A construção do Theatro Municipal de São Paulo, assim como a concepção do Mercadão, tem tudo a ver com a influência das tendências arquitetônicas e culturais da Europa no Brasil. No começo do século XX, a população brasileira passou por um intenso processo de reestruturação de seu modo de vida. A grande maioria das cidades, em especial a capital federal, Rio de Janeiro, foram remodeladas segundo o padrão europeu da época.
É desse período as expressões como “O Rio civiliza-se”, muito utilizadas após a reestruturação da Avenida Central do Rio de Janeiro. Outro exemplo da influência da “Belle Époque” foi o carnaval, onde figuras como os índios e os negros foram quase todos banidos. Em seus lugares surgiam as fantasias e máscaras, representando, em grande parte, personagens europeus como a Colombina, o Pierrô e o Arlequim.
Aqui vale uma pequena curiosidade, a chamada Belle Époque foi um movimento onde passou Realismo, Impressionismo, o Simbolismo, o Pontilhismo e a Art Nouveau. Como não poderia deixar de ser, esse movimento teve início na França, nos anos 1880, e teve seu declínio em 1914, com o começo da Primeira Guerra Mundial.
É nesse universo que, mesmo um pouco atrasados com relação ao movimento artístico, o Brasil começava a se modificar. A cidade de São Paulo, por exemplo, queria um teatro que estivesse a altura de suas necessidades. Que fosse um belo palco para grandes apresentações à elite paulistana que vivia no centro.
A cidade, até então, estava sem nenhum palco para as grandes apresentações, já que o Teatro São José, acabara sendo consumido por um terrível incêndio 15 de fevereiro de 1898. Entendendo a necessidade da metrópole, a Câmara Municipal resolveu liberar alguns recursos para que a obra fosse consolidada e, em 22 de fevereiro do mesmo ano, foi aberta um edital de concorrência para que um novo teatro fosse erguido.
A Escolha Do Arquiteto E A Inauguração do Theatro
Na época da construção, São Paulo vivia sob o governo municipal de Antônio da Silva Prado, o primeiro prefeito da nossa cidade. Para dar início aos projetos do teatro, foi convocado o famosíssimo arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo que, ao lado dos italianos Cláudio Rossi e Domiziano Rossi, tiveram a missão de transformar o sonho da população em realidade. A missão não seria fácil, já que a população queria algo parecido com as grandes casas de espetáculo da Europa.
Segundo o edital publicado no Estado de S. Paulo, deveriam constar no projeto “café, charutaria e restaurante de primeira ordem”. Além disso, o documento previa isenção de impostos sobre os espetáculos apresentados num prazo de 50 anos, entre outros benefícios concedidos aos administradores do futuro empreendimento.
Ao mesmo tempo em que Ramos de Azevedo discutia com os políticos os desenhos possíveis para a obra, outra discussão era bastante recorrente: onde instalar o teatro?
Vários lugares foram estudados, como a Praça João Mendes atrás da Catedral da Sé, a Praça da República e até o Largo São Francisco. Mas o terreno escolhido foi o Morro do Chá, que havia sido desapropriado pela Câmara Municipal em 1903.
As obras, então, tiveram início em 1903, mas só seriam concluídas oito anos depois. O estilo arquitetônico mais “na moda” na Europa, na época, era o eclético. Os arquitetos responsáveis pelo Theatro Municipal misturaram o Renascimento com o Barroco e a Art Nouveau.
A inauguração oficial do Theatro é datada de 12 de setembro de 1911 e, como na época não existiam os arranha-céus do centro, como o Sampaio Moreira e o Martinelli, que seriam inaugurados na década seguinte, nada atrapalhava a visão do Municipal. O primeiro espetáculo do Theatro foi a leitura de um trecho da obra de Carlos Gomes, “O Guarani”, depois houve a apresentação da ópera de Ambroise Thomas, “Hamlet”, com Titta Ruffo no papel principal.
Os espetáculos predominantes, inclusive, eram todos de origem europeia. Alguns intelectuais brasileiros, entretanto, não se cansavam de criticar o modo como era conduzido a escolha dos espetáculos do Theatro. O principal motivo alegado para reclamações era que muitos brasileiros não tinham espaço para realizar apresentações de seus trabalhos. Contudo, a situação mudou com a Semana de Arte Moderna de 1922, um movimento que teve como característica fundamental valorizar o Brasil e tudo que era produzido por brasileiros.
Intelectuais como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos entre outros, foram os principais protagonistas desse grande movimento que valorizou nossas criações e conquistas.
Desde sua inauguração, o Theatro passou por duas reformas: a primeira em 1954 onde foram criados novos pavimentos para os camarins, reduzindo os camarotes e instalando um órgão e a segunda reforma, que durou de 1986 a 1991, quando todo o prédio foi restaurado e foram instalados equipamentos e estruturas mais modernas.
Antes de seu centenário, em 12 de setembro de 2011, o Municipal de São Paulo passou por uma última reforma em que todo edifício foi restaurado: os vitrais, a fachada, o palco foi reestruturado com os mais modernos equipamentos cênicos mecânicos.
Atualmente, o Municipal de São Paulo é composto pela Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experimental de Repertório, Balé da Cidade de São Paulo, Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, Coral Lírico, Coral Paulistano e as Escolas de Dança e de Música de São Paulo e pelo Museu do Theatro.
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