que trabalhando sob sua responsabilidade e só para sua manutenção, preoccupa-se apenas com a apparencia do producto, descurando a qualidade, com tanto que pelo diminuto obtenha facil collocação”.

Há, também, uma crítica à falta de propaganda e divulgação dos trabalhos das indústrias e comércios, refletindo na dificuldade em mapear a indústria paulista. A crítica aparece dessa forma (texto também copiado na grafia da época): “E inacreditavel a dificuldade com que luctamos para saber quaes as fabricas existentes em cada localidade. Ora, si nós encontramos esse obstaculo, procurando indagar e conhecer, comprehende-se o grau de ignorancia dos indifferentes ao assumpto. Sem propaganda, sem divulgação, não dispertando a curiosidade publica, não alargarão os industriaes o circulo de suas relações”. É quase uma indicação a investir em propaganda para melhorar o networking!

Por fim e para não alongar demais, o autor chega a uma conclusão bastante inaceitável, se o estudo fosse dos dias de hoje: “E consideravel o numero de menores, a contar de 5 annos, que se occupam em serviços fabris, percebendo salarios que começam por duzentos réis diarios; mas, mais do que isso, tem esses menores a vantagem, de adquirir habitos de trabalho, aprrendendo um officio que lhes garante o futuro, ao passo que não augmentam a phalange dos menores vagabundos que infestam esta Cidade”.

Para o autor, existiam na época mais de 50 mil operários no estado, “entre homens, mulheres e creanças, quasi em sua totalidade italianos”. Vale o destaque que, o exemplar que está disponível para consulta, que pertenceu ao engenheiro civil Mario Freire e sua versão possui 249 páginas.

Listei abaixo as maiores curiosidades que encontrei nesse volume como, por exemplo, a primeira fábrica de macarrão da cidade que, infelizmente, não encontrei mais referências e nem documentos relacionadas a ela. Mas a pesquisa continua e, com certeza, encontraremos e traremos para vocês em algum momento. Divirtam-se e aproveitem esse lindo material!

Um breve descritivo da cerveja Antarctica Paulista que, até então, era a mais famosa e tomada de São Paulo

A primeira fábrica de massas de São Paulo

Referênciahttp://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=LIVROSSP&PagFis=23083

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